sábado, 25 de dezembro de 2010

Porque é Desnatal...


Apesar desta falta de ar que aflige o país, o chefe do Governo afirmou, mais do que uma vez, que não precisaríamos de pedir ajuda a ninguém. Regressámos à tristemente célebre expressão com que Salazar nos isolou do resto do mundo. Depois de, qual doutor Fausto calculista e interesseiro, termos vendido a alma à Europa, depois da cedência da nossa personalidade enquanto nação independente, a troco de uns milhões de euros para subsídios para a construção de piscinas e má-na-sê-quê por esse país afora, agora que nos devíamos candidatar a apoios externos, queremos ficar orgulhosamente sós. Eu não sei o que é que esta gente do governo anda a comer. Mas que lhe provoca graves incómodos cerebrais, lá isso não há dúvida.

O colapso definitivo dar-se-á quando se demitirem alguns elementos das estruturas do Estado, quer civis, quer militares, e que ainda permitem que o país vá andando, deixando esta ruína a navegar à bolina. E, pelas minhas contas, não há-de faltar muito: os juízes estão descontentes e frustrados com a justiça que são obrigados a administrar; os militares estão a viver dificuldades em termos de salários e de promoções; os agentes da autoridade sentem cada vez menos autoridade (prendem os criminosos, que são libertados pouco tempo depois); a máquina do partido do governo anda com uns pedregulhos na engrenagem (há socialistas que já quebraram o verniz e começaram a pôr a boca no trombone). Para além disto, os professores sentem-se todos os dias obrigados a cumprirem normativos que não fazem o mínimo sentido e que ferem de morte a sua prática pedagógica; os cursos superiores ficaram mais curtos e muitos licenciados saem das universidades sem saberem ler nem escrever e sem competência para coisa nenhuma. Mas não é grave: não há emprego para poderem exercitar alegremente essas incapacidades.
Contudo, quem nos governa continua a gerir esta coisa chamada Portugal com alguma coerência. Pedir ajuda para quê? Era dar muito nas vistas. Um país que construiu 10 estádios para o Euro 2004, que quer montar um aeroporto de raiz, como se fosse um simples jogo de Lego, primeiro não, mas depois sim, na margem Sul do confuso Tejo, um país que teimou até ao último momento em construir auto-estradas e caminhos-de-ferro em direcção a Espanha e que se candidatou com os vizinhos à organização do Mundial de 2018, não precisa, de facto, de ajuda. Os responsáveis por estas ideias megalómanas é que precisam. De ajuda psiquiátrica urgente.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Noite de Natal


 




Os Cantares começaram com chuva a cântaros mas, enquanto os três coros e os seus acompanhantes subiam a Rua Nova, o São Pedro fechou a torneira e a Noite de Natal aconteceu. Acabámos a noite na Igreja da Misericórdia, com um recital de canções e poesia. Destaque para o poema "Pequeno Prelúdio para uma Cantata de Natal", escrito por Carlos Cebola para esta iniciativa.
Em nome do Coral de São Domingos, agradeço ao Grupo "As Escouralenses" e ao Grupo "Canções da Segunda Juventude" a preciosa colaboração nesta 9.ª edição dos Cantares ao Menino. Para a Câmara Municipal e para a Santa Casa da Misericórdia vai também o nosso aplauso pelo seu apoio, não só nesta altura, mas durante todo(s) o(s) ano(s). Para as dezenas de pessoas que nos acompanharam ao longo da noite, aqui fica o nosso abraço e votos de Feliz Natal.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Cantares ao Menino


Coral de São Domingos
Grupo Coral "As Escouralenses"
Grupo Coral dos Estudos Gerais

Esperamos po si!

Depois dos Cantares... chocolate quente na sede do Coral de São Domingos (pagando, é claro!)

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Menos um...


... a incomodar o regime.

Carlos Pinto Coelho morreu hoje.
Ficámos ainda mais empobrecidos.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

This is the winter of our discontent (W. Shakespeare, Richard III)

Este é o Inverno do nosso descontentamento. A frase não é minha. Foi escrita há quatrocentos anos por um senhor muito à frente do seu tempo. Não sabia ele – como poderia sabê-lo? – que a proposição se encaixaria, muito mais tarde, na perfeição para descrever os tristes dias que começámos a viver. Gostaria, se fosse possível, por este e por outros motivos, de cumprimentar esse génio. Aproveitava para lhe fazer uma lista de razões pelas quais este Inverno se vai tornar tão longo que se prepara para substituir as primaveras e os verões dos anos que estão para chegar.

E dizia-lhe: devido a uma terrível falta de visão estratégica por parte dos políticos, e à sua enormérrima incapacidade para servir o país, as pessoas foram penalizadas nos seus salários; as famílias deixaram de receber os abonos dos filhos; os trabalhadores rurais e fabris reformados viram a sua mísera reforma diminuir; instituições de solidariedade viram cortadas as ajudas; escolas privadas fecham por falta de apoios; hospitais e escolas necessitam de obras; há cidades espalhadas por aí com os centros históricos a mergulharem na ruína por não haver dinheiro para as necessárias reabilitações; o gás voltou a aumentar; e o pão, e o combustível e todos os bens essenciais para a sobrevivência ficaram mais caros com um novo aumento do IVA; os medicamentos aumentaram; tudo aumenta enquanto os salários diminuem. Tudo se complica. Todos os dias há anúncios de novas medidas de austeridade. Mas não para todos. É um país com duas nações, como diria Disraeli, primeiro-ministro da velha e manhosa rainha Vitória, dona, no seu tempo, de um Império Britânico, o maior do planeta, onde o Sol nunca e punha. Há duas nações, sem dúvida: a nação dos ricos, pequena mas desafogada, e a nação dos pobres, enorme e afogada.

