segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Estaleiros



Sabemos que tem de ser assim. Para haver melhoramentos no tecido urbano e rodoviário da cidade tem de haver obras, buracos no chão, cheios de água e lama, valas que nunca mais acabam, entulho, barulho, trânsito condicionado, redes, andaimes, em suma, acaba por estar tudo virado do avesso. Mas a obra do Muro do Jardim Público já começou e isso é o mais importante.
Fiquei desolado, e não fui decerto o único, com a nova imagem daquela paisagem clássica, agora com o muro quase completamente derrubado e que vai alterar de vez a magia do meu Jardim, do Jardim da minha infância e adolescência.
Pondo a razão acima do coração, sabemos, pelo que vimos no projecto, que a cidade vai ficar mais arejada, com um Jardim Público aberto e com acessos fáceis. E foram estas algumas das razões que me levaram a escolher esta opção, quando houve a votação pública. E, depois, será uma questão de hábito. Acredito que sim.
Sobre as ruas adjacentes que vão ser alteradas, aí outras vozes se levantarão, porque o corte do trânsito na rua de Avis, por exemplo, para que esta se transforme numa zona pedonal (interessante, seguro e estético, na minha opinião), pode não ser a medida mais certa, na opinião de alguns comerciantes daquela via tão movimentada.


João Luís Nabo
In "O Montemorense", Novembro de 2018

domingo, 18 de novembro de 2018

Natal injusto, mais uma vez



Vem aí o Natal (outra vez). Era só para avisar os mais esquecidos que, para além de ser uma época festiva e de prendas, é também a altura ideal de sermos bons uns para os outros. Já agora, é muito mais do que isso tudo: é o tempo certo para sermos justos. Eu explico: vou fazer anos no próximo dia 23 de Dezembro e há quase 58 Dezembros que ouço sempre a mesma lengalenga de amigos e família: “Toma lá esta prendinha. É de anos e de Natal! Parabéns!”. Eu aceito, claro, com a melhor cara que consigo arranjar na altura, sentindo-me, porém, mais uma vez, injustiçado. Este desabafo quer dizer isso mesmo que vocês estão a pensar: que eu e muitos como eu (o meu amigo Zé Bexiga, por exemplo!), estamos continuadamente a ser prejudicados pelo Menino Jesus. Sabemos que ele foi, e é ainda, mais importante do que nós, mas mesmo assim…
Tenho, portanto, uma proposta que muitos vão assinar por baixo, de cruz e sem hesitações: ou se muda a data do nascimento do Miúdo ou exigimos (eu, o Zé Bexiga e muitos outros amigos) que nos devolvam, COM RETROACTIVOS, todas as prendas que nos devem desde o princípio da nossa vida.
Tenho dito.

João Luís Nabo

In O Montemorense, Novembro 2018

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Queria castanhas, a moça


Martinho, o nobre cavaleiro gaulês, militar do exército romano, que ofereceu metade da sua capa a um mendigo que morria de frio, abandonou a guerra e entrou para um convento, para longe das tentações mundanas. O dia em que se deu este tão simples mas tão nobre gesto foi a 11 de Novembro do ano 337 d.C. e é hoje celebrado com castanhas e água-pé.
Pois, no dia 11 que passou, fui, depois de almoço, dar uma volta pela cidade. “Compra-me umas castanhinhas assadas, que ainda temos ali uma garrafa de água-pé. Vamos dar seguimento ao que faziam os nossos pais… Tradição é tradição!”, gritou-me a Fofa, do quintal, onde tentava (sem sucesso) dar banho ao Balú, e esquecendo, por momentos, as três semanas de rigoroso regime alimentar.
Saí de casa e fui beber o cafezinho da praxe no António Quitério. “Quer o seu Poejo habitual?”, perguntou-me. “Não, António. Vou conduzir. Vou comprar castanhas assadas!”, respondi, quase eufórico.  E assim fiz.
Assim fiz, não. Assim quis fazer. Percorri (de carro, pois claro) a cidade de ponta a ponta, de lés-a-lés, de fio a pavio e não encontrei vivalma a vender uma castanha assada que fosse. Vieram-me logo à memória as recordações de infância e a barraquinha de uma senhora velhota de saias compridas e lenço na cabeça, mesmo junto ao Passo da Rua Nova, que vendia uma dúzia de castanhas por 10 tostões.
Voltei pesaroso… mas com castanhas num saco. (Eu não poderia desiludir a Fofa que, àquela hora, já devia estar mais molhada do que o próprio Balú). Não as encontrei numa esquina, quentinhas a estalar. Fui comprá-las, cruas, claro, a uma das superfícies comerciais da cidade cujo nome, Intermarché, não se pode dizer por causa das cenas da publicidade e má-na-sê-quê, e dirigi-me ao doce lar. Acendi a lareira da sala e, quando a coisa estava mais ou menos capaz, retalhei as castanhas, coloquei-as dentro de uma panela própria, pus-lhes sal e depositei aquele tesouro sobre as brasas da minha lareira. Liguei a televisão naquele Canal Zen que dá para a gente descansar um bocadinho e… adormeci.
Fui acordado violentamente pelo fumo negro e denso que invadia a sala. Eram as castanhas completamente transformadas em carvão que se tinham praticamente evaporado.
Ainda hoje, caros leitores, com o cheiro que se entranhou naqueles cortinados de veludo persa, continua a parecer que é dia de São Martinho naquela bendita sala. A Fofa é que não ficou lá muito pelos ajustes. Quando me ouviu gritar, aflito, como se tivesse despertado em pleno Inferno, apareceu-me, ligeiramente despenteada, com o Balú atrás dela, a sacudir água por todo o lado, e disse-me sem um sorriso: “Para a próxima vez, traz-me um pastel de nata.”
Não respondi.

João Luís Nabo
In O Montemorense, Novembro 2018

Distraídos crónicos...


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