sábado, 21 de janeiro de 2012

Umbiguismo


O Coral de São Domingos chegou aos 25 anos de existência. Em 1987 seria impensável projectar uma tal longevidade. Claro que tem tido apoios, e bastantes, de várias instituições públicas e privadas, e está profundamente grato por isso. Mas os apoios não bastariam, se não fosse uma qualidade muito especial que uma enorme quantidade de gente me tem oferecido durante todo este tempo, para dar corpo e voz ao Coral de São Domingos: GENEROSIDADE - muito mais importante do que uma voz do outro mundo ou um currículo de 50 páginas na área da música.

Como calculam, este coro, natural de Montemor-o-Novo, não foi, nem é, o resultado do trabalho de uma só pessoa. Longe disso. Tem sido, sempre, o resultado de um esforço conjunto de uma equipa, que se tem naturalmente alterado ao longo dos anos, mas que nunca mudou de rumo ou de objectivos. Este género de grupos (várias pessoas que fazem espectáculos dirigidas por uma pessoa) não teria pernas para andar se não fosse o empenho de todos, mas sobretudo a generosidade que, neste caso concreto, cada um põe no, aparentemente, simples facto de pertencer ao Coral de São Domingos.

Porquê? Porque os seus membros ensaiam desalmadamente durante a semana, às ordens de um tipo desrespeitador da opinião de cada um e que só descansa quando as peças estão como ele as imaginou. Porque, por vezes, e depois de a peça concluída, ela nem sequer sai a público, porque o tal tipo entende que não. Porque ouvem e aceitam as interpretações dessa pessoa, mesmo que lhes apeteça interpretar a peça de outra maneira. Porque não se importam de perder a sua individualidade artística em prol de um grupo, constantemente dependente desse tipo, que parece ter-se esquecido de que vivemos num país democrático, onde cada um devia cantar como entendesse. Porque não discutem as opções de reportório, não discutem as horas dos ensaios, não discutem as marcações dos concertos e das digressões. Porque é esse tipo que dá as entrevistas à comunicação social, que se passeia orgulhosamente pelos jornais, pela rádio e por outros meios de divulgação, tendo sempre o seu nome em destaque nos cartazes e nos programas. Porque, no início de cada concerto, esse tipo recebe aplausos só para ele. Porque no final de cada concerto, é esse tipo que recebe as flores, as palmas e os parabéns, primeiro do que toda a gente.

No entanto, depois de cada ensaio, depois de cada concerto, essas pessoas, ignorando tudo isso, continuam aptas para continuar a trabalhar com o mesmo vigor, como se fosse sempre a primeira vez, deixando frequentemente a família, os amigos e muitos compromissos pessoais para segundo plano, porque cantar num coral é um trabalho que não tem fim. (E quando não querem ficar longe da família, alguns trazem-na para o grupo, tornando-o ainda mais família.)

É a isto que eu chamo GENEROSIDADE. É isto que faz do Coral de São Domingos um grupo especial que, por vezes, em vez de receber cachet pelos espectáculos que dá, pelo prazer estético que proporciona aos outros, ainda paga para poder cantar. “Não é possível!”, dirão os meus 8 leitores. Pois acreditem que é, respondo eu. Mas isso é o menos.

E pronto. Hoje não me apetece escrever sobre mais coisa nenhuma. Pensem o que quiserem, mas hoje o Coral de São Domingos é o único tema que me motiva o gesto da escrita. Desculpem o umbiguismo. Prometo que só voltarei a escrever sobre o grupo quando fizermos 50 anos de vida…

9 comentários:

CCeroula disse...

Parente!!! Como um dos coralistas fundadores e não me canso do frisar... É um Orgulho Enorme pertencer ao Grupo, à Familia do Coral de São Domingos. 1m abraço CarlosCeroula

DAD disse...

Adorei o artigo publicado sobre o coro de São Domingos! Consigo perceber muito bem porque eu própria canto em dois coros - Coro Polifónico de Cascais e Coro Ecce Gratum de São João do Estoril e a nossa vida é semelhante à bela descrição feita no seu Blog - entregamo-nos de alma e coração aos ensaios que, no meu caso - como são dois coros - são 4 ensaios por semana. É muita carolice mas faz-me bem. Acho que se toda a gente percebesse o que é bom cantar num coro, não teríamos falta de tenores e baixos... As mulheres, normalmente são sempre muito mais disponíveis e é pena!

Grande abraço para o Coro de São Domingos e parabens a si pelo belo retrato caricaturado que fez do vosso Maestro - mas brincadeira é brincadeira e ele vai ficar feliz de ver o que escreveu.

Cloreto de Sódio disse...

O mais curioso,minha cara amiga coralista, é que o maestro... sou eu próprio. Abraços, obrigado pelas suas palavas e força nessas canções.

Anónimo disse...

Quem me dera estar por cá quando se comemorarem outros 25 anos do Coral de São Domingos!...
LONGA VIDA para o Coral, coralistas e maestro!
Abraço amigo
CVO

Anónimo disse...

"...tipo desrespeitador da opinião de cada um..." ??? Não me parece mesmo nada!
Parabéns Coral de S. Domingos!
Parabéns Sr. Maestro!

Sofia Mouquinho, a 8ª leitora

Anónimo disse...

Muitos Parabéns a todo o Coral de São Domingos pelos seus primeiros vinte e cinco anos de Vida!

Longa Vida ao Coral e a todos os seus Elementos!

Abraço,
Olímpio

Anónimo disse...

A democracia não é mais do que varias ditaduras que se relacionam entre si....




Abraço

Anónimo disse...

Chegarei aos 15 anos de coral? Até lá bjs

Cloreto de Sódio disse...

Depende de ti!!! Bjs.

Distraídos crónicos...


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