domingo, 14 de julho de 2019

As Obras de Santa Autarquia



Vamos de férias. Quem quiser, ou puder, sair de Montemor, parte com uma estranha e dolorosa imagem na retina: a de uma guerra infindável, a de uma Guerra dos Seis Dias (dos Cem Anos) ali para a Zona do Centro Histórico, que envolve o Jardim Público e as ruas adjacentes. Após tantos meses de buracos, de escavações, de rebentamentos, de informações e contra-informações, todo aquele espaço, tão característico de Montemor, continua a parecer, todos os dias um bocadinho mais, um cenário de guerra onde poucos são os sobreviventes. Poucos são os comerciantes que continuam com coragem para manterem as portas abertas.
Já sabemos que obras (em casa ou fora dela) são sempre uma dor de cabeça. O que os responsáveis autárquicos e de quem anda a mexer no espaço parecem não ter percebido é que aquela zona, tão emblemática da cidade de Montemor-o-Novo, não estava em condições de beneficiar de obras, feitas, pelo menos, daquela forma. E têm de aceitar que assim é.  Parece terem faltado as prospecções geológicas adequadas (não digo que não as tenham feito), de modo a que, depois, se actuasse em conformidade, de forma mais rápida e mais eficaz, para que as obras subsequentes prejudicassem minimamente o dia-a-dia do comércio daquela zona. “Ninguém sabia o que iria encontrar”, diz-se por aí em defesa dos envolvidos. Então, digo eu, que não percebo nada disso, não há aparelhómetros, com ecrãs e tudo, que nos dizem o que se encontra no subsolo? Estarei enganado? Não houve tempo (ou dinheiro) para se utilizarem essas engenhocas? Num país do século XXI? Numa obra da responsabilidade de uma Autarquia moderna e práfrentex?
E os que ali têm montado, há anos, o seu ganha-pão? Com despesas certas: água, luz, rendas, impostos, ordenados aos empregados...? Todos os comerciantes, pelo menos com quem falei, focaram o decréscimo abismal das vendas, em comparação com as dos anos anteriores. Todos mostraram o seu desagrado, a sua tristeza, o seu desespero porque, apesar das explicações e das justificações da D. Autarquia, da sua boa vontade e da sua aparente solidariedade, nada se resolveu de acordo com o esperado.

Vamos de férias e, quem quiser, ou puder, sair de Montemor, vai com a certeza, pelo menos é o que diz a Fofa, de que, quando regressar, encontrará tudo exactamente na mesma: os buracos, o pó, a lama (se chover, que isto o Buraco do Ozono anda completamente amalucado), o desespero dos comerciantes e dos moradores que nunca mais têm sossego... nem as casas limpas.
Sabemos que os diversos partidos da Oposição têm manifestado a sua preocupação e lançado as suas críticas à forma como todo o processo está a ser conduzido. No entanto, no estado em que estão as coisas, aquilo que é mais natural acontecer é as obras continuarem, uns dias para a frente, outros dias às arrecuas, sem que ninguém possa fazer nada. O que é importante é que tudo esteja pronto antes de Setembro ou de Outubro de 2021, que é quando vamos votar na próxima ou no próximo Presidente da Câmara.
Gostaríamos de, qual deus Janos, ter uma das nossas (muitas) caras viradas para o futuro para visualizarmos como estará todo aquele espaço nessa altura. Com um Jardim decente e acolhedor? Com a Rua de Aviz, metade para pedestres e metade para trânsito? Com as empresas transportadoras de materiais a terem de estacionar... não sabemos onde? As lojas ainda estarão abertas e a tentar recuperar o enorme prejuízo que estas decisões camarárias lhes estão a dar? A Presidente Hortênsia irá ainda inaugurar a obra com a pompa e a circunstância devidas? Ou será o Presidente Olímpio Galvão, ou o Presidente Vítor Vicente? Ou o/a Presidente da área do PSD, se o/a houver na altura?
Ou será qualquer outro presidente a cortar a fita que, entretanto, decida dizer “basta!” a tanta falta de tacto, a tanta briguinha de trolaró, e tenha, na verdade, vontade e carisma para elevar a cidade e o concelho ao topo da hierarquia da qualidade, da estética e da captação de investimentos e de novas gentes que nos ajudem a progredir?
Não sabemos.
Agora, resta-nos irmos de férias (quem puder) e aguardar, esperançosos, que a cidade e a D. Autarquia  não se transformem num ninho de grifos a sacudirem as águas (que são muitas) do capote, em relação aos disparates que ninguém ainda foi capaz de corrigir. “Ah”, resfolgou levemente o Balú, erguendo a orelha esquerda (ele que nunca foi muito de politiquices), “e espero que, quando os meus donos voltarem do Dubai, que o Castelo ainda esteja inteiro e que as associações de Montemor, pelo menos aquelas que têm feito um trabalho meritório em prol da cidade, do concelho e do país, tenham mais apoio da D. Autarquia que, segundo o meu excelentíssimo dono, que tudo sabe e que tudo diz, se está a tornar numa grandessíssima forreta.”
E, claro, ficamos sempre curiosos sobre quem irá ser o próximo embaixador cultural do concelho de Montemor, terra de actores, de cantores, de bailarinos, de toureiros, de pintores, de escritores e de músicos. E de arquitectos e de engenheiros e de operários fabris, e de gente ligada à ecologia, e de agricultores e de comerciantes. Montemor tem, na verdade, tanta gente de valor!
Mas há as outras, as que mentem, as que não cumprem com os seus compromissos, as que exigem tudo sem dar nada em troca, as que prometem o Céu e a Terra e continuam fechadas em si e nos seus dogmas, que apregoam umas coisas e fazem outras totalmente contrárias, sem aceitarem as ideias do seu semelhante e que julgam os outros por serem diferentes. Dessas não me apetece falar aqui.

Pronto, era isto. Boas férias.

João Luís Nabo
In "O Montemorense", Julho de 2019

Distraídos crónicos...


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