O regresso a Gaza
Finalmente, os palestinianos puderam
regressar a casa. Resta saber quem deles tem ainda casa, depois de dois anos de
destruição maciça e de verdadeiro genocídio por parte do Governo e das tropas de
Israel. Não entendo, nunca entendi, de facto, o que leva um povo, ameaçado, há
pouco mais de oito décadas, de extermínio nos terríficos campos de concentração
do regime nazi de Adolfo Hitler, a atacar sem hesitação um povo governado pelo
Hamas, mas que não pode ser considerado responsável pelos actos de guerra dos
seus governantes contra os israelitas e, por isso, alvo do ódio de Netanyahu.
Trump meteu-se naquele diálogo de
surdos e, com o seu estilo peculiar, que eu, particularmente, pouco aprecio,
declarou o fim da guerra israelo-palestiniana. O Governo de Israel, até há dias
a manter uma posição inamovível, aceitou, de um dia para o outro, este acordo
de paz, que poderia ter sido apresentado e assinado há muito mais tempo.
Poderemos dizer
que há, decerto, interesses por parte da administração americana nesta
intermediação. No entanto, essa questão, comparada com a miséria, a fome, a
doença e o horror dos últimos dois anos (se quisermos, por momentos, ignorar
todos os anos anteriores) é de somenos importância.
Quando vemos na televisão um país
completamente em ruínas, ficamos cientes de que, só daqui a vários anos, poderá
o estado palestiniano renascer das cinzas, deixando para trás este passado de
duras realidades, mas que nunca lhe irá sair da memória: os bombardeamentos, as
crianças mortas, a fome, o desespero. E estas feridas ficarão para sempre.
E a paz, agora
garantida, poderá ser apenas uma breve brisa de Outono.
Autárquicas
em Montemor: regresso ao passado?
Olímpio Galvão
despediu-se da presidência da câmara municipal, depois de quatro anos de
mandato. Será ainda prematuro fazer uma avaliação objectiva e distante das
tomadas de posição do seu executivo, mas o que fez fê-lo em prol dos
montemorenses e do concelho, tendo eu a certeza de que grande parte das suas
decisões foram em nome da democracia, do progresso, da transparência e da
proximidade com os seus munícipes.
Após três mandatos
cumpridos como presidente da câmara de Évora, Carlos Pinto de Sá regressou a
Montemor, onde tinha exercido o mesmo cargo entre 1994 e 2012. Os factores que
podem, para já, explicar este volte-face na opção de voto dos munícipes do concelho
de Montemor, podem ser de vária ordem, sem que ainda seja possível apurar a verdadeira
essência que reside nesta diferença de 419 votos que separam o candidato vencedor
do candidato vencido. Há duas ideias que circulam por aí, nada originais e que,
por isso mesmo, em nada nos esclarecem, por serem baseadas no óbvio: que, por
um lado, Olímpio Galvão poderia ter feito mais pelo concelho e que, por outro, muitos
teriam saudades das políticas levadas a cabo por Pinto de Sá, em tempos idos. Duas
questões discutíveis, tal como muitas outras que se poderão levantar.
Não nos esqueçamos,
porém, de que os tempos são outros agora. As infraestruturas de que o concelho
necessitava há trinta anos já não serão as mesmas, as pessoas alteraram as suas
rotinas, as famílias passaram a ter necessidades diferentes, há gente nova no concelho, a cidade passou a
precisar de um olhar diferente a todos os níveis e há uma novidade absoluta que
nos esmaga a todos: há uma pressão nas redes sociais que obriga cada autarca a
estar milimetricamente atento ao que é necessário e ao que é supérfluo.
Em termos de
governação, e de acordo com os resultados apurados, e com o Chega fora da corrida,
a maioria CDU, com três elementos, terá de saber trabalhar com quatro autarcas
da Oposição mas que, em conjunto com a Maioria, poderão continuar a fazer valer
as suas ideias para o concelho. É fundamental a diplomacia, a lisura, a
honestidade intelectual para aceitar o que é positivo, venha de onde vier a
ideia. Seria assim o executivo ideal.
"O povo é sábio e soberano" foi a frase que me enviou, recentemente, uma amiga. Sabemos que o povo nem sempre é sábio e que nem sempre é soberano. Basta olhar para trás, para a História recente de alguns países não muito distantes do nosso. Mas queremos acreditar que, neste caso concreto, não haverá motivos para duvidar de tal aforismo. Montemor em primeiro lugar. Depois, as minudências do costume.
Daqui, destas
humildes colunas, um abraço ao Presidente Carlos Pinto de Sá, com votos de um
excelente mandato.
Por
falar em minudências…
… são
incalculáveis, nas redes sociais, as intervenções pós-eleições, quer da parte
dos que perderam, quer da parte dos que ganharam. Como montemorense, e ainda
que crítico em relação a algumas tomadas de decisão dos políticos da terra, não
entendo como pessoas da mesma cidade, do mesmo concelho e, até, vivendo na
mesma rua ou no mesmo bairro, têm o à-vontade de ofender de forma absolutamente
gratuita e indescritível os que perderam ou os que ganharam as eleições. Pergunto-me,
com alguma preocupação, se havia, ou há, alguns interesses mais para além de prestar,
abnegadamente, um serviço desinteressado ao povo do concelho. Sei que, enquanto
exerceram o poder, tanto comunistas, como socialistas ou sociais
democratas/centristas, todos procuraram entender melhor as necessidades das
populações e dar-lhes aquilo que era possível dar. O resto são minudências
mesquinhas que não abonam em favor de quem as produz.
João Luís Nabo
In "O Montemorense", Outubro de 2025