Mas é assim: os portugueses da nação grande estão, na sua maioria, a ficar estrangulados e sem margem de manobra para gerir as suas economias domésticas. Tudo isto porque os da nação pequena (mas desafogada) não se apercebem, nem querem saber, das dificuldades que muitos compatriotas seus estão a viver. E esses portugueses, todos sabemos quem são. Fico-me por aqui. Estou cansado de chamar nomes a essa cambada de oportunistas e incompetentes. Afinal, caro Shakespeare, este não é o Inverno do nosso descontentamento. É o país da nossa mais profunda revolta, fechada a sete chaves por medo, comodismo ou hipoteca.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Banda de Lavre, Laginha, Palacino & Gershwin, Inc.



Há uns anos (30?) vi e ouvi, na televisão, Leonard Bernstein interpretar a famosa Rhapsody in Blue, uma composição musical do americano George Gershwin (1898-1937) para piano e banda de jazz, escrita em 1924. Mais tarde, comprei a partitura e resolvi estudar umas partes por outras. Fiquei hipnotizado pelos novos sons que aquele texto musical me obrigava a retirar do piano. A extrema dificuldade de execução de muitas passagens (aquilo não é para amadores) levou-me a pô-la de parte. Recentemente, graças à Internet e a essa maravilha da bisbilhotice global chamada Youtube, vi e ouvi, enquanto ia lendo a partitura, Gershwin a interpretar a sua própria composição, considerada uma das peças de concerto mais populares de todos os tempos. Pensei, ainda de ouvidos arregalados: “Não é possível repetir este momento”. E fiquei-me com esta.

Acabei de chegar a casa, vindo do Cine-teatro Curvo Semedo, depois de ouvir a Banda de Lavre a acompanhar Mário Laginha ao piano nesta peça magistral. Confesso que, antes do início do concerto, enquanto me sentava no meu lugar, pensei com alguma malícia: “Sempre quero ver como vão os músicos resolver este problema.”
Mas resolveram. Magistralmente. Há, pois, momentos que se repetem. Com o maestro Fernando Palacino no seu melhor. Parabéns (mais uma vez).

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Desafios... únicos!


Sábado, 11 de Dezembro, 21h30
Cine-Teatro Curvo Semedo, em Montemor-o-Novo

Gershwin, a Utopia da Vanguarda e Outras Formas de Ouvir...

com
Mário Laginha, Maria João
Banda Simão da Veiga da Casa do Povo de Lavre 

(Ciclo de Outono - Câmara Municipal de Montemor-o-Novo)

domingo, 5 de dezembro de 2010

A saque!


Depois de alguns anos de apatia, numa linha de comportamento assim do tipo “bate-me que eu deixo… e gosto”, o povinho acordou, ao verificar que estamos a chegar ao fundo, e desatou a chorar a sua preocupação em tudo quanto é sítio. Agora é que ele percebeu MESMO que os cortes, os apertos de cinto e a perda de regalias só o vão atingir a ele. Os que, a custo, ajudam na construção do país, com a sua força de trabalho, físico e intelectual, são os mais penalizados. Nunca se tinha imaginado que este paraíso à beira-mar plantado viesse a viver dias de verdadeiro inferno. Quem nos governa já não sabe o que fazer. Mas soube mentir – sim MENTIR. Há um ano, quando os jornalistas lhes perguntavam o que iria ser de nós, alguns políticos tiveram o descaramento de afirmar que a crise já tinha passado. E ainda ela não tinha chegado verdadeiramente.

Sabemos que a conjuntura global está uma miséria. Os países europeus da zona euro andam ao tio-ao-tio (a Alemanha está a safar-se, o que se torna, sob uma certa perspectiva, preocupante), mas são os políticos que devem ser responsabilizados pela situação. Não souberam, não perceberam, ou não quiseram perceber, o que aí vinha, não foram claros com o povo que os elegeu e acabaram por transformar o país num pântano de onde até os mosquitos se preparam para emigrar. Eles que não culpem apenas a conjuntura: foram anos e anos de bela vida, de enormes compadrios e comadrios, com gente do PSD e do PS bem amanhada com cargos e benesses, empregos para amigos e amigos de amigos, até não poderem mais. A isto acrescente-se as viagens, os banquetes, as visitas e uma trupe de gente a viajar, a comer e a luxar à sua e à minha custa. E é isto que custa. E é isto que eu não aceito.

domingo, 28 de novembro de 2010

Cantares ao Menino, no dia 18


Vamos ter luzes de Natal a dar um pouco de alegria às ruas e largos da cidade. Independentemente da decisão da autarquia em relação a esta questão, a opinião dos montemorenses nunca iria reunir consenso. Uns achavam que não devia haver iluminações para não se gastar o dinheiro que podia vir a fazer falta noutras coisas; outros achavam que umas iluminações mais modestas, como as deste ano, não iriam fazer grande mossa nos cofres da Câmara e, pelo mesmo, o Natal não seria tão entristecido como os políticos de Lisboa queriam que fosse. Eu, cá por mim, gosto de andar pelas ruas e largos da cidade, a cantar ao Menino com o Coral de São Domingos, num cenário verdadeiramente natalício. De pobres não passamos. E outros, de ricos, também não passam.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

"O Montemorense" faz anos!


“O Montemorense”, mensário local e regional com várias décadas ao serviço da população, faz mais um ano de vida, o 29.º da 3.ª série. Foi nele que iniciei, em 1980, por iniciativa do meu amigo Leopoldo Gomes (genro de Tomé Adelino Vidigal, um dos fundadores), as lides na escrita jornalística. Interrompi essa missão para me dedicar, numa atitude assumidamente bairrista, a um outro projecto jornalístico que surgiu em 1989. Durante 14 anos escrevi exclusivamente para a “Folha de Montemor”.

