quarta-feira, 20 de agosto de 2025

Vasos Comunicantes

  




Não sei por que motivo exacto acontece esta “perseguição”. Talvez pela minha paixão absoluta e inviolável pelo extraordinário romance Rebecca, de Daphne Du Maurier, publicado em 1938, levado ao grande écran por Alfred Hitchcock, em 1940, e por  Ben Wheatley, em  2020.

As heranças que os escritores vão, consciente ou inconscientemente recebendo de autores que os antecederam, e que “fundaram” uma determinada escola, estilo ou “estrutura” literária, vão surgindo passadas algumas décadas (e por vezes, séculos) nas mais diversas manifestações artísticas. Vi recentemente Entre Tierras, uma boa série espanhola da Netflix, baseada numa outra de origem italiana e que entra num delicioso e subtil diálogo com o romance que me persegue desde sempre.

Li, a conselho do meu filho mais velho, também ele consciente dos meus gostos e tendências literárias, Verity, um romance da aclamada Colleen Hoover, e que, espanto dos espantos, também entra em diálogo com a obra imortal de Du Maurier. Também neste romance de suspense psicológico, estão, igualmente de forma extraordinária, o ambiente gótico, o terror, a angústia, o mistério, os conflitos com o passado e, claro, disfarçados mas visíveis, Rebecca, Maxim de Winter e a pérfida e misteriosa Mrs. Danvers. Isto para não referir que o título de ambas as obras é, precisamente, o nome da protagonista de cada uma delas.

Foi Roland Barthes que escreveu: “Le texte est un tissu de citations, issues des mille foyers de la culture“ (La Mort de l’Auteur). De facto, se o texto literário é um entretecer de inúmeros textos, produto de uma sobreposição de culturas, Daphne Du Maurier, Coleen Hoover, Alfred Hitchcock ou Ben Wheatley, tal como qualquer outro autor, não poderão fugir a este princípio.

É um prazer (“le plaisir du texte”, como também cunhou Barthes?) navegar nestes canais da ficção tão cheios de vasos comunicantes, com o Mal, o Horror e a Perversidade como denominador comum de todas as épocas. 

João Luís Nabo, 20/08/2025

Distraídos crónicos...


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