terça-feira, 11 de março de 2025

Três dúvidas (ainda) sem resposta

 




1

A relação a três, entre Trump, Zelensky e Putin, jamais poderá correr bem, tal como outras milhentas relações a três que conhecemos. Há-de haver sempre alguém a perder. E não será Putin. Ou Trump. Porque estes agem sobre os outros em clima de medo e intimidação.

No momento da redacção desta breve nota, está tudo em aberto à espera da decisão do presidente ucraniano em relação ao acordo com os Estados Unidos sobre a exploração das terras raras na Ucrânia. Trump é uma amante cara e Putin um zelador exigente, que também não vai ficar de mãos a abanar. Assim, a ser assinado, o acordo será um passo em frente para a diplomacia norte-americana pressionar o Kremlin ainda com maior foco, ajeitadas que vão ficar as vantagens para cada um destes chantagistas políticos.

Que venha a paz. Poderá dizer-se “que venha, mas não a qualquer custo”. Contudo, Zelensky já pouco pode pedir, depois da humilhação de que foi alvo na Sala Oval e, mais humilhante ainda, ser obrigado a aceitar o que os outros dois lhe querem oferecer. Apenas quer que termine a guerra para que se possam chorar com tranquilidade os milhares de mortos e estropiados que a estupidez humana causou.

Chamo-lhe “guerra”, tal como (quase) toda a gente lhe chama. Digo “quase”, porque as chefias e os militantes comunistas do nosso país preferem referir-se a esta guerra criminosa como uma “acção” ou “intervenção militar”.  Continuam, pois, agarrados com muitas saudades a um passado que nada tem a ver com os tempos de hoje, mas que, na mística comunista, é sempre associado à Grande Mãe Rússia, noutros tempos, dos czares, estes assassinados pelos líderes bolcheviques que, dando poder a Estaline, viram assim prolongado o sistema de que nunca se livrariam (excepto, talvez, durante uns anos, no tempo de Gorbachev e Ieltsin): o da obediência cega e estupidificante a um chefe, senhor da terra, dos corpos e das mentes dos seus eternos súbditos.

Basta de anacronismos. Basta de guerra. Basta de violação dos direitos humanos. Basta de fascismo disfarçado por eleições ditas democráticas. Serve o recado para Putin, para os camaradas que o veneram e para o outro miúdo inconsequente que vive e vomita ódio do outro lado do Atlântico.

A dúvida, contudo, subsiste: que futuro nos reserva o futuro?

 

 

2

 

No decorrer da votação da moção de confiança apresentada por Luís Montenegro na Assembleia da República, limito-me a descrever numa frase o estado da nação em que vivemos e trabalhamos: somos um caos, sem rei nem roque. Os partidos representados na Assembleia assemelham-se a umas baratas tontas, cheias de dúvidas, truques e contradições, sem capacidade para decidir qual a cor que melhor lhes garanta o acesso ao poder, sobretudo ao poder no hemiciclo onde tudo se decide. As alianças serão tantas e mudarão tão rapidamente de uma hora para a outra, que continuarão a ser esquecidos os verdadeiros problemas do país e as verdadeiras pessoas que dele precisam.

E o resultado foi o esperado: o Governo caiu porque… Montenegro vai ter de se apresentar na Comissão Parlamentar de Inquérito requerida pelo PS. Pouco mais há a escrever. O debate de hoje na Assembleia da República foi um péssimo serviço à democracia e uma falta de respeito pela nossa inteligência.

Se Costa teria caído, alegadamente, por causa de um parágrafo escrito pela Procuradora-geral da República, na sequência do processo Influencer, resta saber quem terá feito cair Montenegro. Se ele próprio, se um conjunto de factores bem cozinhados entre algumas forças obscuras, para que o país continue neste Carnaval sem fim, que nos enoja e preocupa a todos.

E a dúvida cá continua: que futuro nos reservam os políticos nacionais, sempre ameaçados e chantageados pelo tal partido de extrema-direita, que já irrita pela sua arrogância e déficit democrático?

  

 3

 

Anunciada oficialmente a candidatura de Carlos Pinto de Sá à Câmara Municipal de Montemor-o-Novo, o actual presidente terá naturalmente de precaver-se perante o regresso deste peso-pesado da política autárquica, que tem sempre encontrado a sua base de apoio oficial e oficiosa não só em militantes comunistas (com os da velha guarda cada vez em menor número), mas em cidadãos com outras filiações ou simpatias partidárias. Pois, Pinto de Sá, presidente da autarquia montemorense entre 1994 e 2012 e quase ex-presidente da Câmara de Évora, regressa da capital do distrito a um concelho que conhece como ninguém, e a um terreno de combate político que foi o seu durante muitos anos. Desta vez, a sua estratégia será ligeiramente diferente, já que vai encontrar um candidato socialista com experiência autárquica em termos de gestão, com alguma obra feita e que derrotou os comunistas nas autárquicas de 2021.

Olímpio Galvão vai, naturalmente, passar uma revista às mudanças operadas no concelho no decorrer do seu mandato, analisará o que não foi concretizado, vai perceber  as razões, vai congratular-se com as conquistas alcançadas, pôr tudo nos dois pratos da balança e preparar-se para a luta.

Várias questões começam a colocar-se, à luz da psicologia comportamental: querem os montemorenses continuar a garantir o lugar a Olímpio Galvão e à sua equipa, com um voto de confiança para mais quatro anos, ou entendem que a candidatura de Pinto de Sá simboliza o regresso do D. Sebastião, que a Oposição ao actual presidente tanto ansiava?

Fica aqui a última dúvida que me apoquenta: se Carlos Pinto de Sá tivesse anunciado a sua candidatura a Montemor, por exemplo, há um ano, teria o actual executivo camarário, e principalmente Olímpio Galvão, feito um caminho diferente, mais cauteloso, menos descontraído, perante o candidato comunista que acaba por representar, pelo menos teoricamente, uma ameaça séria aos socialistas?

Esta dúvida será, talvez, aquela que, de todas, terá uma resposta clara e certa. Basta esperarmos por Setembro ou Outubro.


João Luís Nabo

In "O Montemorense", Março de 2025

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Distraídos crónicos...


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