Em 2003, após a minha saída desse projecto, fui convidado pelo padre Manuel Vieira para (re)integrar o grupo de colaboradores d’ “O Montemorense”, publicação a viver, nesse momento, uma “revolução” de imagem e até de conteúdo, sem no entanto deixar de seguir a linha editorial de índole cristã que a tinha caracterizado nas décadas anteriores. Mas o espaço era amplo e nele cabiam todas as ideias. Aceitei o convite e fiquei. E ainda lá estou.
Um abraço fraterno ao Director Pedro Conceição e a toda a equipa! 

terça-feira, 16 de novembro de 2010

XVI Concerto de Outono


Coral de São Domingos


Grupo Vocal Trítono


segunda-feira, 15 de novembro de 2010



… O país está agonizante. Depois de termos confiado os nossos destinos a dezenas de políticos, ao longo destes trinta e tal anos depois de Abril, decidi que NUNCA mais vou votar. É esta desilusão que me invade que me faz ter a certeza de que mais ninguém se irá sentar na cadeira do poder com o meu voto. Se ninguém votar, ou se todos votarem em branco, a ficção de Saramago (Ensaio sobre a Lucidez) será uma realidade. E depois? Para caos, caos e meio. A liberdade, conquistada há uns anos nesse mesmo Abril, dá-me a possibilidade de, livremente, não confiar em mais nenhum político deste quintal cada vez mais malcheiroso e assustadoramente mal frequentado.




sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A entrevista... completa



Saíu hoje no jornal "Folha de Montemor" uma entrevista ao autor deste blogue, a propósito do lançamento do livro da sua autoria Outros Contos de Vila Nova.  Como a entrevista, realizada por escrito, enferma de algumas lacunas à qual o entrevistado é alheio, aqui fica o texto integral, ainda assim, com o seu pedido de desculpa aos lesados.
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1/ Este é o terceiro livro de contos. Pode dizer-se que é de facto o género literário preferido de João Luís Nabo? Porquê?

É, de facto, o meu género narrativo preferido. O conto pressupõe a utilização de uma dinâmica diferente no contar da história e, também, uma capacidade de economia narrativa. Digamos que a técnica de utilização da “quadratura” espaço/tempo/personagens/narrador é a que tenho treinado mais e que, por isso, utilizo mais. Sou, digamos, um curioso da escrita (escritores são o Saramago e o Lobo Antunes) de fôlego reduzido, mas que tenta utilizar essa característica da melhor forma. O Lago e O País do Esquecimento, duas pequenas novelas publicadas num só volume em 2005, vêm contrariar esta prática, porque são de uma extensão um pouco mais alargada. No entanto, são os contos que me fazem sentir mais confortável como contador de estórias.

2/Vila Nova é o centro da sua escrita. É um tributo que presta à cidade e suas gentes ou é porque estes contos partem sempre de episódios reais acontecidos em Montemor-o-Novo?

Vila Nova é, sem dúvida, (para quê negá-lo?), o nome ficcional da minha terra – Montemor-o-Novo – onde se passam aventuras simples, algumas estranhas, mas todas elas protagonizadas por personagens típicas, ligadas à povoação, com comportamentos característicos dos habitantes das vilas e aldeias do interior alentejano. Muitos leitores perguntam-me se eu passo para o papel histórias que me contam. Essa situação apenas aconteceu duas vezes: no conto “A Aposta”, que está na colectânea Alentejo Sem Fim (2004) e no conto “O Sinal”, publicado agora. Este último é uma história sobre a prisão do lutador antifascista montemorense João do Machado, um episódio que o próprio me contou há uns anos e que eu, com a sua autorização, ficcionei. Todas as outras narrativas são meras construções ficcionais sem qualquer ligação com acontecimentos reais.
No entanto, este livro tem algumas histórias de carácter muito pessoal, cujos protagonistas são precisamente membros da minha família – os meus filhos, a minha mulher e a minha mãe – o que não deixa de ser também um género um pouco “anfíbio”, uma mescla entre a autobiografia, as memórias e a ficção. Mas os leitores irão reparar que este terceiro livro é o mais “pessoal” e o mais introspectivo dos três, para além de ser dedicado ao meu pai que, neste momento concreto, merece todas as dedicatórias do mundo.

3/ A editora falou num possível romance. Para quando um romance de grande fôlego envolvendo a cidade?

Como referi anteriormente, sinto-me mais confortável na escrita de contos. Contudo, o romance é um objectivo que não se põe de parte. Há alguns projectos nesse sentido. Tenho um romance começado há uns anos, interrompido porque me apeteceu escrever contos (são mais práticos) e que aguarda agora novas investidas da minha parte. Como me escreveu uma amiga, terá de ser quando eu encontrar a altura certa. Mas a publicação de uma obra dessa envergadura não depende só de quem a escreve. Falo dos apoios que são fundamentais para levarmos adiante esse desiderato. Por exemplo, a Câmara Municipal de Montemor tem manifestado sempre uma enorme disponibilidade para apoiar a edição de todos os meus livros. Essa atitude, na minha opinião decisiva na concretização desses projectos, dá-me alguma segurança (a mim e à Editorial Tágide) para pensarmos seriamente no assunto. Devo assinalar também, desta vez, o apoio da Direcção Regional da Cultura do Alentejo, que muito nos honrou.

4/ Durante a apresentação do livro disse, cito, que “escrever ficção é sempre uma resposta ao caos que nos rodeia”. Para o João Luís a escrita é o tal ponto de equilíbrio num quotidiano muitas vezes absurdo?

A escrita, e a escrita de coisas inventadas, de ficção, portanto, é uma das formas de fugir ao real, mas com o objectivo de mostrar esse real sob um olhar crítico. Como refere Ítalo Calvino num dos seus ensaios, o acto da escrita parte sempre de um cenário de caos (são milhares as informações misturadas que temos ao nosso dispor para inserir nos contos) para, a partir daí, procedermos à organização dessa desordem, “limparmos” o que não faz falta, até termos a história que queremos que os outros leiam. Uma narrativa ficcional – conto, novela ou romance – é, assim, como se fosse um bloco de pedra que o escultor vai esculpindo, retirando tudo o que está a mais, eliminando todo e qualquer “ruído”, até ao aparecimento do objecto desejado, símbolo desse equilíbrio que se procura e não se encontra na vida de todos os dias. Só que, em vez de pedra, temos as palavras, mil vezes mais complexas, polissémicas e… terrivelmente fugidias.

