segunda-feira, 7 de julho de 2025

Três tristes trechos

 

 

                                       

   

Os humores

A marcha militar “A Portuguesa”, composta por Alfredo Keil em 1890, sobre um poema de Henrique Lopes de Mendonça, como reacção ao Ultimato Britânico que, por sua vez, reagia contra o celebremente estudado nas escolas Mapa Cor-de-Rosa (ide investigar, porque aqui não há tempo nem espaço para isso), passou a ser o Hino Nacional, com a implementação da República, em 1910. Segundo consta, procederam-se às necessárias actualizações ao texto original, para depois receber a necessária aprovação da Assembleia Nacional Constituinte, que o consagrou como símbolo nacional a 11 de Junho de 1911.

Pronto. Isto é fundamental que se diga, que se leia e que se entenda.  

 

Se a Bandeira é a cara da nação, o Hino será o outro lado da moeda e não poderão ser entendidos separadamente, por motivo algum. Quando se canta o Hino, estamos a prestar a nossa lealdade ao país e a reverenciar a bandeira que o representa. Não é uma qualquer música pimba que nos apeteça cantar quando nos dá na gana nem como nos dá na gana… E o que aconteceu naquele momento pouco inspirado dos dois rapazes, mais do que os problemas técnicos a que foram alheios, foi estes terem transformado aquela obra tão importante numa música pimba, popularucha e desrespeitadora da obra original.

 

Recordo um acontecimento que poderá já estar esquecido, mas que, agora, vem a talhe de foice recordar: Vera Guita, natural de Montemor-o-Novo, professora, mãe, minha amiga de há muitos anos, com bonitas estradas percorridas em comum, dona de uma voz excepcional e a viver na Suécia, recebeu, em 2013, um convite da Embaixada de Portugal naquele país para cantar a solo "A Portuguesa" no estádio de Solna, no dia 19 de Novembro, antes do jogo Suécia-Portugal, na segunda mão do play-off para o Campeonato do Mundo de 2014. Aceitou, preparou-se e, já no estádio, não foi autorizada pela Federação Portuguesa de Futebol a cantar o Hino Português, porque não era hábito aquele símbolo nacional ser cantado a solo e a cappella. Uma questão mais do que falsa. Há uma versão harmonizada para coro a quatro vozes sem acompanhamento instrumental que obedece religiosamente à lógica melódica e harmónica do original e que foi, pelo menos uma vez, interpretada por um coro numa cerimónia oficial na Assembleia da República de Portugal. Outras cantoras o fizeram, noutros espaços e em ocasiões diversas, interpretando a melodia, mas não desvirtuando a sua essência.

 

O caso que encheu televisões, jornais e redes sociais, e que me fez escrever as considerações anteriores, já se sabe qual é e tem a ver com duas espécie de humores: uma interpretação muitíssimo discutível do Hino Nacional, protagonizada pelos Anjos, que deixou muitos de nós de mau humor, e a transformação desse sentimento de “despertença” num momento de bom humor, que foi o que a humorista Joana Marques fez, com a inteligência e a verve a que já nos habituou há muito tempo, sem ter de dizer abertamente: “Vocês não têm noção!” ou, de uma forma mais prosaica: “Atirem-se ao pego, mas é!”

Ainda se ela os incentivasse a tal, não acredito que os moços cumprissem à letra esta metafórica sugestão.

 

Os Roedores

 

            O inabalável “não é não”, tanta vez repetido por Montenegro, numa permanente e já histórica recusa a acordos com Ventura, deu, como se esperava, lugar a um “não é… talvez”. Segundo a comunicação social, o líder do Chega chegou a um entendimento com o primeiro-ministro “sobre nacionalidade, imigração e IRS”. Tal como Ventura estava à espera, o Governo (ainda em funções) vai precisar da sua mãozinha para avançar com outras propostas, e essa mãozinha, útil e amiga, nada dará sem pedir alguma coisa em troca. E é essa “negociata” que nos deixa preocupados, porque não sabemos (ou saberemos?) o que Ventura vai exigir para continuar a ser, o que parecia há poucos meses, a muleta mais improvável de um Governo ainda sem rumo bem definido.

Já não restam dúvidas: será o menino André a conduzir o historicamente fragilizado Luís Filipe e a levá-lo, juntamente com o seu séquito social-democrata, em direcção a um firme e inabalável “não é sim”.

 

                                              

Nos bastidores

 

Montemor continua a ser uma cidade e um concelho onde se faz cultura quase todos os dias. Por vezes, a oferta é tanta, que se agendam concertos, exposições, arruadas, lançamentos de livros, bailado, sessões de teatro de rua, de teatro de palco, de teatro de marionetas, de encontros com música ao vivo, não raras vezes para o mesmo dia e para a mesma hora. Sabemos que cada evento é específico e até pode ser dirigido a uma determinada franja de público, mas há públicos que se revêem em muitas das apresentações ou performances e que gostariam de assistir a uma boa parte delas. É, pois, importante uma preparação prévia das actividades a levar a efeito em cada temporada para não haver sobreposições, de modo a que o público montemorense e os que nos visitam possam desfrutar da variedade de ofertas ao seu dispor.  

Quando uma determinada associação agenda as suas actividades à distância de mais de meio ano, até porque tem de enviar ao Município o seu Plano de Actividades para o ano que vai entrar, não é possível saber com exactidão se, porventura, há já iniciativas programadas por outros grupos para aquele dia. Esta questão ficaria minimizada se houvesse uma reunião por volta do mês de Outubro (ou, mesmo, Novembro), para que os agentes culturais, reunidos nos bastidores, trocassem pontos de vista e, sobretudo, clarificassem as datas e os eventos que têm em carteira. Fica a ideia, que valerá o que quiserem que valha.

Para já, é só isto.

Boas férias. Que elas vos sejam leves.

 

             
            João Luís Nabo

In "O Montemorense", Julho de 2025

 
                                                         

 

Distraídos crónicos...


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