sexta-feira, 14 de novembro de 2008

"I have a dream"

Quando, em 1963, Martin Luther King pronunciou, junto do monumento ao Presidente anti-esclavagista Abraham Lincoln, o seu célebre discurso de libertação, não imaginava que, menos de meio século depois, um negro seria eleito para o mais alto cargo da nação americana. Não sabemos se a mudança vai ser para melhor. Sabemos que vai haver mudança. Um homem com 47 anos, negro e inteligente, não poderá ter o mesmo comportamento que um homem de 62 anos, branco e bronco. A eleição de Barack Obama representa, na sua mais profunda essência, a reconciliação do povo americano com o lado mais condenável do seu passado – um passado esclavagista, racista, incumpridor das verdades democráticas e igualitárias escritas na Constituição Americana, redigida e assinada por figuras ilustres, em Filadélfia, no ano de 1787.
King teve o sonho que Obama acaba de corporizar. Dizia o líder dos movimentos para os direitos dos negros, escutado por milhares de pessoas: “Tenho um sonho, profundamente enraizado no sonho americano: que esta nação ainda vai erguer-se e viver o verdadeiro significado dos seus princípios, e que os filhos dos antigos escravos e os filhos dos antigos proprietários de escravos possam sentar-se juntos à mesa da fraternidade.” Que Obama use a sua inteligência e a força e legitimidade que lhe deu o povo americano para transformar num mundo realmente melhor o terrível pesadelo em que se tornou a terra de todas as oportunidades. Para isso, vai ser preciso contrariar as loucuras e os actos de estupidez e totalitarismo protagonizados por uma série de presidentes depois de John Kennedy, concretizados sobretudo na ingerência arrogante nos assuntos internos de outros países onde os interesses económicos americanos estejam em causa. Não vai ser fácil, Obama. Nada fácil. Um tal Jesus Cristo quis mudar a História (e mudou) mas as coisas não acabaram em beijos e abraços.
A América acabou de fazer o que Portugal ou qualquer outro país desta Europa branca e civilizada não faria: eleger um candidato negro para gerir a nação. Estou a imaginar a questão aqui mais a nível local: como seria, se houvesse um candidato às próximas autárquicas com ideias, carisma e bom senso, mas… de uma cor diferente, não de partido… mas de pele? Não fiquemos aflitinhos, caros leitores, porque não vamos ter de passar por essa experiência inédita e desafiadora.

4 comentários:

Anónimo disse...

Dica de leitura...Textos ácidos e sarcásticos, pra quem quer ficar por dentro dos assuntos políticos e dos últimos acontecimentos de forma leve.


www.mosaicodelama.blogspot.com

Boa leitura!


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vovó disse...

belíssimo texto, Amigo!
beijocasssss
vovó Maria

Cloreto de Sódio disse...

Sempre atenta e amiga, mesmo longe do nosso burgo. Rasgo o nevoeiro da brumosa e envio-lhe um abraço da SUA e da minha cidade soalheira!

samuel disse...

Grande (e esperançoso) texto!
Quanto à experiência, por cá no burgo... seria reveladora, certamente. Educativa... talvez.

Distraídos crónicos...


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