segunda-feira, 14 de março de 2022

A guerra, o rio e a educação

 


I         

Parte-se para o papel em branco ainda sem temas definidos, mas sempre com uma voz a bater forte cá por dentro: “Não quero falar da guerra, não quero escrever sobre a guerra, nem sobre as crianças que choram ao som das sirenes e dos bombardeamentos. Não quero regressar a 1939-45, nem a outras datas, que estão cada vez mais presentes no nosso quotidiano.”

As perguntas e as críticas que todos nós fazemos e que, orgulhosamente, ostentamos nas redes sociais, transformam-nos nuns “enormíssimos” e “competentes” analistas políticos de fim-de-semana que, e com todo o respeito pelas excepções, não percebem nada do que estão a dizer. Parece que agora somos todos estrategas militares, líderes, membros do Parlamento Europeu ou das Nações Unidas, comandantes de pelotão, soldados milicianos de cocktails molotov em punho. A maioria ataca Putin e defende Zelensky, uma minoria defende o poder russo sobre as antigas repúblicas soviéticas, num saudosismo doentio e perigoso, e outros ainda não conseguiram pronunciar-se de forma aberta sobre a sua posição.

É impossível analisar de forma correcta, ao minuto e em directo, os acontecimentos terríveis que já fizeram milhares de mortos e milhões de refugiados, estando o povo russo e o povo ucraniano a serem ambos vítimas de um ditador eleito (onde é que eu já li uma coisa parecida?). Os mortos, os feridos, as famílias separadas, os bens destruídos, tudo será contabilizado mais tarde. Porque a História que hoje vivemos só então será analisada, quando os especialistas estiverem de posse da maior parte dos dados, para que a narrativa seja clara e concreta. Aí ficaremos a conhecer os profundos porquês destes verdadeiros crimes de guerra, para que não haja dúvidas sobre a autodeterminação legítima do povo ucraniano e para que se condene a decisão absolutamente anacrónica, estúpida e fascizante de se invadir um país livre, ainda que não se concorde com o seu governo ou a suas alianças geo-económico-políticas.

            Há ainda os que criticam a posição letárgica da Europa, dos Estados Unidos e da NATO em termos de acção militar. Se os Estados Unidos e os países da NATO tivessem pegado em armas, vivíamos hoje o que nunca teríamos imaginado viver: o terror de uma terceira guerra mundial. Duas chegaram e sobraram. Putin é, nesta altura, um homem politicamente derrotado e cada vez mais só. Tenho a certeza de que, a seu tempo, os Tribunais Internacionais julgarão e condenarão o presidente da Rússia por crimes de guerra e aí, só aí, se fará justiça.

            Um último parágrafo, que deveria ter sido o primeiro, para saudar os jornalistas de todo o  mundo e, sobretudo, os portugueses, que todos os dias arriscam a vida para nos mostrarem os dados sempre actualizados desta guerra desnecessária, tal como são todas as guerras.  

 

II

Da nossa santa terrinha falei há dias com pessoa amiga. E falámos do rio. Do nosso Rio Almansor, cartão de visita para quem entra em Montemor, vindo do Sul. Um frondoso matagal cobre todo o leito, escondendo o escasso fio de água que vai correndo timidamente por ali.

Também falámos do pouco tempo que o novo executivo ainda tem em funções e que, provavelmente, não tem tido uma agenda muito livre para pensar nesta questão. Sabemos que Olímpio Galvão e a sua equipa já nada podem fazer pela Rua de Aviz nem pelo Largo da Câmara (o que é pena, na minha opinião!). O que está feito, feito está. Mas ainda vão muito a tempo de alterar o estado em que o rio se encontra. É preciso financiamento, é verdade, mas também é fundamental a vontade política.

Depois de limpo o leito do rio e de transformadas algumas zonas em espaços de caminhada e lazer, Montemor mostrar-se-ia mais atractivo logo assim que se atravessasse a Ponte de Alcácer. Depois, era só repovoar o rio com as espécies que sempre o habitaram: carpas, barbos, pardelhas, enguias, bordalos... E, a seguir, era só pegar numa cana de pesca e recuperar a infância perdida.

 

 

III

Montemor está a tornar-se um local menos seguro do que era há uns meses. Já passámos na televisão por motivos menos bons, o que nos leva a concluir da necessidade de uma maior atenção por parte das autoridades em relação a determinadas questões. Assaltos, roubos, violência física começam a estar na ordem do dia. São situações que acabam por afastar quem, por motivos de trabalho ou de lazer, goste da cidade e a queira adoptar como sua. Para não falar das vítimas, que gostariam, sobretudo, de não o terem sido.

Os valores morais e sociais começam a ficar desfocados e, nas próprias escolas, notamos comportamentos cada vez mais desadequados por parte de alguns alunos, o que torna esta questão do ensino-aprendizagem muito mais complicada do que ela já é. O mais curioso é que, confrontados com as atitudes menos positivas dos seus educandos, alguns encarregados de educação respondem, de forma inocente: “Já eu era assim quando tinha a idade dele! E pronto.

Não me venham com cantigas de que o professor deve dar aos seus alunos a educação que estes, eventualmente, possam não receber em casa. Eu raramente o faço. Ensino as matérias e mostro-lhes que o mundo, fora da escola, é composto de muitas mudanças e contrariedades, mais facilmente combatíveis com as atitudes certas. A escola não pode substituir os pais na educação dos filhos. É um complemento e deverá sê-lo sempre, mas eu sou professor dos meus alunos, não sou pai deles. E eles sabem disso.  E os pais deles (muitos deles foram meus alunos) também

João Luís Nabo

In "O Montemorense", Março de 2022

Distraídos crónicos...


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