Vamos de férias. Quem quiser, ou puder, sair de
Montemor, parte com uma estranha e dolorosa imagem na retina: a de uma guerra
infindável, a de uma Guerra dos Seis Dias (dos Cem Anos) ali para a Zona do
Centro Histórico, que envolve o Jardim Público e as ruas adjacentes. Após
tantos meses de buracos, de escavações, de rebentamentos, de informações e
contra-informações, todo aquele espaço, tão característico de Montemor,
continua a parecer, todos os dias um bocadinho mais, um cenário de guerra onde
poucos são os sobreviventes. Poucos são os comerciantes que continuam com
coragem para manterem as portas abertas.
Já sabemos que obras (em casa ou fora dela) são sempre
uma dor de cabeça. O que os responsáveis autárquicos e de quem anda a mexer no
espaço parecem não ter percebido é que aquela zona, tão emblemática da cidade
de Montemor-o-Novo, não estava em condições de beneficiar de obras, feitas,
pelo menos, daquela forma. E têm de aceitar que assim é. Parece terem faltado as prospecções
geológicas adequadas (não digo que não as tenham feito), de modo a que, depois,
se actuasse em conformidade, de forma mais rápida e mais eficaz, para que as
obras subsequentes prejudicassem minimamente o dia-a-dia do comércio daquela
zona. “Ninguém sabia o que iria encontrar”, diz-se por aí em defesa dos
envolvidos. Então, digo eu, que não percebo nada disso, não há aparelhómetros,
com ecrãs e tudo, que nos dizem o que se encontra no subsolo? Estarei enganado?
Não houve tempo (ou dinheiro) para se utilizarem essas engenhocas? Num país do
século XXI? Numa obra da responsabilidade de uma Autarquia moderna e
práfrentex?
E os que ali têm montado, há anos, o seu ganha-pão?
Com despesas certas: água, luz, rendas, impostos, ordenados aos empregados...?
Todos os comerciantes, pelo menos com quem falei, focaram o decréscimo abismal
das vendas, em comparação com as dos anos anteriores. Todos mostraram o seu
desagrado, a sua tristeza, o seu desespero porque, apesar das explicações e das
justificações da D. Autarquia, da sua boa vontade e da sua aparente
solidariedade, nada se resolveu de acordo com o esperado.
Vamos de férias e, quem quiser, ou puder, sair de
Montemor, vai com a certeza, pelo menos é o que diz a Fofa, de que, quando
regressar, encontrará tudo exactamente na mesma: os buracos, o pó, a lama (se
chover, que isto o Buraco do Ozono anda completamente amalucado), o desespero
dos comerciantes e dos moradores que nunca mais têm sossego... nem as casas
limpas.
Sabemos que os diversos partidos da Oposição têm
manifestado a sua preocupação e lançado as suas críticas à forma como todo o
processo está a ser conduzido. No entanto, no estado em que estão as coisas,
aquilo que é mais natural acontecer é as obras continuarem, uns dias para a
frente, outros dias às arrecuas, sem que ninguém possa fazer nada. O que é
importante é que tudo esteja pronto antes de Setembro ou de Outubro de 2021,
que é quando vamos votar na próxima ou no próximo Presidente da Câmara.
Gostaríamos de, qual deus Janos, ter uma das nossas
(muitas) caras viradas para o futuro para visualizarmos como estará todo aquele
espaço nessa altura. Com um Jardim decente e acolhedor? Com a Rua de Aviz,
metade para pedestres e metade para trânsito? Com as empresas transportadoras
de materiais a terem de estacionar... não sabemos onde? As lojas ainda estarão
abertas e a tentar recuperar o enorme prejuízo que estas decisões camarárias
lhes estão a dar? A Presidente Hortênsia irá ainda inaugurar a obra com a pompa
e a circunstância devidas? Ou será o Presidente Olímpio Galvão, ou o Presidente
Vítor Vicente? Ou o/a Presidente da área do PSD, se o/a houver na altura?
Ou será qualquer outro presidente a cortar a fita que,
entretanto, decida dizer “basta!” a tanta falta de tacto, a tanta briguinha de
trolaró, e tenha, na verdade, vontade e carisma para elevar a cidade e o
concelho ao topo da hierarquia da qualidade, da estética e da captação de
investimentos e de novas gentes que nos ajudem a progredir?
Não sabemos.
Agora, resta-nos irmos de férias (quem puder) e
aguardar, esperançosos, que a cidade e a D. Autarquia não se transformem num ninho de grifos a
sacudirem as águas (que são muitas) do capote, em relação aos disparates que
ninguém ainda foi capaz de corrigir. “Ah”, resfolgou levemente o Balú, erguendo
a orelha esquerda (ele que nunca foi muito de politiquices), “e espero que,
quando os meus donos voltarem do Dubai, que o Castelo ainda esteja inteiro e
que as associações de Montemor, pelo menos aquelas que têm feito um trabalho
meritório em prol da cidade, do concelho e do país, tenham mais apoio da D.
Autarquia que, segundo o meu excelentíssimo dono, que tudo sabe e que tudo diz,
se está a tornar numa grandessíssima forreta.”
E, claro, ficamos sempre curiosos sobre quem irá ser o
próximo embaixador cultural do concelho de Montemor, terra de actores, de
cantores, de bailarinos, de toureiros, de pintores, de escritores e de músicos.
E de arquitectos e de engenheiros e de operários fabris, e de gente ligada à
ecologia, e de agricultores e de comerciantes. Montemor tem, na verdade, tanta
gente de valor!
Mas há as outras, as que mentem, as que não cumprem
com os seus compromissos, as que exigem tudo sem dar nada em troca, as que
prometem o Céu e a Terra e continuam fechadas em si e nos seus dogmas, que
apregoam umas coisas e fazem outras totalmente contrárias, sem aceitarem as
ideias do seu semelhante e que julgam os outros por serem diferentes. Dessas
não me apetece falar aqui.
Pronto, era isto. Boas férias.
João Luís Nabo
In "O Montemorense", Julho de 2019