terça-feira, 26 de abril de 2016

Se faz favor, onde fica o Centro de Saúde?



Temos em Montemor-o-Novo um novo Centro de Saúde. Pelo que me é dado a perceber, as novas instalações, situadas nas traseiras do Hospital de São de Deus, têm as condições necessárias e suficientes para dar assistência aos que necessitam dos seus cuidados. Nós, que somos de cá, sabemos o caminho até àquele novo equipamento de saúde. E os de fora? Onde é que está a sinalética adequada que lhes indique o caminho certo e mais curto para lá? Já aconteceu alguns veículos ligados às urgências hospitalares irem parar, a meio da madrugada, ao edifício velho (no antigo Hospital de Santo André, no lado oposto da cidade), porque seguiram as indicações que ainda estão em vigor na via pública.
Não, desta vez, não é confusão da fofa, nem é minha a vontade de criticar. Fiquei a saber disto no próprio Centro de Saúde novo, dito por quem sabe. Portanto, meus senhores, como diz uma amiga de há muitos anos, menos riso e um pouco mais de siso. Toca a colocar na via pública os sinais devidos e com as direcções correctas para que não haja situações graves a lamentar. Digo eu, que nunca pensei que isto fosse possível.
Ingénuo. Como uma criança no meio de um campo de flores.

In "O Montemorense", Abril de 2016


domingo, 24 de abril de 2016

Abril, Abril...



Há 42 anos, tinha eu treze anos e fui, ao lado do meu Pai, (eu acho que ele me deu a mão, por questões sabe-se lá de quê!) à enorme manifestação do 1.º de Maio, junto ao Cine-teatro Curvo Semedo. Largas centenas de montemorenses juntavam-se, pela primeira vez em liberdade, para celebrar, não só o Dia do Trabalhador, mas ainda a Revolução que tinha começado na semana anterior. Velhos, novos, crianças, trabalhadores, todos viveram aquela nova experiência de lágrimas nos olhos. Havia bandeiras, música, gritos, abraços, discursos. E havia, ao contrário de hoje em dia, muita gente, unida no mesmo propósito: saborear de forma real, palpável, o que era estar na via pública, livre, feliz, com centenas de amigos à sua volta e sem pides ou bufos à espreita.
Uns dias antes, na manhã do dia 25, a professora Jesuína Raposo tinha-nos dito, assim que entrámos para a sala de aulas, prontos para mais um teste de Matemática: “Vão para casa, para junto dos vossos pais, porque hoje não há aula.” Lembrei-me que, nessa manhã, a minha Mãe tinha o rádio ligado e tinha soprado discretamente um segredo qualquer ao meu Pai, antes de este ter saído para o trabalho. Ao chegar à Avenida Gago Coutinho, acompanhado por alguns colegas da turma, parei. Os militares que tinha partido de Estremoz em auxílio do Capitão Salgueiro Maia, prestes a tomar o Quartel do Carmo, em Lisboa, desciam aquela artéria central da minha vila, metidos em chaimites revolucionárias, entusiasmadas e expectantes.
Em boa hora.



In "O Montemorense", Abril de 2016

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Como num campo de flores




É incontornável o momento que se vive neste mês. Lembrar a acção dos militares de Abril, ocorrida há 42 anos, é perpetuar a vontade indomável de não querermos de novo no país uma ditadura, desumana como todas as ditaduras, onde os mais pobres não tinham voz, onde os mais ricos detinham o poder e o domínio sobre os outros e durante a qual foram perseguidos, presos e mortos muitos dos que ousaram levantar a mão contra o querido líder e o seu abençoado regime.
Houve exageros durante todo o processo revolucionário. É inquestionável. Profundos e irreversíveis, como acontece, desde sempre, em todos os processos revolucionários. Voltaram a cometer-se injustiças, quando se procurou, com todas as forças, inverter os papéis e se pensava que qualquer um poderia gerir o país, ainda que, para tal lhe faltasse as “habilitações” necessárias. Os que saíram magoados da Revolução, e sabemos que foram muitos, gostariam que tudo tivesse sido de outra maneira. Talvez até isso tivesse sido possível. Se, antes de Abril, o povo português não tivesse alimentado durante décadas uma vontade indomável de querer ser livre. Depois, tal como um rebanho, solto após anos de cativeiro, mediu mal a liberdade e acabou por repetir erros contra os quais tinha lutado. Nunca George Orwell* tinha tido tanta razão.

Mas como viver um novo estado de coisas se tal nunca tinha acontecido antes? Soltemos uma criança num campo cheio de flores e verificaremos que ela, no seu entusiasmo ingénuo e com a sua inexperiência de vida, vai acabar por colher uma grande parte, acreditando que, nas suas mãos, ou nos vasos e nas jarras lá de casa, elas venham a ter uma maior hipótese de sobrevivência.

*George Orwell, (1903- 1950) escritor, jornalista e ensaísta político inglês, autor de Animal Farm (O Triunfo dos Porcos), onde denuncia os exageros dos regimes totalitários e as consequências das revoluções contra essas formas de governo.


In "O Montemorense", Abril de 2016

Distraídos crónicos...


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