segunda-feira, 14 de junho de 2021

Balancete

 

Se uns podem…

 Andamos agora a viver uns momentos deveras curiosos em termos de comportamento, no que se refere aos cuidados ainda a ter com a propagação do vírus, cujo nome todos conhecemos. Quando ainda era regra ficarmos em casa sempre que possível, não colaborar na formação de ajuntamentos, não emborcar álcool depois das oito da noite, eis que somos confrontados com os festejos do campeão nacional de futebol no Marquês de Pombal, em Lisboa, com largos milhares de foliões verdes e brancos aos saltos, como seria de esperar, para receber, com pompa e circunstância, a equipa vencedora; poucos dias depois, em Braga, ainda que numa expressão menor, também os adeptos do futebol desataram a exibir o seu legítimo orgulho pela sua equipa que, este ano, conquista a Taça de Portugal; finalmente, no Porto, adeptos ingleses das equipas em disputa pela Taça da Champions League, invadiram a Invicta, armaram serrabulho e estiveram à vontadinha, armados em conquistadores, com imperiais em punho no lugar dos canhões. Poucos dias depois, porque já não era de interesse britânico, e por ordem do Tintin Inglês, Portugal sai da lista dos países a visitar. Ex-tra-or-di-ná-ri-o! Entretanto, o resto do país, ainda e sempre amordaçado (literalmente), continuava a meio gás, com os restaurantes, o comércio, a indústria, os serviços, as escolas, os grupos artísticos, o cinema… sem saberem muito bem como seria o futuro. Como diria um amigo meu, perante estes dramas e estas contradições, e sempre a propósito, “é o que há.”

Quereis saber como se podiam ter impedido aquelas manifestações de euforia desportiva misturada com a alegria de se ser livre por uma noite? Pois, não sei. Pela imposição da lei, à força de bastonadas? Isso seria absurdo e acabava por dar origem a uma guerra civil. Alertar os foliões para os perigos que representavam os ajuntamentos? Isso eles já sabiam. Disponibilizar de imediato meios de testagem rápida para determinar o isolamento de muitos deles? Talvez fosse esta uma das formas…

O que se tornou óbvio foi a reacção dos que não foram a essas manifestações e continuavam, então, a cumprir as regras do confinamento e do recolhimento domiciliário. E essa atitude, perante a diferença de tratamento, só podia ser esta: “Se uns podem, eu também posso. Compadre Costa, que raio de democracia é esta?”

Um facto inegável é o número de infectados que está a subir todos os dias. Estão admirados? Claro que não. Eu também não. E o Presidente da República também não. E o primeiro-ministro? Bom, desse governante é difícil saber a opinião, quando a lei portuguesa e as autoridades decidem tratar de forma diferente os filhos da mesma nação, e assobiar para o lado, quando centenas de aliados britânicos, meio vestidos, meio despidos, se lançam em massa na propagação do Covid e de outros vírus associados, como se não houvesse amanhã.

Uma coisa é certa: se queremos momentos de alegre (mas pouco são) convívio com familiares e amigos, já em número acima do normal, marquemos uma manifestação a favor de um clube qualquer. Ninguém terá autoridade moral para nos repreender, multar ou mesmo identificar na esquadra mais próxima. Eu, para evitar problemas, ando sempre com o cachecol do meu favorito no bolso.  (Estou a pensar organizar uma festa para comemorar a manutenção do clube do meu bairro nas distritais sub-14. E as autoridades não poderão fazer nada.)

Entretanto, nas nossas escolas, professores, alunos e funcionários continuam, contrariados, claro, a usar máscara. Dentro dos blocos de aulas, nas salas de trabalho e… no exterior da escola. Haverá excepções, como em tudo. Há sempre umas gaivotas que, assim que saem da escola, tiram a máscara, rumam em direcção às esplanadas e… siga a marinha. Mas, pensando bem, depois de tudo a que já assistiram, quem é que os pode condenar? Eu não.


Fim de ano (des)lectivo

Estamos a terminar as aulas. Depois de quase dois anos lectivos profundamente atípicos, vamos dar algum descanso aos alunos e vão os professores também passar uns dias longe das questões em que estiveram envolvidos no decorrer deste tempo de pandemia.  Todos nós aprendemos qualquer coisa com tudo isto. A adaptação dos alunos e dos professores às potencialidades de um ecrã de computador  não foi fácil e demorou algum tempo até todos nós, comunidade educativa, acreditarmos que poderíamos ultrapassar este problema. Fizemo-lo, de vez, com algum estudo da nossa parte, por vezes perdidos nos mil e um pormenores tecnológicos, mas angariando uma boa ajuda por parte de colegas e amigos e, claro, seria inevitável, após algumas experiências mal sucedidas.

Terminado o processo por mais este ano, poderemos dizer que houve um balanço positivo? As matérias foram leccionadas na íntegra e, na perspectiva dos professores (e dos alunos), foram bem leccionadas? Teriam todos os alunos as mesmas condições de acesso às tecnologias? Teriam todos eles familiares e amigos que os encaminhassem e auxiliassem neste novo universo do ensino à distância? Não me parece que assim fosse. Então, deveríamos passar uma esponja que apagasse estes dois anos lectivos e começar tudo de novo? Claro que, para além de absurdo, seria impossível e não levava a lado nenhum. Aceitar o que existe é, para já, a nossa única possibilidade. Reforçar conhecimentos e matérias no decorrer do próximo no lectivo parece-me ser uma das soluções possíveis. Aprender a utilizar de forma mais eficaz as ferramentas tecnológicas que temos à disposição para o ensino à distância também acho que será a única aposta viável e útil em termos de futuro. Entretanto, esperar que a situação pandémica não se agrave para que possamos regressar à nossa vida normal é aquilo que fazemos todos os dias. Vamos acreditar que tal seja possível.

Uma questão, independentemente dos aspectos positivos e negativos do ensino à distância, ou do teletrabalho de uma forma geral, é que, se antes da pandemia nada estava garantido na nossa vidinha, este célebre vírus veio transformar essa certeza numa verdade sem discussão.


João Luís Nabo

In "O Montemorense", Junho de 2021



Distraídos crónicos...


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