Não sei por que motivo exacto acontece esta “perseguição”.
Talvez pela minha paixão absoluta e inviolável pelo extraordinário romance Rebecca,
de Daphne Du Maurier, publicado em 1938, levado ao grande écran por Alfred Hitchcock,
em 1940, e por Ben
Wheatley, em 2020.
As heranças que os escritores vão, consciente ou
inconscientemente recebendo de autores que os antecederam, e que “fundaram” uma
determinada escola, estilo ou “estrutura” literária, vão surgindo passadas
algumas décadas (e por vezes, séculos) nas mais diversas manifestações
artísticas. Vi recentemente Entre Tierras, uma boa série espanhola
da Netflix, baseada numa outra de origem italiana e que entra num delicioso e
subtil diálogo com o romance que me persegue desde sempre.
Li, a conselho do meu filho mais velho, também ele consciente
dos meus gostos e tendências literárias, Verity, um romance da aclamada
Colleen Hoover, e que, espanto dos espantos, também entra em diálogo com a obra
imortal de Du Maurier. Também neste romance de suspense psicológico, estão,
igualmente de forma extraordinária, o ambiente gótico, o terror, a angústia, o
mistério, os conflitos com o passado e, claro, disfarçados mas visíveis,
Rebecca, Maxim de Winter e a pérfida e misteriosa Mrs. Danvers. Isto para não referir que o título de ambas as obras é, precisamente, o nome da protagonista de cada uma delas.
Foi Roland Barthes que escreveu: “Le texte est un tissu de citations, issues des mille foyers de la culture“ (La Mort de l’Auteur). De facto, se o texto
literário é um entretecer de inúmeros textos, produto de uma sobreposição de
culturas, Daphne Du Maurier, Coleen Hoover, Alfred Hitchcock ou Ben Wheatley, tal como qualquer outro
autor, não poderão fugir a este princípio.
É um prazer (“le plaisir du texte”, como também cunhou Barthes?) navegar nestes canais da ficção tão cheios de vasos comunicantes, com o Mal, o Horror e a Perversidade como denominador comum de todas as épocas.
João Luís Nabo, 20/08/2025