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A relação a três, entre Trump, Zelensky e Putin, jamais
poderá correr bem, tal como outras milhentas relações a três que conhecemos.
Há-de haver sempre alguém a perder. E não será Putin. Ou Trump. Porque estes
agem sobre os outros em clima de medo e intimidação.
No momento da redacção desta breve nota, está tudo em
aberto à espera da decisão do presidente ucraniano em relação ao acordo com os
Estados Unidos sobre a exploração das terras raras na Ucrânia. Trump é uma
amante cara e Putin um zelador exigente, que também não vai ficar de mãos a
abanar. Assim, a ser assinado, o acordo será um passo em frente para a
diplomacia norte-americana pressionar o Kremlin ainda com maior foco, ajeitadas
que vão ficar as vantagens para cada um destes chantagistas políticos.
Que venha a paz. Poderá dizer-se “que venha, mas não a
qualquer custo”. Contudo, Zelensky já pouco pode pedir, depois da humilhação de
que foi alvo na Sala Oval e, mais humilhante ainda, ser obrigado a aceitar o
que os outros dois lhe querem oferecer. Apenas quer que termine a guerra para
que se possam chorar com tranquilidade os milhares de mortos e estropiados que
a estupidez humana causou.
Chamo-lhe “guerra”, tal como (quase) toda a gente lhe
chama. Digo “quase”, porque as chefias e os militantes comunistas do nosso país
preferem referir-se a esta guerra criminosa como uma “acção” ou “intervenção
militar”. Continuam, pois,
agarrados com muitas saudades a um passado que nada tem a ver com os tempos de
hoje, mas que, na mística comunista, é sempre associado à Grande Mãe Rússia,
noutros tempos, dos czares, estes assassinados pelos líderes bolcheviques que,
dando poder a Estaline, viram assim prolongado o sistema de que nunca se
livrariam (excepto, talvez, durante uns anos, no tempo de Gorbachev e Ieltsin):
o da obediência cega e estupidificante a um chefe, senhor da terra, dos corpos
e das mentes dos seus eternos súbditos.
Basta de anacronismos. Basta de guerra. Basta de violação
dos direitos humanos. Basta de fascismo disfarçado por eleições ditas
democráticas. Serve o recado para Putin, para os camaradas que o veneram e para
o outro miúdo inconsequente que vive e vomita ódio do outro lado do Atlântico.
A dúvida, contudo, subsiste: que futuro nos reserva o
futuro?
2
No decorrer da votação da moção de confiança apresentada
por Luís Montenegro na Assembleia da República, limito-me a descrever numa
frase o estado da nação em que vivemos e trabalhamos: somos um caos, sem rei
nem roque. Os partidos representados na Assembleia assemelham-se a umas baratas
tontas, cheias de dúvidas, truques e contradições, sem capacidade para decidir
qual a cor que melhor lhes garanta o acesso ao poder, sobretudo ao poder no
hemiciclo onde tudo se decide. As alianças serão tantas e mudarão tão rapidamente
de uma hora para a outra, que continuarão a ser esquecidos os verdadeiros
problemas do país e as verdadeiras pessoas que dele precisam.
E o resultado foi o esperado: o Governo caiu porque…
Montenegro vai ter de se apresentar na Comissão Parlamentar de Inquérito
requerida pelo PS. Pouco mais há a escrever. O debate de hoje na Assembleia da
República foi um péssimo serviço à democracia e uma falta de respeito pela
nossa inteligência.
Se Costa teria caído, alegadamente, por causa de um
parágrafo escrito pela Procuradora-geral da República, na sequência do processo
Influencer, resta saber quem terá feito cair Montenegro. Se ele próprio,
se um conjunto de factores bem cozinhados entre algumas forças obscuras, para
que o país continue neste Carnaval sem fim, que nos enoja e preocupa a todos.
E a dúvida cá continua: que futuro nos reservam os
políticos nacionais, sempre ameaçados e chantageados pelo tal partido de
extrema-direita, que já irrita pela sua arrogância e déficit democrático?
Anunciada oficialmente a candidatura de Carlos Pinto de
Sá à Câmara Municipal de Montemor-o-Novo, o actual presidente terá naturalmente de precaver-se perante o regresso deste
peso-pesado da política autárquica, que tem sempre encontrado a sua base de
apoio oficial e oficiosa não só em militantes comunistas (com os da velha
guarda cada vez em menor número), mas em cidadãos com outras filiações ou
simpatias partidárias. Pois, Pinto de Sá, presidente da autarquia montemorense
entre 1994 e 2012 e quase ex-presidente da Câmara de Évora, regressa da capital
do distrito a um concelho que conhece como ninguém, e a um terreno de combate
político que foi o seu durante muitos anos. Desta vez, a sua estratégia será
ligeiramente diferente, já que vai encontrar um candidato socialista com
experiência autárquica em termos de gestão, com alguma obra feita e que
derrotou os comunistas nas autárquicas de 2021.
Olímpio Galvão vai, naturalmente, passar uma revista às
mudanças operadas no concelho no decorrer do seu mandato, analisará o que não
foi concretizado, vai perceber as
razões, vai congratular-se com as conquistas alcançadas, pôr tudo nos dois
pratos da balança e preparar-se para a luta.
Várias questões começam a colocar-se, à luz da psicologia
comportamental: querem os montemorenses continuar a garantir o lugar a Olímpio
Galvão e à sua equipa, com um voto de confiança para mais quatro anos, ou
entendem que a candidatura de Pinto de Sá simboliza o regresso do D. Sebastião,
que a Oposição ao actual presidente tanto ansiava?
Fica aqui a última dúvida que me apoquenta: se Carlos
Pinto de Sá tivesse anunciado a sua candidatura a Montemor, por exemplo, há um
ano, teria o actual executivo camarário, e principalmente Olímpio Galvão, feito
um caminho diferente, mais cauteloso, menos descontraído, perante o candidato
comunista que acaba por representar, pelo menos teoricamente, uma ameaça séria aos
socialistas?
Esta dúvida será, talvez, aquela que, de todas, terá uma
resposta clara e certa. Basta esperarmos por Setembro ou Outubro.
João Luís Nabo
In "O Montemorense", Março de 2025
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