quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Gabinete de Crise reunido de emergência na Câmara de Vila Nova



"(...)" Quando o grupo liderado pelo intrépido Baltazar entrou, com passo decidido, no Largo dos Paços do Concelho, só aos empurrões se conseguia penetrar naquele tecido humano, apertado e consistente, que enchia o espaço àquela hora da manhã. Afinal, não tinha sido ele o único a dar pela falta do monumento. Mais de mil pessoas. Mil não. Duas mil. Mais de duas mil pessoas ali amontoadas, encostadas à sua irritação e impaciência, prestes a exigirem em alta voz e em coro, à boa maneira das manifestações de outrora, a presença do presidente na varanda central do salão nobre. Entretanto (...) as conversas cruzavam-se fortes, nervosas de ansiedade, à espera de uma palavra de Duarte Calabás, presidente eleito pela terceira vez e candidato a um quarto e último mandato e que tinha agora o problema mais grave de todos os problemas graves de todos os seus anos de mandato à frente da autarquia vilanovense.
Trancado no salão nobre, transformado em gabinete de crise, o experiente autarca manifestava, quer pelos traços histriónicos, quer pela voz trémula, uma apoquentação nunca antes vista. Nem quando estivera a meia dúzia de votos de perder o seu lugar para o Bastos Xavier, candidato do maior partido da oposição. "(...)"

A TROCA, in Outros Contos de Vila Nova (Editorial Tágide, 2010)

2 comentários:

Lena M. disse...

Adorei o Bastos Xavier! Fico À espera de conhecerr o nome do presidente!!!

Cloreto de Sódio disse...

Já falta pouco! Um abraço.

Distraídos crónicos...


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