5/ Segundo uma das responsáveis pela Editorial Tágide, uma das características dos seus contos, com muita acção e diálogos, é serem facilmente transponíveis para o teatro. Foi pensado?

Sou da área das literaturas. Logo, as minhas leituras passam pelos géneros literários todos: o narrativo, o lírico e o dramático. Por isso, é bem possível que na minha escrita haja a fusão dos três, de forma até inconsciente e que se manifesta nos meus textos, tal como foi referido na sessão. Curiosamente, “O Funeral da Dona Capitolina”, um dos contos do meu primeiro livro, foi encenado por alunos e professores da escola secundária onde trabalho e penso que resultou muito bem. Por isso, a Celina Veiga de Oliveira é capaz de ter razão. Mas quando estou a escrever não penso muito nessa questão. Nem muito nem pouco. Não penso, simplesmente.

6/Foi uma apresentação à qual compareceu imensa gente. Surpreendeu-o? Vê isso como a sua consagração como escritor ou as pessoas interessam-se mais quando se fala do seu espaço, da sua terra?

Consagração? Escritor? Não, claro que não. Na apresentação dos outros dois livros, a sala também esteve cheia. Por isso, o que senti foi, tão somente, um prazer imenso ao ver tanta gente que se deslocou à Biblioteca Municipal para ouvir e para ler o que escrevi desta vez. Percebi que continuo a ter muitos amigos que querem manifestar os seus afectos e a sua amizade estando presentes (quer chova, quer faça Sol) nos eventos onde estou envolvido. Senti que as pessoas vêem nos meus textos e na sua leitura uma forma de manifestarem também a sua paixão incondicional por Montemor, alguns, até, sem serem naturais da nossa cidade. Como professor que escreve contos, o que me deixa feliz é a vontade que as pessoas manifestam na leitura. E, sobretudo, quando alunos meus me dizem que andam a ler contos da minha autoria e me pedem pra autografar os livros que compraram. Isso é uma sensação indescritível. E ler é bom. Nem que seja uma história imaginária passada na terra onde nascemos, escrita por alguém com quem nos cruzamos na escola, na mercearia ou no mercado ou com quem tomamos um café às sextas-feiras de manhã.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Neve no alto do monte



Vai caindo, aos poucos, a neve, ao longo dos dias e, quando olhamos bem para o monte, reparamos que está bonito, alvo, de uma brancura serena. Quase não damos pela sua chegada mas, seguindo a lei da vida, a neve chega e fica. É então tempo de afrouxar o passo e, tantas vezes, encostar à berma da estrada já percorrida. Para sentir, de forma mais intensa, o valor da vida, os princípios que aprendemos e que aplicamos diariamente sem nos preocuparmos em perceber a sua origem. Para pensar a sério no valor dos afectos e das ligações entre pai e filho. Nunca as tinha imaginado tão fortes, nem vivido de forma tão intensa.



domingo, 7 de novembro de 2010

Eu queria uma ministra da educação. Obrigado.


A senhora, que o presidente da nossa dita república (regime que faz agora 100 anos, celebrados com esfusiantes manifestações de júbilo só para irritar os monárquicos como eu) empossou como ministra da educação, não me parece muito talhada para o cargo. Pode ter algum tacto para ganhar uns euros com umas histórias juvenis escritas à maneira da inimitável Enid Blyton, mas como ministra da educação, convenhamos que, nesse posto de tanta responsabilidade, o tactinho não é muito. Enfim, foi o melhor que Sócrates conseguiu arranjar, à pressa e meio atamancada, para acalmar os professores que já não podiam mais com a outra senhora, cujo nome já se me varreu, pela triste memória que ele invoca.

Para esta, a escritora de livros de aventuras, é tudo é muito giro, muito fixe, muito fantástico e, por isso, nada se tem resolvido para que os professores façam aquilo para que têm vocação (pelo menos grande parte deles): ENSINAR.
A senhora descobriu agora que o dia tem 24 horas (que giro!!), coisa que nós sabíamos há algum tempinho. Como é que ela acha que nós conseguimos dar aulas, preparar aulas, preparar reuniões, assistir a reuniões, entre outras tarefas, se o dia fosse mais pequeno? Portanto, ó santinha, não trate os meus alunos, nem os professores deles, como se tivessem todos 3 aninhos. E outra coisa: o professor não é um animador cultural ou um entertainer. Um professor ensina… se o ministério da educação o permitir.

Por isso, eu quero uma ministra da educação, não quero uma escritora de livros juvenis que vem fazer de ministra diante das câmaras de televisão. Nós, professores, sabemos perfeitamente que ela não é – repito, não é – uma ministra da educação. O que é, então? Não faço a mínima ideia.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A fuga dos galinhos


Portugal prepara-se para assistir à repetição, pela vez terceira, da mesma cena de fuga acobardada de quem já não sabe o que há-de fazer com o lixo que foi varrendo para debaixo do tapete. Lembram-se de um certo António Guterres? E de um inenarrável Durão Barroso? Lembram? Quando o barco começou a virar de borco, fugiram a setenta pés e foram sentar-se em tronos especiais, reservados para os ditos como recompensa merecida pelas obras feitas. Um deles, como Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, e o outro como Presidente da Comissão Europeia. Este último aparece amiúde nas televisões a lançar postas de pescada, em várias línguas, sobre a crise nacional e má-na-sê-quê, como se ele não tivesse parte na responsabilidade.

