quarta-feira, 20 de março de 2013

PORTUGAL FALIU


 
No dia em que os indignados que ganham 70 mil de reforma por mês davam uma conferência de imprensa para todo o país (um ultraje só possível de igualar às prisões e à tortura durante a longa noite de 48 anos, patrocinada pelo ditador de Santa Comba), tocaram à campainha da minha casa. Fui abrir. À minha frente, um jovem com cerca de trinta anos, de olhos claros, barba de três dias, cabelo puxado para trás, roupa a necessitar de lavagem urgente. Perguntei-lhe ao que vinha. Pediu-me desculpa, que não queria incomodar e que só tinha tocado por emergente necessidade. O seu discurso era cuidado, pausado, palavras bem articuladas, como se estivesse a… dar uma aula. Reiterou o pedido de desculpas e disse-me, com os olhos em água, que pedir esmola era a única forma honesta que tinha encontrado, desde há um ano, para poder sobreviver. Que, a seguir, iria tocar às campainhas dos meus vizinhos e bater às portas dos vizinhos dos meus vizinhos. Estivemos alguns minutos a conversar. Aquele rosto, a mão esquerda a apertar a direita, a voz bem timbrada, a vergonha disfarçada pela frontalidade, levou-me, ainda que timidamente, a fazer perguntas. Das perguntas a uma pequena nota que lhe permitisse “comer uma bucha”, foi um pequeno passo. Desta vez fui eu que lhe pedi desculpa por não poder dar mais. Acenou-me com um sorriso e meteu-se à estrada em direcção a outras portas.

Era de Sintra, este professor, actor, bailarino e coreógrafo, licenciado em Estudos Teatrais pela Universidade de Évora e que tinha sido despedido da sua escola havia um ano. Eu, que nunca tinha experimentado o sentimento de ódio na minha vida, naquele momento odiei todos os que, ganhando 70 mil euros de reforma, vinham indignar-se perante o país como se andassem a pedir esmola. Não fosse este um espaço de gente educada e preocupada com o rigor das palavras e das acções, e o meu desabafo não terminaria sem ter de mandar aqueles idiotas da conferência de imprensa a um sítio bem específico onde eles não iriam. E daí… não sei. Se eu lhes acenasse com uma notazinha correspondente mais ou menos ao ordenado mínimo nacional… acredito que fariam fila!

 

terça-feira, 19 de março de 2013

Celestino António

 
 
 A 17 de Março de 2002, partia o Tininho. O Celestino António. Sapateiro, poeta, lutador e… Baixo do Coral de S. Domingos durante mais de uma dúzia de anos. Apeteceu-me vê-lo de perto. Passei por algumas fotos mais antigas dos nossos concert...os e dei com esta. Tirada na Igreja da Misericórdia, quando o público aplaudia, enternecido e entusiasmado, o Celestino, depois de ter interpretado magistralmente “ A Procissão” do António Lopes Ribeiro.
Deixaria o Coral, e a Vida, menos de um ano depois. Mas a voz dele vai andar sempre, algures, entre a Rua do Chamorro e a Igreja da Misericórdia. Por vezes, nos ensaios, invocamos a sua memória, os seus ditos, o seu exemplo. Porque temos saudades.
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quarta-feira, 13 de março de 2013

Boa sorte, Francisco!


 
A demissão de Bento XVI foi o sinal mais visível da crise de identidade que leva a Igreja Católica a viver agora a fase mais conturbada da sua existência na era moderna. Quem conhece a história da Igreja e, em particular, as lutas pelo poder Temporal, protagonizadas por Papas e candidatos a Papa, não encontra motivos para grande admiração. Lutas pelo poder, golpes palacianos, escândalos, quantos deles estrategicamente abafados, sempre os houve. Afinal, os misteriosos habitantes do Vaticano são homens, ainda que escondam os seus defeitos, perfeitamente humanos, sob a batina cardinalícia, outrora uma protecção e um sinal de intocabilidade, atrevo-me a escrever, de uma quase santidade antecipada.

Nos dias que correm, e à imagem do que aconteceu quando a Europa se cobria tragicamente com as trevas da Idade Média, e trazidos à luz do dia os escândalos que envolvem membros do clero católico, os defensores da Igreja de Roma preparam-se agora para manifestar a sua fidelidade ao próximo descendente de São Pedro. E, quanto mais telhas de vidro aquele tiver, e, consequentemente, mais difícil for a sua defesa diante dos seus pares e, sobretudo, perante o mundo dos comuns mortais, mais forte será a união entre aqueles que querem continuar a pertencer à força religiosa, aquela que continua a ser política e socialmente mais influente na Europa dos nossos dias.

Uma coisa é certa: depois da demissão histórica de Joseph Ratzinger, atitude inesperada (ou talvez não), cujos contornos não são, de todo, visíveis, vai ser tão difícil ser Papa reinante, como servo obediente. Por isso, boa sorte, espírito aberto e coragem, Papa Francisco, para fazer da sua Igreja um exemplo incontornável de transparência e de tolerância!

Distraídos crónicos...


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