Ocupada com os seus muitos afazeres, a minha fofa confia em mim no que lhe vou transmitindo em relação ao mundo, aos seus atrasos e avanços quotidianos e, para que ela não sofra muito, lá eu vou pintando as coisas com cores menos escuras, dando, aqui e ali, uma ou outra pincelada de optimismo, saberão os deuses onde o vou buscar. Ela, que tem por obrigação profissional mostrar aos outros que o mundo não é tão mau como o pintam, se viver num espaço de felicidade contínua, tem a vida facilitada no consultório e… na vida. Quando lhe disse, a medo, mais escondendo que mostrando, que o Portugal que tanto amamos teria, provavelmente, de voltar às notas do Santo António, do Pedro Álvares Cabral e da Rainha D. Maria, ela sorriu e pediu-me: “Espera que eu já venho”.
Nem passaram dois minutos quando apareceu à minha frente, trazendo na mão esquerda um talego do pão, daqueles grandes e coloridos, inchado e pesadote. Estava cheio de notas do antigamente. Tantas que ainda hoje não fui capaz de contá-las. Na mão direita segurava um velho conversor azul e que há muito não tinha qualquer uso. A fofa olhou para mim e disse-me, com ar triunfante, perante o meu ar esgazeado: “Eu nunca confiei no euro!”