Gostava de saber para onde vai ser transferido o senhor engenheiro-quase-em-fuga. Que tacharrão é que o partido estará a preparar para o moço dar uso ao seu diploma? E os que cá ficam vão ter de sobreviver, não sabendo bem como, porque cada vez ganham menos e cada vez pagam mais impostos. Entretanto, continuam outros, os ligados ao poder e às grandes empresas ligadas ao poder, a nem sequer sentir que há crise. Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é profundamente vergonhoso.



terça-feira, 2 de novembro de 2010

Castelo novo?


           
(Imagem magnífica captada pelo PEDRO CARPETUDO e que eu roubei já não sei de onde - Não lhe digam!)

Pois o nosso castelo tem andado mesmo nas bocas do mundo nos últimos tempos. Quer por causa de uma certa Torre do Relógio que – dizem – ia desaparecer no dia 30, quer por ter ganho forma colorida depois do sol-pôr. Está um mimo. Parafraseando um slogan que já tem uns anos: “Montemor já merecia um castelo assim”. Agora… falta o resto, isto é, uma intervenção urgente para que a iluminação continue a fazer sentido.

Quando a minha fofa viu o castelo iluminado pensou que a colina mais alta do povoado tinha sido invadida por marcianos. Tive de lá ir com ela, mesmo juntinho às muralhas, para ela poder descansar o espírito. Eram apenas holofotes apontados estrategicamente às velhas muralhas. Nada de homenzinhos verdes, com três antenas ou um olho no meio da testa. Ela pareceu-me desiludida.



domingo, 31 de outubro de 2010

Das qualidades terapêuticas da leitura



 ...e o mistério que envolveu a Torre do Relógio nestas últimas semanas já foi, decerto, desvendado por aqueles que leram a primeira história dos Outros Contos de Vila Nova. E o alívio instalou-se, finalmente, nos espíritos mais desassossegados.
Obrigado aos que estiveram presentes ontem, no Auditório da Biblioteca Almeida Faria, em Montemor-o-Novo. Obrigado também a todos os que se associaram ao evento mesmo sem estarem presentes. Sei que nem sempre podemos estar onde queremos.
Não me cansarei de agradecer à precisosa equipa de amigos pessoais e amigos da Editorial Tágide que transformaram aquela tarde de chuva forte num momento único de manifestações genuínas de amizade e afecto. É o que é literatura - um catalisador de paixões.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Vem aí o coiso!



Pronto.
Até dia 30 não falarei, não escreverei, não publicarei seja o que for sobre o coiso (dizer, escrever, visualizar a palavra... dá azar) que está para chegar. Mas, no próximo Sábado, pelas 16 horas, na Biblioteca Municipal, aqui em Vila Nova, podemos trocar uma ideias sobre o assunto. Obrigado a todos pelo apoio e pela divulgação que têm feito dos OUTROS CONTOS DE VILA NOVA. Eles já não são meus. São de quem os apanhar.

sábado, 23 de outubro de 2010

O beijo


"(...)" D. Maria Júlia Benevides, candidata a viúva desde as 10 da manhã, levantou os olhos do terço, que rezava com fervor permanente, não se sabe se a pedir pela alma do marido, se a agradecer alguma graça concedida, olhou e viu aquilo que já esperava: uma fila de mulheres de várias idades e tamanhos que seguiam lentamente, com os filhos pelas mãos, até à urna onde jazia o aparente defunto. E, enquanto cada uma ia, à vez, espreitando a face de Januário, numa despedida derradeira, este reparou que todas tinham olhos de choro, embora ali mantivessem a compostura exigida. Os filhos e as filhas, também de vários tamanhos e idades, seguiam em silêncio, uns distraídos, outras nervosas, quase todos espantados com as velas, os véus, os cheiros, as flores e… a urna de mogno onde Januário Benevides, ouvindo e percebendo tudo o que estava a acontecer, se sentia cada vez mais impotente para exibir ao mundo a sua verdadeira condição."(...)"

O BEIJO, in Outros Contos de Vila Nova (Editorial Tágide, 2010)

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Gabinete de Crise reunido de emergência na Câmara de Vila Nova



"(...)" Quando o grupo liderado pelo intrépido Baltazar entrou, com passo decidido, no Largo dos Paços do Concelho, só aos empurrões se conseguia penetrar naquele tecido humano, apertado e consistente, que enchia o espaço àquela hora da manhã. Afinal, não tinha sido ele o único a dar pela falta do monumento. Mais de mil pessoas. Mil não. Duas mil. Mais de duas mil pessoas ali amontoadas, encostadas à sua irritação e impaciência, prestes a exigirem em alta voz e em coro, à boa maneira das manifestações de outrora, a presença do presidente na varanda central do salão nobre. Entretanto (...) as conversas cruzavam-se fortes, nervosas de ansiedade, à espera de uma palavra de Duarte Calabás, presidente eleito pela terceira vez e candidato a um quarto e último mandato e que tinha agora o problema mais grave de todos os problemas graves de todos os seus anos de mandato à frente da autarquia vilanovense.
Trancado no salão nobre, transformado em gabinete de crise, o experiente autarca manifestava, quer pelos traços histriónicos, quer pela voz trémula, uma apoquentação nunca antes vista. Nem quando estivera a meia dúzia de votos de perder o seu lugar para o Bastos Xavier, candidato do maior partido da oposição. "(...)"

