Sempre conheci o meu Pai a cantarolar. Juntar-se ao Coral de São Domingos, pensava ele, permitir-lhe-ia levar esse gosto mais a sério e passar de cantarolar a cantar. Mas, não foi só isso que lhe aconteceu. Desde o primeiro momento, o meu Pai estabeleceu uma forte relação com todo o grupo e ganhou uma nova família, que sempre o acarinhou e com ele partilhou muitas alegrias. Recordo o entusiasmo com que regressava dos ensaios, concertos e viagens. A felicidade com que nos falava do convívio e das aventuras vividas. As gargalhadas que dava quando, apesar de cansado, nos queria contar algumas peripécias assim que chegava. O gosto com que coleccionava os cartazes de divulgação dos concertos e organizava as fotografias.
A forte relação que o grupo também estabeleceu com ele ficou, para nós, bem patente na vossa presença e nas vossas palavras, e na preocupação e carinho com que o acompanharam, principalmente nas últimas semanas. Esperando que não me levem a mal, não posso deixar de destacar o João Luís que, para além das muitas qualidades que todos lhe conhecemos, deixou ainda mais clara, a grandeza do seu carácter, durante o último período da vida do meu Pai. Cervantes tinha razão quando dizia “Onde há música não pode haver coisa má”.
Todos partimos. A separação física é uma inevitabilidade. Ainda assim, o meu Pai, sempre tão cuidadoso com a sua aparência, levou com ele um último elo físico de ligação convosco, a camisa do C.S.D. Neste momento tão doloroso, a vossa amizade permite-nos dividir a nossa dor e as vossas palavras mostram que, através da capacidade que o meu Pai teve de nos e vos deixar recordações felizes, continua a existir depois da morte.
Não vos agradeço, porque a amizade não se agradece, mas envio-vos a todos um abraço muito sentido, em meu nome pessoal, da minha mãe, do meu irmão, da minha cunhada (uma verdadeira filha), dos meus sobrinhos e do meu sobrinho-neto, mais uma prova de que o meu Pai continua a existir depois da morte.
Paula Simões
1 comentário:
Não sei quem era o Sr. António Simões mas junto desde já incondicionalmente a minha voz à de quantos o choram, invocando aqui, comovida e, sobretudo, muito sentidamente a bela lição do Poeta John Donne.
Eu como ele tratando-se de seres humanos "nunca mando perguntar por quem um sino dobra: é sempre, em última instância, por mim que ele dobra".
Quem tem Amigos que o choram pode legitimamente aspirar a um merecido e sereno eterno repouso.
Que descanse, pois, em Paz.
Os meus sentidos pêsames à Família.
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