Não há-de faltar muito para regressarmos ao cultivo da terra como forma única de sobrevivência. Foram uns anos de pousio, a mando da União Europeia e dos poderosos que nela têm mandado. “Parem as sementeiras que a gente manda para aí dinheiro”, diziam eles. E nós, ignorantes e a pensar na chuva de milhões, assim fizemos. E a terra, que tudo dá, por aqui ficou, seca, estéril, ao abandono, neste Alentejo outrora um mar de ouro e fonte de riqueza inesgotável.
Hoje,
muitos dos meus amigos, para poderem fazer algumas refeições decentes,
ressuscitaram uma leira de terra, que era do pai ou do avô, onde vão cultivando
batatas, cenouras, couves, feijão e outros produtos, ao sabor das estações do
ano. Porque se aproximam dias ainda mais difíceis e o regresso à terra parece
ser a única solução para minimizar os estragos. Com as políticas fiscais e de
cortes, o comércio vai parar, a indústria já está a ficar parada, os desempregados
são aos milhares, o euro fica cada vez mais desvalorizado e os jovens
recém-formados, garantia de futuro deste pardieiro assustadoramente mal
frequentado, continuam em casa dos pais, porque para arrendarem uma casa para
si e ficarem autónomos é fundamental uma garantia de emprego.
Não vale a
pena disfarçar mais. A maioria dos portugueses começa a não ter para onde se
virar, começando já a manifestar-se nas ruas, pacificamente, fazendo ver aos
que não querem ver que vamos, cada vez com mais certezas, para o fundo, sem
capacidade para resolver, como era hábito, as questões de vária ordem do nosso
dia-a-dia. Pieguices, naturalmente, como iria alguém…
A panela de pressão em que transformaram Portugal não tem
pirulito. Pode, por isso, explodir a qualquer momento. E depois?
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