A TROCA, in Outros Contos de Vila Nova (Editorial Tágide, 2010)

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A Vingança de Severiano Valverde


"(...)" No dia do lançamento da sua obra mais recente no auditório da Biblioteca de Vila Nova, a abarrotar de gente ― pois Severiano tinha muitos amigos e já tinha soado entre eles que este livro era um bocado estranho ―, mal sabia ele o que o destino lhe tinha preparado. Iniciada a cerimónia, elogiado o autor, a editora e o livro e feitos os agradecimentos, seguindo religiosamente os trâmites do protocolo, Severiano disponibilizou-se para a sessão de autógrafos.
― Não! ― ouviu-se uma voz.
― Não? ― perguntou o escritor.
― Nós não vamos querer o seu autógrafo enquanto não soubermos o que está dentro do seu livro.
― Mas para isso têm de ler as histórias… ― lançou Severiano, pensando que os desarmava.
― É isso mesmo que vamos fazer.
E toda a gente, num profundo silêncio, perante o atónito escritor e a preocupada editora, começou a ler as histórias, cada um à sua velocidade, ora esboçando sorrisos, ora esgares de irritação ou surpresa ou mesmo exclamações de desespero e fúria incontida. Palavra a palavra, linha a linha, as histórias que compunham o pequeno volume foram lidas, dissecadas, assimiladas, experimentadas mentalmente para ver se eram verosímeis. O escritor, em estado meio de espera, meio de alerta, trocava olhares com a doutora que se encontrava sentada na outra extremidade da mesa de honra "(...)".

A VINGANÇA DE SEVERIANO VALVERDE, in Outros Contos de Vila Nova (Ed. Tágide, 2010)

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Águas Mil


"(...) Maria Benedita susteve a respiração. Não acreditava no que estava acontecer-lhe. Nem um nem outro conseguiram pronunciar palavra. Nem uma sílaba. Por mais sem sentido que fosse.

O vento, transformado em brisa, refrescava-lhes, aos poucos, os corações. As nuvens negras a ameaçar trovoada começavam a dissipar-se. O rio, como que por milagre, sossegou e as rochas duras transformaram-se em areia. Os troncos arrastados pela corrente, que pareciam braços a pedir auxílio, quiseram ser pássaros e sobrevoaram as águas sarapintadas pela espuma dos dias. Dos dias de sofrimento. Do passado. Do que, afinal, ainda se pode mudar.

As lágrimas amargas ficaram rios de mel com laranjas e as veias daqueles dois, até então empedernidas, transformaram-se, elas sim, em caudais violentos de sangue vivo, numa enxurrada de liberdade, como se tivesse chovido mil anos sem parar. Até o rebanho estava silencioso, à espera, guardado pelo cão, em expectativa. Foi ela que recomeçou, em aflição, contrariada por quebrar aquele sossego tão inesperado:
― Simplício! Onde é que arranjaste dinheiro para um presente tão caro? (...)"

ÁGUAS MIL, in Outros Contos de Vila Nova (Ed. Tágide, 2010)

terça-feira, 12 de outubro de 2010

O SINAL


‎"O que Zulmira não adivinhava, não podia adivinhar, era que nesse mesmo dia, já perto do lusco-fusco, iria entregar à polícia política o seu Tomé, o homem com quem tinha casado havia mais de um ano, a quem, diante do padre e de Deus, havia jurado nunca trair, fossem quais fossem as circunstâncias da vida. O seu Tomé, pai da Margarida, aquele pedaço de céu prestes a ficar sem os seus carinhos. Se Zulmira soubesse o que estava para acontecer, teria preferido que aquele dia nunca tivesse amanhecido.(...)"

O SINAL, in Outros Contos de Vila Nova (Editorial Tágide, 2010)





terça-feira, 5 de outubro de 2010

A Troca

"(...) Foi só depois do nascer daquele dia terrível, ao sair para a rua a dar início a mais uma jornada de trabalho, que Baltazar Mendes olhou em direcção ao castelo e não viu o que costumava ver. Primeiro, não reparou na sua ausência, tal era a força com que a sua presença lhe estava entranhada. Mas depois, ao segundo olhar, percebeu que havia ali coisa que não era habitual.

Pois é esta a verdade que aqui lhes trago: Vila Nova acordou em grande sobressalto naquela manhã. Ninguém dera por nada. Não se ouvira qualquer estrondo nem barulho de motores ou de vozes. Nem o ar a deslocar-se, nem explosões, nem nada. Nada que fizesse despertar o bom povo do sono justo que o agarrou ao leito naquela noite, aparentemente santa. Aliás, como veio a dizer mais tarde Baltazar Mendes, já no Largo dos Paços do Concelho, tinha sido uma noite demasiado calma. Pois foi ele que deu o alarme.

Enquanto fechava a porta de casa, na Rua de Avis, para se dirigir para a loja de ferragens, onde trabalhava havia perto de trinta e cinco anos, olhou sem pensar, como sempre olhava, para aquele horizonte estreito entalado entre os prédios da sua rua e, lá mais à frente, pelas casas antigas da Rua das Pedras Negras. E, quando olhou, estranhou o que viu. Ou melhor, estranhou o que não viu. Primeiro não percebeu.

Depois semicerrou os olhos, não se tivesse entreposto alguma névoa entre a ponta do seu nariz e o fundo do céu. Foi aí que percebeu. Soltou um grito de aflição e impotência: a Torre do Relógio, que coroava a Rua do Quebra-Costas, esta a desaguar a custo na avenida principal do castelo, a torre que figurava no brasão de Vila Nova e nos emblemas da maioria das associações da vila, a Torre do Relógio de Vila Nova tinha desaparecido com as quinze toneladas de pedra que, durante séculos, lhe deram forma. Desaparecido?, perguntarão. Desaparecido, responderei. É que não há outro verbo no particípio passado que melhor descreva a sua ausência ou que satisfaça a maldade inata do perguntador mais perverso.(...)"

Excerto de "A Troca", in Outros Contos de Vila Nova (Editorial Tágide, Lisboa, 2010)



sábado, 25 de setembro de 2010

A Torre da nossa existência


(Foto: Carlos Carpetudo)

 

Muito se tem comentado sobre o alegado (não quero problemas com a justiça) desaparecimento do símbolo mais carismático da cidade de Montemor-o-Novo. A antiga Torre do Relógio, presente nos logótipos de grande parte das associações montemorenses, está, segundo corre por aí, prestes a desaparecer. A imagem de marca de um povo, que tem atravessado gerações, que tem dado origem às mais variadas histórias, presente em romances e contos, artigos e reportagens, vai desaparecer em Outubro. É o que consta.

