sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

O (ainda) benefício da dúvida


Não sei por quantas reformas já passaram os professores e os alunos desde o longínquo 25 de Abril de 74. Sei que em todas elas houve pontos positivos e pontos negativos mas que, surpreendentemente, raramente foram utilizados como partida para as reformas subsequentes. Notei que nos últimos anos do consulado de Sócrates e em todo o reinado de Passos se privilegiou a formação pouco aprofundada dos alunos, a necessidade de transição de ano sem que, muitas vezes, os conhecimentos mínimos tivessem sido alcançados, e com o único objectivo de Portugal figurar em posição de destaque nos rankings europeus de sucesso escolar. Felizmente que a maioria dos professores, pelo menos os das equipas pedagógicas a que tenho pertencido ao longo de mais de trinta anos, não alinhou nessas directivas do passem-os-alunos-senão-levam-tau-tau e continuou a trabalhar com o rigor que a sua consciência profissional desde sempre lhe ditou.
O novo ministro da educação, Tiago Brandão Rodrigues, investigador na prestigiada Universidade de Cambridge na área da oncologia, seria, como era de esperar, um verdadeiro desconhecedor das questões que têm atormentado quem trabalha nesta área tão fascinante que é a Educação. Não sabemos ainda quais os planos concretos do seu ministério. No entanto, as pequenas alterações que começou a introduzir parecem-nos apropriadas e com futuro. Talvez haja nas suas políticas e na sua eventual nova visão sobre estas coisas do ensino intenções de, através de reformas sérias e exequíveis, redignificar a carreira dos professores, responsabilizar os alunos por um maior empenho no seu trabalho, nas suas pesquisas e no estudo das matérias fundamentais para o seu futuro. Em suma, que não haja medo de possibilitar aos alunos, aos docentes por eles responsáveis, aos pais e a todos os parceiros capacidades e conhecimentos para que todos possam continuar livremente a escolher os seus caminhos, a lutar pelos seus ideais e a pôr em causa, sem sombra de hesitação, muitas vezes primeiro ainda que os tão inefáveis sindicatos, o que os governos decidem pôr em prática de lei para lhes tramar a vida, em nome de interesses escusos, filhos muitos deles de pai incógnito e de ventre maldito.

In "O Montemorense", Janeiro de 2016


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