Já se apresentaram, com algum atraso na minha opinião, os cabeças de lista e respectivos acompanhantes, candidatos à Câmara Municipal e aos restantes órgãos autárquicos cá da santa terrinha. Todos os candidatos (PS, CDU, PSD/CDS, Chega) apresentaram novas caras e nomes frescos a acompanharem os bosses: Olímpio Galvão, Carlos Pinto de Sá e António Xavier apostaram em novas caras para a sua equipa, ou por indisponibilidade dos primeiros contactados, ou porque queriam mesmo mostrar um elenco diferente, ou quase, para gerir os destinos dos montemorenses. Frederico Tropa, candidato do Chega, é cara desconhecida e pouco ou nada há ainda a dizer sobre alguém que não se conhece e que não tem qualquer trabalho apresentado.
O povo é soberano
e na sua decisão irá pesar o trabalho feito pelo executivo em funções, liderado
pelo socialista Olímpio Galvão, o dinamismo e a presença permanente de António
Xavier nas decisões políticas, como vereador da oposição pela coligação PSD/CDS
e, não direi a forma como a CDU exerceu a oposição, mas sim a memória do excelente trabalho de Carlos Pinto de Sá, presidente do município entre 1994 e 2012.
O público-alvo de
cada força partidária já não será exactamente o mesmo, e o esforço dos
candidatos vai no sentido de entender a tendência de voto de cada grupo
social/etário e contrariar quem quer votar em partidos situados nos extremos do
espectro, sobretudo, por vingança, ao acaso ou só mesmo para contrariar as
tendências do passado recente. A desilusão será porventura o maior pretexto apresentado por muitos para mudarem o sentido de voto para os antípodas da sua real fé ideológica. Se fizermos um pequeno exercício
de memória, concluiremos que esse sentimento de desilusão tem estado presente
na nossa vida democrática desde as nossas primeiras eleições, no dia 25 de
Abril de 1975, para a Assembleia Constituinte.
As últimas vontades de um tipo
no seu juízo perfeito
Avaliei ponderadamente todas as possibilidades e conclui
que vou morrer, tal como qualquer um dos meus leitores que se encontra neste
momento desse lado do texto. Cá em casa são todos muito tanatofóbicos e, por
isso, ficam mais do que contrariados quando se fala da morte. Mas há que
desfazer este tabu milenar. Falemos, então, não da minha morte, que virá quando
vier, mas do que deve ser feito imediatamente a seguir ao momento da sua
chegada, momento natural e esperado. Assim, escrevi meia-dúzia de ideias que
enviei para o email da minha filha e que ela fará cumprir quando for a
altura certa. Aqui vão elas, em texto corrido, agora tornadas públicas à revelia da Família:
Muitos já me perguntaram se quero um sacerdote católico no funeral. Claro que sim. Um agnóstico, ainda que agnóstico, é um ser religioso, tal como o eram os homens das cavernas, antes de Deus ter assumido o comando desta máquina chamada Universo, de acordo com o que se diz… Depois, se fui baptizado, se fiz a primeira comunhão, com o saudoso Padre Simões, se fui casado por ele, se os meus três filhos foram baptizados (um pelo Padre Simões, outros pelo igualmente saudoso Padre Alberto), se encontro na Igreja momentos, pessoas, amigos, compositores e poetas inspiradores e de boa memória, é absolutamente natural que um padre católico me acompanhe nos meus últimos momentos sobre esta Terra.
O velório vai ser numa igreja e vai ser simples: as
pessoas aparecem, dão os sentimentos à família, estão ali um bocadinho a olhar
para o falecido e, depois, vão até lá fora onde estará montada uma banca com
doces e salgados, vinho, cerveja, gin, chá, café, águas, para que os amigos
possam petiscar, conviver, recordar e reforçar laços... à borla e à minha pala.
Entretanto, podem emocionar os doces tímpanos com a minha obra favorita de
todos os tempos e que irá servir de fundo aos momentos derradeiros da minha
passagem por esta Terra: o Requiem, escrito na sua maior parte por Mozart e terminado por dois ou três (não
se tem a certeza) dos seus discípulos, devido à morte prematura do Mestre.
No altar-mor da igreja, mesmo por cima da urna, vão poder
ver, num ecrã, imagens dos grandes momentos vividos pelo falecido, com a
família, os amigos, os colegas e, claro, o seu Coral de São Domingos. Em
relação a este grupo de cantores extraordinários, não vou pedir que cantem
The Long Day Closes, do Arthur Sullivan, porque não lhes quero dar mais
trabalho do que aquele que lhes dei durante 50 anos (sim, o meu passamento
ocorrerá depois de 2037). Mas, ainda assim, se fizerem muita questão… Contudo,
não vou poder aplaudir, como facilmente se pode concluir.
No dia do funeral, tudo decorrerá com a normalidade
desejada. Estará o sacerdote, que presidirá à cerimónia, com direito ao uso da
palavra por parte de quem quiser fazê-lo, com três minutos de tempo de antena
para cada interveniente. Encomendado o corpo e entregue a alma, e sem certa comunicação
social por perto, partirei acompanhado dos amigos e familiares que me amaram em
vida e que ficam, de facto, cheios de pena que me tenha apagado.
Depois de cremado no Cemitério Novo da cidade (até lá, a
obra do crematório estará, decerto, pronta), vamos até à Torre do Relógio,
junto da qual os meus filhos e a minha viúva espalharão as minhas cinzas.
É verdade! Uma última informação: já está escrita a lista
de pessoas que não poderão assistir ao meu funeral. Claro que é um documento em
permanente actualização, porque até esse
momento, muito (?) rio há-de correr debaixo da ponte.
In "O Montemorense", Setembro de 2025