Ideias interessantes (para além de outras muito originais e disparatadas) foram surgindo nas últimas semanas, em blogues e nessa maravilha da natureza comunicacional chamada Facebook. Truques de ilusionismo, obras de restauro, uma vaga de nevoeiro, ataques terroristas… Todas as hipóteses parecem plausíveis, embora TODAS se afastem anos-luz da verdade. O que o pessoal quer saber é o que vai acontecer ao símbolo da cidade, ao emblema da nossa existência. Vamos ter de esperar até Outubro. A data? No dia 30, pelas 4 da tarde.

Enquanto a Torre não desaparece, nós, os Peões, temendo a ausência do nosso ponto de referência, por aqui andamos, desejando secretamente que algo aconteça mas que, depois, e paradoxalmente, tudo volte ao seu devido lugar. Coisas da natureza humana.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Até 30/10... o golpe final



A foto (quem sabe se a última) é do Carlos Carpetudo

Após vários dias de negociações, nada demoveu o autor do crime. A Torre do Relógio vai mesmo desaparecer até ao dia 30 de Outubro. A não ser que... haja um milagre. Mas dos bons. Apela-se à população que se mantenha... vigilante.


domingo, 12 de setembro de 2010



"Olhó Manel Alegre!!"


Foto retirada do site do Correio da Manhã

sábado, 11 de setembro de 2010

Carlos II

Somos mesmo um país terrivelmente injusto. Carlos Cruz tem tido desde a sua condenação um total apoio da televisão pública. As entrevistas sucedem-se, na tentativa de, condenado pelos tribunais, vir a ser absolvido pelo público que há uns anos não perdia um dos seus vários programas televisivos. Por que não terão todos a mesma oportunidade? Se eu cometer um crime e for condenado, terei a mesma oportunidade que Carlos Cruz para reclamar inocência perante o país? Que mecanismos terei de accionar que permitam a minha presença quase diária nas televisões (principalmente na televisão pública) numa derradeira tentativa de enxovalhar a justiça (ainda mais), denegrir os juízes (ainda mais), cuspir nas leis que ainda fazem este país sobreviver? Que outro condenado, por este ou por outros crimes, tem tido as hipóteses de Carlos Cruz? O meu país, o seu país, caro leitor, é isto mesmo: um espaço cada vez mais mal frequentado e onde os condenados têm mais hipóteses de sobreviver do que qualquer um de nós, cujo crime mais grave terá sido o de estacionar o carro em cima do passeio… ou o de ter pago a factura da EDP fora de prazo. E ele até pode estar a ser vítima de um erro judiciário. Mas não serão estes métodos os mais aceitáveis para provar isso mesmo.

Carlos I



Dois homens chamados Carlos dominam a cena mediática nacional. Por razões diferentes. O Cruz por ter sido condenado no Processo Casa Pia e por continuar a alegar inocência, usando tudo o que é mass media, perante os factos provados. O Queirós por ter feito comentários despropositados e, quanto a mim, e esse sim é o motivo real, por não ter sabido conduzir, como um verdadeiro líder, a Selecção Nacional no Mundial da África do Sul. Dois casos diferentes, dois homens diferentes e com uma relação íntima diferente com as câmaras de televisão. O Cruz olha o espectador nos olhos e, num discurso inflamado, tenta convencer a opinião pública da, na sua perspectiva, incompetência dos juízes no decorrer do processo. O Queirós, que não sabe alinhavar uma ideia atrás da outra, e sabendo o triste fim que o esperava, tentava a todo o custo ganhar uma brutal indemnização que viria atrás do despedimento. Viria. Mas parece que não vem. Estalou-lhe a castanha na boca: acabou agora de ser demitido e o senhor Madaíl já disse que não há pão cozido.

Mas este é um caso que nada vale comparado com o outro. Com o do Cruz. Somos mesmo um país de gente estranha. Se as leis não funcionam e se estas deixam criminosos em liberdade, gritam uns por justiça. Se, após escandalosos anos de julgamento, se dão como provados actos criminosos e, consequentemente, se condenam os arguidos, gritam outros que as penas foram duras ou que há inocentes enviados injustamente para a prisão.

A presunção de inocência é assumida enquanto não é lido o acórdão. Depois de lido, se houver recursos interpostos e, depois, a decorrer, essa presunção de inocência continua válida. Por isso, os agora condenados no Processo Casa Pia continuam a ser considerados alegadamente criminosos. Depois de tudo o que foi provado em tribunal, eu considero-os alegadamente inocentes.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Para a posteridade!


Também o meu Amigo Zé Bexiga anda preocupado com o futuro da Torre do Relógio, que faz parte da vida dele e... da nossa. Assim, pelo sim, pelo não, fez este registo do monumento, não vá o diabo tecê-las. Bela foto, Zé Bexiga, concretizada a partir de um outro "monumento da cidade" - o velhinho Largo das Palmeiras. Obrigado!

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Fabulosa!


Um amigo algarvio, e montemorense ao mesmo tempo, preocupado com as conversas que circulam por aí, enviou-me esta fotografia da Torre, numa perspectiva pouco habitual e, por isso, brutalmente bonita. Obrigado, Tó Alves. Quero-te cá em Outubro.

domingo, 29 de agosto de 2010

Quem o alheio veste...


Tony Lopes, Paulo Alface, Daniel Garfo, João Bastos, Nuno Galego, David Mira, Pedro Pais, Pedro Patinha e Pedro Ricardo.

