"(...) Maria Benedita susteve a respiração. Não acreditava no que estava acontecer-lhe. Nem um nem outro conseguiram pronunciar palavra. Nem uma sílaba. Por mais sem sentido que fosse.
O vento, transformado em brisa, refrescava-lhes, aos poucos, os corações. As nuvens negras a ameaçar trovoada começavam a dissipar-se. O rio, como que por milagre, sossegou e as rochas duras transformaram-se em areia. Os troncos arrastados pela corrente, que pareciam braços a pedir auxílio, quiseram ser pássaros e sobrevoaram as águas sarapintadas pela espuma dos dias. Dos dias de sofrimento. Do passado. Do que, afinal, ainda se pode mudar.
As lágrimas amargas ficaram rios de mel com laranjas e as veias daqueles dois, até então empedernidas, transformaram-se, elas sim, em caudais violentos de sangue vivo, numa enxurrada de liberdade, como se tivesse chovido mil anos sem parar. Até o rebanho estava silencioso, à espera, guardado pelo cão, em expectativa. Foi ela que recomeçou, em aflição, contrariada por quebrar aquele sossego tão inesperado:
― Simplício! Onde é que arranjaste dinheiro para um presente tão caro? (...)"
ÁGUAS MIL, in Outros Contos de Vila Nova (Ed. Tágide, 2010)
ÁGUAS MIL, in Outros Contos de Vila Nova (Ed. Tágide, 2010)
12 comentários:
A semente esta lançada e a curiosidade aguçada... Quero ler o resto e, apesar de nao poder faze-
-lo no dia do lançamento, fa-lo-ei logo que chegar. Parece fantabolastico ( o computador em que escrevo nao poe acentos... imperdoavel, mas nao quero deixar de congratular-te)
Lena M.
Parece-me muito bem. Eu tenho que lhe confessar uma coisa Professor, eu já li um dos seus contos com uma turma minha de adultos que tiraram tanto prazer da leitura quanto eu!
Depois de uma campanha tão agressiva e tão viral fiquei ainda com mais vontade de o ler.
Cara Lena M.:
Gostava de te ver por lá, mas pronto. Sou paciente e aguardo a tua leitura e a tua crítica. Bjs.
Caro MAR:
Nem imaginas como isso me faz sentir útil. O texto só é do autor... enquanto estiver fechado na gaveta. Depois é de quem tirar prazer da sua leitura.
Era fantástico encontrar-te no dia 30 de Out. na B. Municipal. Um abraço.
Pois é, depois do drama com a torre eis que surge a surpresa e a espera desenfreada por ter um exemplar nas mãos.
Abraço.~
Tou a trabalhar a coisa por forma a poder estar presente.
Não queria forçar-te a alterar o esquema da tua vida, mas tinha um enorme prazer em dar-te um abraço nesse dia.
PS para MAR:
E qual foi o conto que leste com os teus alunos?
Gostei da escrita.
Desculpe, mas não concordo com o seu comentário acerca dos borregos que nada fazem. Eu tenho no meu blogue uma série de medidas contra a crise!
Se me der o gosto de ir até lá dar o seu apoio, fico grata.
Bom fim de semana.
Das letras de verificação é que não gosto mesmo nada, rrs
Olá, São!
As excepções confirmam a regra. Que sejamos a excepção. Vou visitá-la no seu blogue. Tenha um cafezinho à minha espera e um... Poejo Montemorense. Abraço.
E também não foi nas cheias...
Se bem me recordo, o conto chama-se "Sortes" e fazia parte de "Alentejo sem Fim". Vou estar lá dia 30.
É a primeira história do "Alentejo...". Quanto ao dia 30... lá estaremos. Penso que os teus pais também vão. Vai ser um dia de encontros e reencontros. Um abraço.
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