A propósito
Não entendo muitas
publicações nas redes sociais, e até em alguma comunicação social local, daqui
ou doutros lugares pequenos como o nosso, quando os autores dos textos se debruçam
a fundo sobre questões nacionais que já foram abordadas noutros meios de âmbito
nacional e que em nada adiantam nem atrasam com os seus sábios comentários e
doutas opiniões.
Quando, em tempos muito idos, o
comum dos mortais tinha dificuldade de acesso às notícias sobre os
acontecimentos do seu país ou do planeta onde habita, era absolutamente normal e
útil – e muito útil – que, nos jornais locais, ou mesmo naquelas publicações de
carácter regional, se focasse, com maior ou menor profundidade, os temas que
preenchiam os ecrãs das televisões ou as páginas centrais dos grandes jornais
nacionais e, até, europeus. Replicar, ainda que com algumas alterações,
notícias sobre a guerra entre Israel e a Palestina, sobre a criminosa invasão da
Ucrânia pela Rússia ou sobre os fogos que dizimaram a região de Los Angeles, e
ainda sobre os óscares que se preparam para provocar mais uns risos e algumas
lágrimas, não será de todo de grande valor ou importância. Tudo isso pode ser
lido e escrito noutros órgãos à nossa disposição.
Também o autor destas linhas faz,
por vezes, reflexões baseadas nos acontecimentos ou nos protagonistas nacionais
e mundiais, mas reconhecendo que teria mais valor o seu texto se descrevesse o
que nos preocupa como montemorenses, de facto a vivermos numa aldeia global,
que é este planeta, mas que teremos sempre mais a ganhar se mostrarmos aos nossos
patrícios e aos nossos autarcas o que nos vai na mente.
Veio este palavreado a propósito de
muita coisa e de coisa nenhuma.
Autárquicas
outra vez
Ainda falta um tempo, mas temos de
ir pensando no que iremos fazer em Setembro ou Outubro (ainda não se encontram
agendadas) de 2025. O balanço deve ser feito com a máxima consciência e
exactidão possíveis, a pensar em Montemor e no futuro. O mandato de quatro anos
do presidente actual deve ou não ter o aval dos munícipes e merecer a confiança
da maioria dos que vivem e trabalham no concelho?
Os comunistas tiveram a confiança da
maioria dos montemorenses para poderem, ao longo de 40 anos, planificar, orçamentar
e executar tudo o que se referia a obras públicas, questões sociais, de cultura
e desporto. A equipa bipartidária do socialista Olímpio Galvão acabou, temos de
admiti-lo, por levar a bom porto muito do que estava decidido e planeado pela
anterior equipa de Hortência Menino. Não houve tempo útil, e aceitamos essa
condição, para trazer novidades de monta à forma de gerir o concelho. Houve,
contudo, outro tipo de abertura e fomos confrontados com uma forma mais descontraída,
menos “partidarizada”, de fazer política local. A questão importante é perceber
qual a eficácia desta nova maneira de fazer política, menos formal, mais
próxima dos eleitores, com aberturas ideológicas a outras forças políticas,
situação raramente vista no período pré-Olímpio. É, sem dúvida, algum do material
de que vai ser feita a nossa reflexão.
Em relação aos
partidos mais conotados com a direita do espectro político, estes estão ainda
meio diluídos e as suas intervenções surgem num contexto misto de esquerda e direita
e, por isso, talvez seja difícil manifestarem, para já, um verdadeiro plano, concreto
e exequível, para a gestão do concelho. Resta-nos aguardar.
Posto isto, termino. Debates acesos terão lugar em tempo próprio. Para já, analise você, caro leitor. Vá observando, pensando e… quando for a altura, decida.
Não posso nem devo
manipular o que lhe vai na alma.
Outra vez arroz…
Há uma forte ameaça vinda dos Estados Unidos da América que, quando o caro leitor estiver a ler este texto, já terá tomado posse para grande terror dos países democratas e habituados a uma utilização da política para o bem comum. A ameaça tem rosto e nome. Chama-se Donald e tem a cara de alguém em que ninguém poderá confiar. Outros ditadores subiram ao poder de forma mais discreta.
Com o seu amigo
Elon, o tipo mais rico do mundo, Don armou uma parelha de palhaços ricos que jamais
entenderão as agruras e as angústias por que passam os palhaços pobres. O que
tenciona, à partida, levar a efeito, pode transtornar de forma irreversível as
relações entre vários países do mundo e, mais grave que isso, contaminar com as
suas ideologias fascistas, discriminatórias, racistas, xenófobas e misóginas, muitos
estados e partidos políticos, contra cidadãos e os direitos já garantidos por
assinaturas, convénios, tratados e resoluções.
Ventura foi
convidado para a tomada de posse de Trump. Trump há-de vir a Portugal à tomada
de posse de Ventura, quando ele for, daqui a 11 anos, presidente da república.
Escrevam o que eu digo.
Iliteracia
literária
As obras
literárias obrigatórias na disciplina de Português no ensinos básico e secundário,
a serem lidas e analisadas por alunos entre os 13 e os 17 anos, há muito que
não são devidamente absorvidas pelas diferentes gerações por dois motivos
fundamentais que são cada vez mais notórios e difíceis de combater: os alunos não têm conhecimentos suficientes de
História de Portugal para entenderem obras como Os Lusíadas, Mensagem,
Livro do Desassossego, Memorial do Convento,
O Ano da Morte de Ricardo Reis, Frei Luís de Sousa, Sermão de
Santo António aos Peixes, Os Maias, Amor de Perdição, entre mais
algumas; os alunos não têm conhecimentos suficientes de vocabulário, nem de
conceitos filosóficos e psicológicos, para entenderem na íntegra e em profundidade
a mensagem veiculada por tais obras. Os conhecimentos sobre Camões, Pessoa, Saramago,
Garrett, Vieira, Eça, Camilo ficam quase sempre muito aquém do que os
professores de Português e Literatura gostariam, apaixonados que são, há tantos
anos, por estas temáticas.
Solução: alterar, com urgência, o programa da disciplina de Português (e de outras disciplinas, já agora). Como e com que alternativas? Não faço ideia. Estou quase a reformar-me. Digam-me vocês.
João Luís Nabo
In "O Montemorense", Janeiro de 2025