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No passado dia 2 de Novembro, tomaram posse os eleitos
nestas autárquicas que vão gerir o concelho de Montemor-o-Novo: executivo
camarário, presidentes de junta, membros das assembleias municipal e de juntas de
freguesia. Um desfile de gente com a mesma intenção e vontade de concretizar
projectos. Não me perguntem qual é o meu partido. Sou, naturalmente, por Montemor
e por todos, velhos amigos, jovens amigos, colegas, ex-alunos e ex-alunas, que
vão abraçar com garra a nossa terra e fazer cumprir os sonhos que (n)os movem.
Estamos juntos.
É muito maior e mais importante o que nos aproxima do que aquilo que nos
separa. Bom mandato a todos!
2
A proliferação de candidatos à Presidência da República
divide cada mais profundamente a sociedade portuguesa, quer em termos de apoios
partidários, quer em termos de tendências e tomadas de decisão de cada cidadão isoladamente.
Extrema-esquerda, esquerda, centro, direita e extrema-direita estão a fazer
deste país não um lugar de debate em nome do progresso civilizacional e,
sobretudo, de soluções para o bem-estar dos menos privilegiados, mas um espaço
onde apenas vencem as ideias imbuídas de radicalismo, de ódio, de perseguição
física e ideológica a grupos minoritários, cavalgando de forma insistente
infindáveis ondas de populismo e demagogia.
A confusão está instalada e ninguém consegue retirar
grandes conclusões ou aproveitar minimamente as ideias contraditórias que nos
entram diariamente pela casa adentro. Uma coisa é
certa: os tempos mudaram. Perseguem-se imigrantes, atacam-se minorias étnicas,
cativam-se cidadãos com o que eles gostam de ouvir e propagam-se ideias de um
radicalismo assustador com o tranquilo beneplácito do Governo e da Assembleia
da República, que deixou chegar a Casa da Democracia a um baixo nível de
educação e comportamental, nunca alcançado, nem nos dias de maiores convulsões
pós-25. Tudo parece normal, e este normal começa cada vez mais a fazer
jurisprudência noutros sectores e nos mais diversos espaços da nossa sociedade.
Houve sistemas totalitários que começaram com muito
menos. Alguns até foram homologados com o voto do povo.
3
Os telemóveis não são nossos inimigos. Digo isto
constantemente a alunos meus, reforçando a ideia e a absoluta necessidade de
sermos nós, humanos racionais, a controlar a máquina, maravilhosa e irracional,
e não se lhe dar margem para ser ela a controlar os nossos movimentos,
pensamentos e desejos. Para isso, é importante uma educação séria dirigida,
sobretudo, aos jovens, para que possam, na verdade, e sempre que a situação o
exija, usar esta ferramenta, cada vez mais útil nos dias que correm, sempre que
dela precisem e sem necessidade de proibições ou de recorrerem à
clandestinidade para consultar os googles
desta vida e as tão apetecíveis, como famigeradas, redes sociais.
Essa proibição, já em vigor em muitos estabelecimentos de
ensino do nosso país, advém de um único facto: ainda não surgiu a melhor forma de
educar os jovens no que se refere à sua utilização, o que significa que, quando
o Estado se torna incapaz de criar condições para o uso dos telemóveis em
determinados contextos, faz aquilo que lhe resta fazer, por não ter capacidade
para mais e melhor: proibir a sua utilização. Como se a proibição resolvesse o
problema de fundo.
Cá para nós, que ninguém nos ouve, também os adultos
deveriam ser educados nesse convívio doentio. Também eles, quando estão em
grupo, num café, numa sala de espera ou noutro local qualquer, se escondem
atrás de um ecrã, ignorando tudo e todos os que estão à sua volta. E os seus
filhos e netos (ou os seus alunos) acabam por ver ali um exemplo a seguir.
4
Quando assumimos o nosso final de carreira, há uma
nostalgia que começa a pairar: quando preparamos as aulas, quando estamos com
as turmas, em tudo o que nos liga a uma profissão que já vai (demasiado) longa.
Começamos a sentir que não voltaremos a ensinar as matérias habituais e que a
sala de aula vai deixar de existir para nós como espaço de troca de saberes e
sempre tão útil para as conversas mais extraordinárias com os adolescentes que
connosco coabitam a mesma sala, a mesma escola, durante meses, por vezes
durante anos. E vai terminar para sempre o respirar o ambiente tão
característico de uma escola, da nossa escola, cheia de gente em constante
movimento.
Mas é assim que vai ser. O que vier a seguir, seja o que
for, acabará por mitigar aos poucos esta saudade (já tão antecipada) e iremos
sempre ver nos cidadãos com quem nos cruzaremos, na cidade e na vida, um pouco
de nós, daquilo de que somos feitos, e do tempo útil em que vivemos juntos os
melhores momentos das nossas vidas.
João Luís Nabo
In "O Montemorense", Novembro de 2025



