Escrever sobre a actualidade que nos assalta diariamente nas televisões e nas maravilhosamente malditas redes sociais é mesmo um sacrifício, porque não conseguimos retirar das informações uma gota de bom senso que possamos aqui transformar num rio de ideias, propostas ou conselhos para quem precise deles.
Portugal está a
colapsar após 50 anos de Governos socialistas e sociais-democratas/centristas.
Depois das sequentes e angustiantes quedas dos governos provisórios nos
primeiros meses pós-revolução (até parecia que tínhamos regressado à Primeira
República), sucederam-se verdadeiras equipas de extermínio que nos conduziram ao
lugar degradante e, aparentemente, sem futuro onde nos encontramos há já tanto
tempo. Há tanto tempo, que até já nos habituámos… à boa e tristinha maneira
portuguesa do “Cá vai a gente indo…”
Houve momentos de
clarividência, pois que os houve: o fim da guerra em África, a libertação dos
presos políticos, o fim da censura, a criação do Sistema Nacional de Saúde, a conquista do
direito à greve, o multipartidarismo, as eleições livres, o direito à educação,
o direito à justiça, de forma isenta e igual para todos, o lento caminho em
direcção à igualdade de género, os meios de comunicação rodoviária a unir
quase todo o país…
Mas ficámos por
aqui. Os lobbies, os amiguismos, os interesses e a corrupção tomaram
conta do quintal, e o país, por muitos milhões de euros que viessem da
Comunidade Europeia, nunca conseguiu equilibrar as contas, sobrando sempre para
os que, eternamente agarrados à rocha, levam com todas as tempestades levantadas
pela ladroagem que por aí tem andado e tarda em acabar, porque a Justiça branda
nada consegue, ou quer, fazer.
Nas escolas, e apesar de alguns professores ainda
acreditarem e praticarem os valores da velha escola (não a velha, onde a
violência abundava, mas a velha, onde o professor transmitia conhecimentos, sem
receio de que esses conhecimentos fossem postos em causa ou desprezados), estão
ansiosos pela chegada do dia da aposentação, para poderem afastar-se de um
sistema cada vez mais burocrático e no qual têm mais valor as actividades extra-curriculares
do que o que se diz, pensa e ensina em frente ao quadro de uma sala de aula. Se
queres ser comunitariamente incluído e aplaudido… dá poucas aulas e passeia
muito.
Cena
Triste II
Nos hospitais públicos,
os doentes, mesmo os que necessitam de cuidados de maior urgência, esperam eternamente
até serem vistos pelos médicos e enfermeiros, aguardam longas horas, em
sofrimento, até que haja um bloco operatório livre para que o seu caso seja
tratado, aguardam meses por consultas da especialidade até ao dia em que morrem
e já não vão precisar delas. São horas, dias desesperantes de espera: velhos,
novos, crianças, todos são tratados da mesma maneira: mal e de forma negligente.
Mas não culpemos os médicos. Culpemos o sistema, o Estado que gere o sistema e
que nada faz para inverter a desordem em que isto ficou. Há profissionais de
saúde, tal como há professores, que ainda acreditam em tempos melhores. Que se
vão mudando os Governos até a coisa afinar…
Cena
Triste III
Na Justiça temos o
que vemos e lemos todos os dias: procuradores sob o foco da opinião pública por
fraca prestação no exercício das suas funções, juízes a serem julgados por
suspeitas de corrupção e, cereja no topo do bolo, a decisão da procuradora
Lucília Gago, que fez incluir um parágrafo no comunicado a propósito da Operação
Influencer que acabaria por derrubar um Governo inteirinho. Este parágrafo
foi, digamos assim, a cadeira de António… Costa. Como consequência, recebemos
de presente um outro executivo, com ministros e secretários de estado que, qual
figurinhas de presépio, ali estão apenas para decorar o musgo debaixo da árvore
de Natal. De política nada percebem. Nem de contas. Nem de gestão. Nem de nada.
Última
Cena Triste
“Temos tudo para
sermos bons”,
desabafava um amigo, recentemente, numa das esplanadas da cidade,
após um copioso lanche de produtos de dieta alentejanos. “E temos”,
respondi, do alto da minha provecta idade, beberricando um branco fresco, frutado e da região.
Mas o sistema não nos deixa ser “bons”. Se passarmos as várias linhas vermelhas que os políticos nos estendem à frente, linhas que definem bem a sua vontade de um poder absoluto, acabamos por ter problemas, ou com a justiça ou com a comunidade profissional em que nos inserimos. Neste país, os “bons” são obrigados a sair para ver reconhecido o seu verdadeiro valor. Temos cientistas, médicos, enfermeiros, professores, pensadores, escritores, actores, jornalistas topo de gama. Muitos não estão cá, porque este país madrasto os chutou daqui para fora. Outros profissionais nas mais diversas áreas partiram também, deixando vagas para centenas de imigrantes que vêm de várias partes do Mundo à procura da felicidade (Como estão enganados!...)
E, depois, last but not least, temos ainda o fenómeno Marcelo, cavalheiro que nunca entendeu a diferença entre as funções de um comentador político e as de um Presidente da República. Marcelo perdeu por completo o sentido de Estado e de responsabilidade perante um Governo e um país (triste, mas um país), quando comenta de forma aleatória e um bocado alucinada tudo o que se passa à sua volta. Faz-me lembrar outros políticos que, sem qualquer maturidade e preparação, assumem cargos para os quais não foram talhados, acabando por, em momentos de maior pressão, revelar a sua fraqueza e incapacidade de gerir contrariedades. O Governo está cheio deles.
Muitos ainda hão-de vir. A raça está difícil de acabar.
João Luís Nabo
In "O Montemorense", Maio de 2024