terça-feira, 11 de novembro de 2025

Quatro Curtas

 


1

 

No passado dia 2 de Novembro, tomaram posse os eleitos nestas autárquicas que vão gerir o concelho de Montemor-o-Novo: executivo camarário, presidentes de junta, membros das assembleias municipal e de juntas de freguesia. Um desfile de gente com a mesma intenção e vontade de concretizar projectos. Não me perguntem qual é o meu partido. Sou, naturalmente, por Montemor e por todos, velhos amigos, jovens amigos, colegas, ex-alunos e ex-alunas, que vão abraçar com garra a nossa terra e fazer cumprir os sonhos que (n)os movem. Estamos juntos.

É muito maior e mais importante o que nos aproxima do que aquilo que nos separa. Bom mandato a todos!

 

 

2

 

A proliferação de candidatos à Presidência da República divide cada mais profundamente a sociedade portuguesa, quer em termos de apoios partidários, quer em termos de tendências e tomadas de decisão de cada cidadão isoladamente. Extrema-esquerda, esquerda, centro, direita e extrema-direita estão a fazer deste país não um lugar de debate em nome do progresso civilizacional e, sobretudo, de soluções para o bem-estar dos menos privilegiados, mas um espaço onde apenas vencem as ideias imbuídas de radicalismo, de ódio, de perseguição física e ideológica a grupos minoritários, cavalgando de forma insistente infindáveis ondas de populismo e demagogia.

A confusão está instalada e ninguém consegue retirar grandes conclusões ou aproveitar minimamente as ideias contraditórias que nos entram diariamente pela casa adentro. Uma coisa é certa: os tempos mudaram. Perseguem-se imigrantes, atacam-se minorias étnicas, cativam-se cidadãos com o que eles gostam de ouvir e propagam-se ideias de um radicalismo assustador com o tranquilo beneplácito do Governo e da Assembleia da República, que deixou chegar a Casa da Democracia a um baixo nível de educação e comportamental, nunca alcançado, nem nos dias de maiores convulsões pós-25. Tudo parece normal, e este normal começa cada vez mais a fazer jurisprudência noutros sectores e nos mais diversos espaços da nossa sociedade.

Houve sistemas totalitários que começaram com muito menos. Alguns até foram homologados com o voto do povo.

 

 

3

 

Os telemóveis não são nossos inimigos. Digo isto constantemente a alunos meus, reforçando a ideia e a absoluta necessidade de sermos nós, humanos racionais, a controlar a máquina, maravilhosa e irracional, e não se lhe dar margem para ser ela a controlar os nossos movimentos, pensamentos e desejos. Para isso, é importante uma educação séria dirigida, sobretudo, aos jovens, para que possam, na verdade, e sempre que a situação o exija, usar esta ferramenta, cada vez mais útil nos dias que correm, sempre que dela precisem e sem necessidade de proibições ou de recorrerem à clandestinidade para consultar os googles desta vida e as tão apetecíveis, como famigeradas, redes sociais.

Essa proibição, já em vigor em muitos estabelecimentos de ensino do nosso país, advém de um único facto: ainda não surgiu a melhor forma de educar os jovens no que se refere à sua utilização, o que significa que, quando o Estado se torna incapaz de criar condições para o uso dos telemóveis em determinados contextos, faz aquilo que lhe resta fazer, por não ter capacidade para mais e melhor: proibir a sua utilização. Como se a proibição resolvesse o problema de fundo.

Cá para nós, que ninguém nos ouve, também os adultos deveriam ser educados nesse convívio doentio. Também eles, quando estão em grupo, num café, numa sala de espera ou noutro local qualquer, se escondem atrás de um ecrã, ignorando tudo e todos os que estão à sua volta. E os seus filhos e netos (ou os seus alunos) acabam por ver ali um exemplo a seguir.

 

4

 

Quando assumimos o nosso final de carreira, há uma nostalgia que começa a pairar: quando preparamos as aulas, quando estamos com as turmas, em tudo o que nos liga a uma profissão que já vai (demasiado) longa. Começamos a sentir que não voltaremos a ensinar as matérias habituais e que a sala de aula vai deixar de existir para nós como espaço de troca de saberes e sempre tão útil para as conversas mais extraordinárias com os adolescentes que connosco coabitam a mesma sala, a mesma escola, durante meses, por vezes durante anos. E vai terminar para sempre o respirar o ambiente tão característico de uma escola, da nossa escola, cheia de gente em constante movimento.

Mas é assim que vai ser. O que vier a seguir, seja o que for, acabará por mitigar aos poucos esta saudade (já tão antecipada) e iremos sempre ver nos cidadãos com quem nos cruzaremos, na cidade e na vida, um pouco de nós, daquilo de que somos feitos, e do tempo útil em que vivemos juntos os melhores momentos das nossas vidas.

  João Luís Nabo

In "O Montemorense", Novembro de 2025

Distraídos crónicos...


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