Os discursos fragmentados que
formam a colectânea, vindos de narradores nos limites da loucura, são bem o
reflexo da própria divisão, diria, esquizofrénica, a que o ser humano é
submetido, não poucas vezes, no decorrer da sua existência, esta, muitas vezes, um
percurso em permanente borderline.
Não são poemas, não são contos,
não são ensaios aquilo que li. À excepção da peça de teatro propriamente dita,
não sei o que são. Mas são literatura. Da boa. A confrontar-nos com o que de pior nos desafia
desde que nascemos: os nossos medos, a nossa consciência, a nossa impotência, ou incompetência,
de não termos escolhido outros caminhos que não este que nos trouxe até ao
hoje. “O corpo é que paga”, diz-nos a canção de Variações. A mente é que paga,
diz-nos Rui Sousa, o autor do livro.
Destaco, apelando a uma leitura
urgente, “História de um Assassino Vulgar”, “Fragmento-Salazar” e “As Máscaras”,
pelo seu conteúdo forte, actual, nu, cru e desassombrado, de reprimidos que
regressam em nossa constante perseguição pessoal e colectiva; e “Guerra de Tróia”, pela viagem
crítica a um dos grandes mitos da nossa civilização.
O autor, que não conheço,
nasceu em 1979, na cidade de Évora, tem raízes em Montemor-o-Novo, onde
trabalha actualmente e, um dia, se ele concordar, lá teremos de trocar umas
ideias sobre as palavras e sobre o que elas… escondem.
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