Milhões de portugueses comemoraram alegremente o Benfica vitorioso, milhões de católicos receberam entusiasticamente Bento XVI na sua visita oficial a Portugal. Milhões de patriotas vão apoiar a Selecção Nacional de Futebol na sua aventura Sul-africana.
Pois é, quando os gregos ouviram falar destes milhões pensaram que a gente estava a falar de euros. Não, caros gregos sem cheta. Estamos igualmente à rasquinha. Mas como para a Grécia somos mesmo ricos, o nosso Governo, para não ficar mal visto, vai fazer com que a História de repita: em tempos idos, Salazar ajudou Franco, enviando comida para os que o apoiavam, mandando para Espanha comboios com “os restos de Portugal”, país habitado por gente na miséria, mas feliz porque abrangida pelo tripartido e diáfano manto do Fado, de Fátima e do Futebol. Agora, o actual Presidente do Conselho do nosso Governo Relativo vai enviar para a Grécia não comboios de comida mas um cheque chorudo de uns milhões de euros que, pelos vistos, não nos fazem falta nenhuma.
Entretanto, outros milhões de euros continuam a voar para os bolsos dos mexias deste país que não merecem o pão que comem. São ordenados imorais, reformas escandalosas, prémios perniciosos e outras alcavalas. E culpam-se as agências de rating (não faço ideia do que é esta coisa) por lançarem suspeitas sobre o estado financeiro do país (coitadinho) que, de tão bem gerido que está, vai avançar com a construção do TGV porque já está tudo combinado com Espanha, e Portugal é país de palavra. E depois chamam-nos burros e dizem que nós, tal como o Jesus Cristo de Fernando Pessoa, não percebemos nada de finanças. Podemos não perceber nada de ratings, PIBs e coisas assim, mas não somos burros. Se vamos avançar com obras, se vamos para o Mundial, se parámos – paradinhos, sem mexer uma palhinha – durante praticamente três dias para receber o líder da Igreja Católica, o dinheiro que se gasta e aquele que não se vai ganhar (e são muitos milhões!), tem de vir de algum lado: vem do meu bolso, do seu bolso, do bolso de todos nós. Não se esqueçam, leitores amigos, e vítimas de todo este processo, que, aproveitando a distracção religioso-desportiva dos portugueses, o senhor Teixeira dos Santos já lançou despudoradamente um novo aumento dos impostos. Com o apoio do PSD. Dias antes, Sócrates tinha assegurado no Parlamento que não iria haver aumento de impostos. Parece que um deles mentiu. E eu sei quem foi.
E se ainda vamos espremendo a carteira, continuando a aceitar com um encolher de ombros o desrespeito e o desdém com que nos tratam, um dia que pretendamos manifestar verdadeiramente o nosso desagrado, será demasiado tarde. Com o garrote no cachaço, só nos resta caminhar, balindo cobardemente, em direcção ao matadouro.