Os humores
A marcha militar “A Portuguesa”, composta por
Alfredo Keil em 1890, sobre um poema de Henrique Lopes de Mendonça, como
reacção ao Ultimato Britânico que, por sua vez, reagia contra o celebremente
estudado nas escolas Mapa Cor-de-Rosa (ide investigar, porque aqui não há tempo
nem espaço para isso), passou a ser o Hino Nacional, com a implementação da
República, em 1910. Segundo consta, procederam-se às necessárias actualizações ao texto
original, para depois receber a necessária aprovação da Assembleia Nacional Constituinte, que o consagrou
como símbolo nacional a 11 de Junho de 1911.
Pronto.
Isto é fundamental que se diga, que se leia e que se entenda.
Se a Bandeira é a cara da nação, o Hino será o outro lado
da moeda e não poderão ser entendidos separadamente, por motivo algum. Quando
se canta o Hino, estamos a prestar a nossa lealdade ao país e a reverenciar a
bandeira que o representa. Não é uma qualquer música pimba que nos apeteça
cantar quando nos dá na gana nem como nos dá na gana… E o que aconteceu naquele
momento pouco inspirado dos dois rapazes, mais do que os problemas técnicos a
que foram alheios, foi estes terem transformado aquela obra tão importante numa
música pimba, popularucha e desrespeitadora da obra original.
Recordo um acontecimento que poderá já estar esquecido,
mas que, agora, vem a talhe de foice recordar: Vera Guita, natural de Montemor-o-Novo,
professora, mãe, minha amiga de há muitos anos, com bonitas estradas
percorridas em comum, dona de uma voz excepcional e a viver na Suécia, recebeu,
em 2013, um convite da Embaixada de Portugal naquele país para cantar a solo "A Portuguesa" no estádio de Solna, no dia 19 de Novembro, antes
do jogo Suécia-Portugal, na segunda mão do play-off para o Campeonato do
Mundo de 2014. Aceitou, preparou-se e, já no estádio, não foi autorizada pela Federação
Portuguesa de Futebol a cantar o Hino Português, porque não era hábito aquele
símbolo nacional ser cantado a solo e a cappella. Uma questão
mais do que falsa. Há uma versão harmonizada para coro a quatro vozes sem
acompanhamento instrumental que obedece religiosamente à lógica melódica e
harmónica do original e que foi, pelo menos uma vez, interpretada por um coro
numa cerimónia oficial na Assembleia da República de Portugal. Outras cantoras o
fizeram, noutros espaços e em ocasiões diversas, interpretando a melodia, mas
não desvirtuando a sua essência.
O caso que encheu televisões, jornais e redes sociais, e
que me fez escrever as considerações anteriores, já se sabe qual é e tem a ver
com duas espécie de humores: uma interpretação muitíssimo discutível do Hino Nacional,
protagonizada pelos Anjos, que deixou muitos de nós de mau humor, e a
transformação desse sentimento de “despertença” num momento de bom
humor, que foi o que a humorista Joana Marques fez, com a inteligência e a
verve a que já nos habituou há muito tempo, sem ter de dizer abertamente: “Vocês
não têm noção!” ou, de uma forma mais prosaica: “Atirem-se ao pego, mas
é!”
Ainda se ela os incentivasse a tal, não acredito que os
moços cumprissem à letra esta metafórica sugestão.
Os Roedores
O inabalável “não é não”, tanta vez repetido por Montenegro,
numa permanente e já histórica recusa a acordos com Ventura, deu, como se esperava,
lugar a um “não é… talvez”. Segundo a comunicação social, o líder do
Chega chegou a um entendimento com o primeiro-ministro “sobre nacionalidade,
imigração e IRS”. Tal como Ventura estava à espera, o Governo (ainda em
funções) vai precisar da sua mãozinha para avançar com outras propostas, e essa
mãozinha, útil e amiga, nada dará sem pedir alguma coisa em troca. E é essa “negociata”
que nos deixa preocupados, porque não sabemos (ou saberemos?) o que Ventura vai
exigir para continuar a ser, o que parecia há poucos meses, a muleta mais
improvável de um Governo ainda sem rumo bem definido.
Já não restam dúvidas: será o
menino André a conduzir o historicamente fragilizado Luís Filipe e a levá-lo,
juntamente com o seu séquito social-democrata, em direcção a um firme e
inabalável “não é sim”.
Nos bastidores
Montemor continua a ser uma cidade e um concelho onde se
faz cultura quase todos os dias. Por vezes, a oferta é tanta, que se agendam
concertos, exposições, arruadas, lançamentos de livros, bailado, sessões de
teatro de rua, de teatro de palco, de teatro de marionetas, de encontros com
música ao vivo, não raras vezes para o mesmo dia e para a mesma hora. Sabemos
que cada evento é específico e até pode ser dirigido a uma determinada franja
de público, mas há públicos que se revêem em muitas das apresentações ou performances
e que gostariam de assistir a uma boa parte delas. É, pois, importante uma
preparação prévia das actividades a levar a efeito em cada temporada para não
haver sobreposições, de modo a que o público montemorense e os que nos visitam
possam desfrutar da variedade de ofertas ao seu dispor.
Quando uma determinada associação agenda as suas actividades
à distância de mais de meio ano, até porque tem de enviar ao Município o seu
Plano de Actividades para o ano que vai entrar, não é possível saber com
exactidão se, porventura, há já iniciativas programadas por outros grupos para
aquele dia. Esta questão ficaria minimizada se houvesse uma reunião por volta
do mês de Outubro (ou, mesmo, Novembro), para que os agentes culturais,
reunidos nos bastidores, trocassem pontos de vista e, sobretudo, clarificassem
as datas e os eventos que têm em carteira. Fica a ideia, que valerá o que
quiserem que valha.
Para já, é só isto.
Boas férias. Que elas vos sejam leves.
In "O Montemorense", Julho de 2025
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