A cidade continua a precisar de um maior cuidado, de constantes arranjos, de limpeza, para se apresentar aos de fora e aos de dentro, com brio, tradição e elegância; a questão relacionada com a recuperação e manutenção do Castelo, nosso ex-libris e protagonista de algumas notícias e comunicados num breve período antes das férias, não sabemos bem em que pé vai ficar. Na reunião de Câmara do passado 5 de Setembro, foi decidido “rejeitar as transferências de competências do Estado para o Município no ano de 2019, com os votos favoráveis dos eleitos da CDU e os votos contra dos vereadores do PS.” O Estado transferia as responsabilidades mas não transferia dinheiro. Por isso, nada a fazer. E agora? Sem dinheiros dos cofres centrais e sem provimento disponível nos cofres da Câmara, o que vai acontecer? Haverá a possibilidade de uma convenção entre o Estado e a Autarquia de Montemor para resolver o problema? Não? Então, os eleitos vão ficar todos de braços cruzados, à espera que o Castelo caia? Os munícipes estão preocupados e necessitam que seja urgentemente apresentada uma solução. É um direito seu, que nenhum poder político pode desprezar.
E lá vamos escrever outra vez sobre o muro do Jardim Público, cujas obras estão anunciadas para Setembro/Outubro. Se eu tivesse uma idade ainda imberbe, crente nas palavras e nas boas intenções de quem nos governa, até era capaz de começar a dormir mais descansado. Mas começamos a estar estafados de tanta parra e tão pouca uva. Só acredito que o problema vai ser solucionado quando as obras estiverem prontas.
O Almansor continua a correr, fininho, triste e poluído, sem futuro e cada vez mais desligado da cidade. A Fofa propôs-me, há pouco tempo, um passeiozinho de caiaque, rio abaixo, desde a Ponte de Évora até ao Pego do Poço de Cima, onde poderíamos, depois, tomar um banho refrescante à moda de Adão e Eva. Deixei-a viver feliz aqueles momentos de imaginação para, depois, um bocadinho à bruta, lhe atirar para cima do pechiché algumas das fotos mais recentes do Almansor, que a fizeram logo ficar tristinha e inconsolável. “O Rio está morto”, exclamou, entre dois pequenos soluços.
Na verdade, a ausência de uma atitude por parte dos responsáveis vai acentuar cada vez mais a imagem negativa que entra pelos olhos dentro de quem passa pela Ponte de Alcácer, em direcção à cidade. E o que vê o viajante quando olha para o Pego do Poço ou em direcção da Ponte de Ferro? Desleixo, desinteresse e falta de respeito pelo meio ambiente. Uma tortura para o olhar, em suma.
E já que estamos em maré de início de ano lectivo, deixo aqui os votos de um bom ano de trabalho para todos os meus colegas e para todos os meus alunos, com muito profissionalismo e dedicação e, tendo em conta a Reforma que já chegou, pleno de criatividade e... de paciência. (E depois, ainda temos a questão do muro do Jardim Público.)“Se te móis... é pior!”, segredou-me a Fofa numa destas noites, depois de termos visto cinco episódios do Dexter. Antes de poder ouvir a minha resposta, virou-se para o outro lado e adormeceu. Penso que com um sorriso nos lábios.
João Luís Nabo
In "O Montemorense", Setembro 2018