terça-feira, 21 de março de 2017

Alface e a fineza dos livros


       


          Também não entendo por que motivo os alunos andam a transportar diariamente vários quilos de livros para a escola, se alguns deles nem sequer chegam a ser abertos no decorrer das aulas. Gastam-se centenas de euros (eu cheguei a despender, cada Setembro, 600 euros em livros e em materiais escolares no tempo em que os meus três filhos eram alunos) para transformar as crianças em carregadoras de saberes profundos sem, por vezes, fazerem ideia do que andam a transportar. O problema é que não é responsabilidade das escolas e dos professores dar a volta à questão. Há interesses extraordinários metidos na coisa que continuarão a fazer com que as editoras e o ministério, os autores de manuais e as editoras, o ministério e os autores de manuais queiram manter esta estrutura que vai acabar por esgotar as já parcas bolsas da maioria dos pais que, ainda por cima, estão assim a colaborar para que os filhos possam vir a ter problemas de saúde ao nível da coluna vertebral… que é onde assenta o crânio (que tem dentro um cérebro.)
           Alface, pela espessura dos livros que nos deixou, havia de concordar comigo. Tamanho não é sinónimo de qualidade e este escritor montemorense, falecido há 10 anos e homenageado no passado dia 8 de Março nos Paços do Concelho da sua terra, conseguiu provar com os seus textos narrativos que basta uma única frase, escrita com saber e inteligência, como só ele sabia, para pesar mais do que os cinco ou seis manuais escolares que os miúdos levam hoje, diariamente, para a escola.
      Tenho a certeza de que para este escultor da palavra, mordaz, satírico, contundente e literariamente livre, bastaria uma leve sebenta, dobrada ao meio e enfiada no bolso de trás das calças para poder ser o mais sábio dos alunos e ser hoje o mais descontraído dos mestres.  

João Luís Nabo

In "O Montemorense", Março de 2017

quinta-feira, 16 de março de 2017

TPCs? Nem sempre, obrigado








Todos os meses são bons para discutir o tema que se tem avolumado em cima das secretárias dos professores e sobre as mesas de trabalho na casa de cada aluno. Os trabalhos de casa andam na ordem do dia. Se concordo com os tão célebres e badalados TPC’s? Concordaria se prevalecesse o bom senso e houvesse uma articulação entre os docentes, de modo a não prolongarem os longos dias que os alunos passam na escola em mais duas, três ou quatro horas de ocupação intelectual, em casa, envolvendo pais, tios, avós e explicadores. 

É por isso que eu, no exercício da minha profissão, muito raramente (quase nunca) mando trabalhos para casa. Porquê? Porque os alunos têm de gozar momentos de pausa e descontracção, quer sozinhos, quer com os amigos e com a família e porque nunca sei quem é que vou ter de avaliar nestas circunstâncias: se o aluno, se o pai, se a mãe, se ambos, se a avó ou até mesmo se o primo afastado, poeta de longo curso, acabadinho de regressar de Espanha, depois de umas férias merecidas em Benidorm.

João Luís Nabo  (In "O Montemorense", Março de 2017)

quarta-feira, 15 de março de 2017

Ai, Março, Março!




          O mês de Março é, aparentemente, um mês morto. É assim uma espécie de “toma lá calma e não te enerves, que isto há-de passar”, um mês de fazer favor que nos deixa mergulhados numa espera e num ansiar por outros dias com mais luz. Março, outrora dedicado ao deus romano da guerra e da agricultura, é hoje apenas o terceiro mês deste calendário que nos obriga a um intervalo entre a noite e o dia, entre a sombra e a luz, que nos arrasta nestas horas que não são invernosas nem primaveris, num limbo demasiado longo onde as almas aguardam, nem sempre serenamente, a libertação.
Essa virá com os dias que se avizinham, uns de Paixão e Morte, outros de Ressurreição e Esperança, outros sem coisa nenhuma que se pareça, mas, ainda assim, cumpridores do calendário dos homens e da natureza. Poupa-se luz, poupa-se gás, poupa-se a alma e o pensamento e os psiquiatras ficam mais libertos para irem à pesca. É por isso que gosto muito mais do que vem depois.


João Luís Nabo
In "O Montemorense", Março, 2017

Distraídos crónicos...


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