segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Eu tive um sonho



           

           Eu tive um sonho. Sonhei que a nossa História recente nos deixaria exemplos que não iriam ser repetidos. Sonhei que não haveria mais ditadores, tortura e assassinatos massivos de inocentes. Sonhei que seria impossível morrerem milhares de fugitivos nas águas do Mediterrâneo. Sonhei que o mesmo Homem que conquistou o Espaço seria capaz de curar o cancro e a Sida. Sonhei que, num futuro a que se chamaria a Era das Comunicações, as pessoas conhecessem os vizinhos da porta ao lado.
            Eu tive um sonho. Sonhei que, depois de décadas de miséria, exploração, obscurantismo, prisões e guerras em África, jamais voltaria a haver crianças com fome, bairros de lata, trabalhadores explorados, desempregados, presos injustamente, serviços secretos e guerras noutras áfricas. Sonhei que todas as crianças tivessem uma família que as amasse e respeitasse e que todas as famílias dessas crianças tivessem dinheiro para comprarem os livros escolares aos seus filhos e netos e que o Estado não fizesse letra morta do que está instituído – um ensino livre e gratuito para todos.
            Eu tive um sonho. Sonhei que, no meu país, todos os homens e mulheres seriam tratados de igual forma perante a lei e que todos teriam de responder pelos seus actos, independentemente das suas posses e influências.
            Eu tive um sonho. Sonhei que o meu país seria sempre conduzido por políticos responsáveis, sérios e dignos da confiança de todos nós e que a Justiça fosse uma segurança e não uma ameaça.
            Eu tive um sonho. Sonhei que, um dia, os campos à volta de Vila Nova, outrora cenários de sofrimento e exploração, se transformariam em espaços fecundos onde proprietários e trabalhadores unidos trabalhavam a terra e a tornavam próspera, livre e prenhe de vida. Sonhei que os comerciantes desta terra tivessem capacidade para viver com dignidade dos seus negócios, apesar da implantação das grandes superfícies comerciais e da fuga de clientes para o litoral.
            Eu tive um sonho. Sonhei que, um dia, todos os que procurassem emprego seriam aceites  de forma justa e isenta, independentemente da sua cor política, da origem familiar, da sua raça ou religião, ou mesmo do seu passado, e que o seu carácter e capacidade fossem bens inalienáveis e os primeiros requisitos a ter em linha de conta para o cumprimento das suas funções.
            Eu tive um sonho. Sonhei que um dia, os anos de eleições autárquicas não seriam apenas tempo para inaugurações apressadas, visitas às instituições de Vila Nova pelos vários partidos políticos, com promessas que nem sempre são cumpridas, e operações de charme com muitas fotos, sorrisos e abraços.       
            Sonhei que, um dia, os que governam Vila Nova e o concelho acabariam, aos poucos, por largar as cores dos seus partidos, de forma a servirem, completamente livres e em equipa, o povo que os elegeu, de modo a salvaguardarem o bem-estar e a felicidade de todos vilanovenses.  Sem sentirem as pressões dos compromissos partidários, das disciplinas de voto, dos segredos, das vaidades pessoais, dos preconceitos e dos golpes palacianos.
            Eu tive  um sonho. Sonhei que os meus filhos e todos os filhos da minha terra teriam a oportunidade de ter um futuro em Vila Nova, a terra que os viu nascer e crescer, com empregos estáveis e duradouros, para poderem fixar aqui a sua vida e a vida dos nossos netos. Sonhei, também, que seria possível atrair empresas, indústrias, investidores para esta terra de gente boa e estrategicamente localizada.
            Eu tive um sonho. Sonhei que um dia todos seríamos livres de expressar as nossas opiniões, independentemente da hora e do momento, sem pressões nem medos, nem constrangimentos de qualquer espécie. Sonhei, por fim, que as críticas construtivas seriam aceites de peito aberto e utilizadas para melhorar, dia após dia, a dedicação de todos nós ao bem público e a Vila Nova.

            O sonho de Martin Luther King continua por cumprir e ele pagou com a vida a sua ousadia. O meu continua vivo e cheio de esperança.
            Eu tive um sonho.
            Eu tenho um sonho.


In "O Montemorense", Setembro de 2016

3 comentários:

Anónimo disse...

Esse sonho será uma realidade quando o conceito do trabalho/capital estiverem unidos para a felicidade total de toda a humanidade independentemente de raças e credos. Até lá, só começando do ZERO pois a ganância é o apetite maior e tudo atropela.

Júlio M. Jorge disse...

Eles não sabem que o sonho...

José de Matos Júnior disse...

Amigo João Luís,
o seu sonho é lindo, comovente e não pode nunca morrer; com humildade, deixe-me partilhá-lo, não só para mim como para os meus 4 netos; é uma felicidade eles puderem ler e reflectir e abraçar um texto cheio de humanidade.
Um abraço.
José de Matos Júnior

Distraídos crónicos...


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