Ponto 1: Este primeiro ponto era para dizer que continua a ser complicado termos ideias próprias nesta terra de santos e heróis. E também era para dizer que, se criticarmos as decisões menos boas do executivo camarário, corremos o risco de sermos bombardeados com bocas e dizeres do tempo do PREC. Porque há sempre meia dúzia de paladinos que vêm defender o indefensável, sem quererem perceber que houve, de facto, uma evolução nas mentalidades e que as pessoas, todas as pessoas, já podem e sabem pensar por si. Mas como isso poderia tornar-me, mais uma vez, alvo de comentários democráticos e progressistas, o Ponto Um fica sem efeito.
Ponto 2: A campanha para as últimas legislativas foi das mais vergonhosas na história da democracia. Mentiu-se descaradamente, utilizaram-se as questões judiciais, as falhas de governação, a falta de decoro de António Costa, gozou-se de forma desumana com as deficiências de alguns candidatos, aproveitaram-se todos os erros, conscientes ou inconscientes, dos adversários políticos, por forma a denegrir, rebaixar e ofender todos os candidatos, com um destaque miserável para o desprezo dado aos partidos sem representação na Assembleia da República, a auto-proclamada casa da Democracia (tá bem, abelha!). A acrescentar a isso, os meios de comunicação social mostraram, e bem, quem eram os seus candidatos preferidos. Outra vergonha. Eu explico: numa arruada qualquer, num local perdido no meio do país, bastava a imagem captada pelo ângulo certo da câmara, o ponto de vista escolhido pelo fotógrafo, a frase retirada do contexto pelo jornalista, para que o candidato viesse a ganhar ou a perder popularidade ou vantagem nas tão estupidificantes sondagens.
Ponto 3: Rui Horta não pára. Não baixa os braços. Temos o Convento da Saudação com obras já adjudicadas com o imprescindível apoio da autarquia montemorense. O Espaço do Tempo continua em frente, desta vez na antiga Oficina Magina, um local renovado, onde muitas criações irão acontecer, enquanto o Convento não estiver pronto para continuar a receber alguns dos maiores criadores artísticos do mundo. E ainda há gente que não entendeu a mais-valia, o valor acrescentado, o prestígio que Horta e a sua equipa trazem para esta cidade.
Taditos!
Ponto 4: O ponto anterior leva-me a este assunto que só poderia vir no ponto 4. Depois de, em Abril, terminar o “reinado” de um ano do Grupo Fora d’Oras, que representou, e bem, Montemor, através do Cante, Património Imaterial da Humanidade, embora Montemor só tivesse começado a tradição do Cante Alentejano com o Fora d’Oras, seria de uma profunda injustiça cultural, não ser o Espaço do Tempo o próximo Embaixador de Montemor no Mundo, por tudo o que fez e o que fará nesta e por esta terra, em termos de dança, de música, de criação artística em geral, pela sua ligação aos montemorenses, pela forma como Rui Horta e equipa se oferecem à comunidade, levando o nome de Montemor às partes mais longínquas do planeta.
Ponto 5: D. José Tolentino de Mendonça, um dos meus clérigos preferidos de sempre, foi recentemente elevado à púrpura cardinalícia pelo Papa Francisco. É com orgulho que vemos a nomeação deste português, padre, poeta, escritor, filósofo, pensador para um cargo de tamanha dimensão. Aumenta-se-nos a esperança de que ele, como um dos mais próximo do Papa, se transforme num auxiliar de excelência para defender as vítimas dos abusos cometidos por alguns membros da Igreja e ajudar a pôr na cadeia os terríveis perpetradores. Aí, o nosso orgulho como portugueses, e muitos, como católicos, seria bem maior.
Ponto 6: Recomeçámos as aulas e com elas o contacto com os alunos e as alunas que, apesar dos tempos que correm, tão céleres e aparentemente diferentes dos tempos em que éramos miúdos, são adolescentes iguais a tantos que por nós passaram nestes 36 anos de carreira. Precisam de se sentir seguros, aguardam constantemente o olhar aprovador do professor quando os conhecimentos estão no seu devido lugar, sentem-se livres quando lhes ensinamos que a liberdade de expressão e de pensamento é válida para todas as áreas e para todas a aulas, mostram-se apreensivos quando lhes ensinamos que para a máxima liberdade deve haver a máxima responsabilidade, preocupam-se com a chamada de atenção que, muitas vezes, é suficiente para lhes mostrarmos que somos da mesma equipa e que queremos todos o mesmo: o sucesso e a felicidade, a passagem do conhecimento e dos valores que também nos ajudaram, a nós, mais velhos, e hoje menos inocentes, a ultrapassar as dificuldades maiores da vida.
Penso, muitas vezes, que estava na idade certa para partir. Porque outros planos me esperam. Tão ou mais exigentes que esta minha profissão. Mas, pelos vistos, se ficar por aqui durante mais três ou quatro anos, a tentar fazer os putos felizes e mais conhecedores da vida que os espreita lá fora, também não vem daí mal ao Mundo e… os planos, os outros planos, podem muito bem esperar por mim.