Apesar desta falta de ar que aflige o país, o chefe do Governo afirmou, mais do que uma vez, que não precisaríamos de pedir ajuda a ninguém. Regressámos à tristemente célebre expressão com que Salazar nos isolou do resto do mundo. Depois de, qual doutor Fausto calculista e interesseiro, termos vendido a alma à Europa, depois da cedência da nossa personalidade enquanto nação independente, a troco de uns milhões de euros para subsídios para a construção de piscinas e má-na-sê-quê por esse país afora, agora que nos devíamos candidatar a apoios externos, queremos ficar orgulhosamente sós. Eu não sei o que é que esta gente do governo anda a comer. Mas que lhe provoca graves incómodos cerebrais, lá isso não há dúvida.
O colapso definitivo dar-se-á quando se demitirem alguns elementos das estruturas do Estado, quer civis, quer militares, e que ainda permitem que o país vá andando, deixando esta ruína a navegar à bolina. E, pelas minhas contas, não há-de faltar muito: os juízes estão descontentes e frustrados com a justiça que são obrigados a administrar; os militares estão a viver dificuldades em termos de salários e de promoções; os agentes da autoridade sentem cada vez menos autoridade (prendem os criminosos, que são libertados pouco tempo depois); a máquina do partido do governo anda com uns pedregulhos na engrenagem (há socialistas que já quebraram o verniz e começaram a pôr a boca no trombone). Para além disto, os professores sentem-se todos os dias obrigados a cumprirem normativos que não fazem o mínimo sentido e que ferem de morte a sua prática pedagógica; os cursos superiores ficaram mais curtos e muitos licenciados saem das universidades sem saberem ler nem escrever e sem competência para coisa nenhuma. Mas não é grave: não há emprego para poderem exercitar alegremente essas incapacidades.
Contudo, quem nos governa continua a gerir esta coisa chamada Portugal com alguma coerência. Pedir ajuda para quê? Era dar muito nas vistas. Um país que construiu 10 estádios para o Euro 2004, que quer montar um aeroporto de raiz, como se fosse um simples jogo de Lego, primeiro não, mas depois sim, na margem Sul do confuso Tejo, um país que teimou até ao último momento em construir auto-estradas e caminhos-de-ferro em direcção a Espanha e que se candidatou com os vizinhos à organização do Mundial de 2018, não precisa, de facto, de ajuda. Os responsáveis por estas ideias megalómanas é que precisam. De ajuda psiquiátrica urgente.