As palavras “crise”,
“Troika”, “impostos”, “austeridade”, “roubo”, “malandragem” e outras cada vez de
mais baixo nível, diminuíram um pouco de frequência nas férias mas voltaram
agora em força, perante as novas medidas do Governo para baixar o défice.
É tradição, também
nesta altura, falar da escola que recomeça para milhares de estudantes
portugueses, também eles a viverem as consequências da má gestão do nosso país.
Pois é verdade: o ano lectivo já começou e quase ninguém refere a importância
que cada ano escolar, que cada escola, que cada turma e que cada professor tem
para o desenvolvimento do país e para a saída da maldita crise (que já
utilizada como desculpa para tudo).
Os professores, agentes
fundamentais do progresso do país (porque é na escola que tudo começa), têm
sido maltratados, desconsiderados, desprezados, porque nenhum dos últimos
Governos entendeu a importância do ensino para que o país possa atingir uma
verdadeira modernidade a par dos outros que, connosco, são obrigados a conviver
nesta velha Europa. Em Portugal investiu-se em escolas novas nos últimos anos,
mas isso não é suficiente. É, aliás, acessório. O importante são as pessoas e
não os edifícios que servem, muitas vezes, e só, para garantir a vitória nas
eleições ou um ou outro momento de show-off
do mesmo tipo. Com as mudanças na educação, o Ensino tem sido a área na qual,
cada vez mais, os professores se tem de preocupar com burocracias, ficando com
cada vez menos tempo para preparar as suas aulas, fazer as suas investigações,
dar a atenção que cada turma merece e a que cada aluno tem direito. E há
alunos, como se sabe, que necessitam de atenções especiais e exigentes por
parte dos docentes.
Já comecei o ano
lectivo. Com a “ciguêra” habitual. Porque continuo a gostar de ensinar e de
passar aos outros aquilo que sei. E cada ano que começa é como se fosse o
primeiro, que já lá vai há trinta anos. Mas eu não quero que os meus alunos
sejam candidatos à emigração, como alguém sugeriu há uns tempos. Quero que
fiquem cá, para poderem participar na reconstrução de um país que nós,
ingénuos, deixámos ruir. É por isso que, independentemente das políticas
educativas de cada Governo, lançadas a partir de gabinetes onde poucos conhecem
a realidade de uma escola, continuo a preocupar-me mais com os alunos e menos
com os papéis. A estes últimos não consigo dar-lhes a importância que eles querem
que eu dê. Aos primeiros dou-lhes mais atenção do que o Estado, através destas
políticas, quereria que eu desse. O aluno está sempre em primeiro lugar e eu,
para lhe dar um apoio especial, não preciso de preencher dezenas de formulários
e relatórios. Preciso apenas de estar com o aluno. Preciso apenas de tempo.
O elemento fundamental
desta grande questão não é o Governo nem os políticos, em quem já ninguém
acredita. São os alunos e os professores os pontos fulcrais a ter em conta. Os
primeiros devem querer aprender e os segundos devem querer ensinar (e ter uma
escola onde ensinar).
Legislar que se devem
formar turmas com 30 alunos (com um objectivo meramente economicista e com a
consequência inevitável do despedimento de milhares de professores que faziam,
de facto, falta) é de quem não percebe nada de Ensino e muito menos deu uma
única aula a sério na vida.
Mesmo assim, e para
contrariar estas situações absurdas, deve continuar a haver entusiasmo pelo
Saber e pela Aprendizagem. O país não se desenvolve se o pessoal não sentir essa
“pica” pela ESCOLA e por tudo o que de lá podem aproveitar. Além do mais, os
sacrifícios dos pais são cada vez maiores para que os filhos possam ter acesso a tudo isso. E os filhos devem isso aos pais.
É
nas mãos destas gerações de alunos que temos de pôr este país caído em desgraça
e nós, professores, temos de ensinar TUDO o que sabemos, porque é de nós que
dependem os jovens que temos à nossa frente. É de nós (e deles, também) que
depende o seu futuro e, consequentemente o futuro do país. Tolerância ZERO para
as baldas, para a aldrabice e para a falta de vontade.
Em
suma, os governos dos últimos anos têm sido formados por políticos, muitos
deles reflexo das alterações absurdas e do desrespeito que a escola pública tem
vindo a sofrer ao longo destes anos. Mais palavras para quê?