Lembram-se dos Amigos do Alheio? À excepção do Pedro Patinha e do Pedro Ricardo, que não puderam regressar ao projecto, e do Pedro Pais, que se encontrava ausente por motivos pessoais, o grupo montemorense que tinha feito uma pausa na carreira há 11 anos, regressou para gáudio (e alguma emoção) dos músicos e dos numerosos amigos e admiradores. Foi um serão muito bom o de ontem, no espaço da Theatron. 
Os músicos, agora mais maduros e todos com a experiência de outros projectos que, entretanto, foram surgindo, continuam a saber o que fazem. A voz do David continua camaleónica, capaz de nascer potente e grave para desmaiar num agudo claro e cristalino onde só alguns conseguem chegar. Foi um prazer ouvi-los.
Um abraço aos Amigos, que continuam  roubar melodias e textos à boa música portuguesa e a dar-lhes um tratamento com uma sensibilidade muito peculiar.

No dia 3, lá estarei em frente ao Palco Pequeno (aquele que vale mesmo a pena) da Feira da Luz. Venham também.

(A foto foi surripiada de um álbum da Theatron. A culpa é dos Amigos do Alheio.)

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Para que conste...



... declaro solenemente que a Autarquia montemorense nada tem a ver com as notícias veiculadas sobre o desaparecimento da Torre do Relógio, coisa que vai acontecer lá para o mês de Outubro. O único responsável é o autor destas linhas que anda, de manhã à noite, a tentar por todos os meios evitar o anunciado desaparecimento do mais carismático monumento da cidade. 
Publique-se.

41.000, ou mais...


(Foto: Carlos Carpetudo)

... vão estar atentos à Torre do Relógio. E vão contemplá-la todos os dias, à espera do mês de Outubro.
Alguns começam já a sentir uma certa... nostalgia.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

sábado, 14 de agosto de 2010

THE SONGS


(Foto: M. F. Poças)

... estas com outra carga simbólica, marcadas pelo Tempo português e pela História do país, canções de referência que nos ajudam a perceber melhor a música portuguesa e o modo como ela se confunde com a luta pela liberdade.


HOMENAGEM A ARY DOS SANTOS

Quando: Há bocadinho
Onde: Parque Urbano
Quem: Cantores - Samuel, Fatucha, Sira e Alexandra
           Músicos - Samuel, Nuno, Ivo e André
           Poemas - José Carlos Ary dos Santos


Obrigado ao Ary, ao Tordo, ao Pedro Osório, ao Zeca, bem como a outros compositores, e aos cantores que deram vida às canções no tempo em que elas fizeram sentido.
Obrigado às cantoras de hoje, ao Samuel e aos músicos, porque percebi que continua a fazer (cada vez mais) sentido ouvi-las e cantá-las!           

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

THE SONG


Ofereceu-me uma mulher. A minha. Esta é a canção de sempre. Para mim, claro.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Justiça

Logo que o próximo INCENDIÁRIO seja apanhado, amarrado a uma árvore, regado com gasolina e transformado em justiceiras labaredas, os fogos no país irão para menos de metade. A nossa justiça é uma autêntica bananeira.
Tudo o que falta aqui dizer, digam-no vocês, caros leitores.

Dúvidas...


Queiroz contestou a nota de culpa, apresentou testemunhas abonatórias e aguarda "julgamento". Foi incorrecto, diz-se, para com elementos da brigada antidopagem durante o estágio da Covilhã. O ainda seleccionador afirmou, em entrevista ao Expresso, estar a ser «acusado para esconder negligência médica».  Não percebo por que só agora é que foi notificado. Será o castigo por não ter trazido um bom resultado do Mundial? É o pretexto para ser despedido por ser um líder pouco... carismático? E Scolari? Por que não foi "processado" depois da agressão a um jogador sérvio no final do encontro entre Portugal e a Sérvia, a contar para a fase de qualificação para o Europeu 2008? Por ter carisma? Se Queiroz for despedido, qual é o valor da indemnização? Não será financeiramente mais conveniente a FPF mantê-lo no cargo, depois de algumas palhaçadas a fingir que foi tudo muito grave e tal? Afinal o homem "pecou" ou não? Não será melhor repensar a coisa? É por estas e por outras que cada vez percebo menos de futebol. E não quero perceber.




segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Portas prevenido


Não há meios para combater os incêndios que devoram o país? Puro engano. Com que intenções teria Paulo Portas - aquela inteligência tão rara -  pago tantos milhões por dois submarinos alemães? Oh, povo ignorante!! Para combater os incêndios, pois claro!! Qem é amigo, quem é? O Portas! O Portas! O Portas!

domingo, 8 de agosto de 2010

Pois é...


O professor  e escritor brasileiro Affonso Romano de Sant'Anna produziu um texto que a minha mulher partilhou comigo recentemente. Aqui fica, dedicado desta vez a todos os que poderiam, pelos motivos que adiante entenderão, escrevê-lo sem alterar uma única vírgula.

Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos seus próprios filhos. É que as crianças crescem independentes de nós, como árvores tagarelas e pássaros estouvanados. Crescem sem pedir licença à vida. Crescem com uma estridência alegre e, às vezes, com alardeada arrogância. Mas não crescem todos os dias de igual maneira. Crescem de repente. 
Um dia sentam-se perto de nós no terraço e dizem uma frase com tal maturidade que sentimos que já não podemos trocar as fraldas àquela criatura. (...) A criança está crescendo num ritual de obediência orgânica e desobediência civil (...).
E eles crescem meio amestrados, observando e aprendendo com nossos acertos e erros. Principalmente com os erros que esperamos que não repitam. Há um período em que os pais vão ficando um pouco órfãos dos próprios filhos. Dixámos de ir buscá-los à porta das discotecas e das festas. Passou o tempo do ballet, do inglês, da natação e do judo. Saíram do banco de trás e passaram para o volante de suas próprias vidas. 

Distraídos crónicos...


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