quinta-feira, 13 de abril de 2023

3 reflexões (provavelmente, disparatadas)

 


Primeira

 

Comecemos pelos mais pequeninos. Exactamente, as criancinhas que começam a mandar nos pais, nos avós e nas educadoras, logo assim que começam a balbuciar as primeiras palavras.

Em tempos idos, e não quero dizer que dantes é que era bom, nada disso, não éramos nós, as criancinhas, que definíamos o dia-a-dia da família. Nós, os pequeninos, adaptávamos os nossos quereres às regras estabelecidas pelos nossos pais, pelos nossos padrinhos (uma figura extraordinariamente importante na nossa educação) ou pelos nossos avós, elementos incontornáveis na nossa vida.

Os compromissos familiares eram cumpridos como se algo de sagrado se tratasse e, independentemente da idade do infante, fazíamos o que as famílias costumavam fazer: almoçar ou jantar todos juntos em épocas festivas, passear, ir aos aniversários uns dos outros, passar férias, todos ao molho e com fé nos deuses. Enfim, não havia restrições, nem medos, nem complexos, nem ansiedades. Aliás, os nossos país tinham métodos eficazes para tratarem os nossos ataques de mau feitio, as nossas manias, os nossos chiliques e depressões.

Com a filharada cá de casa aconteceu o mesmo: as regras da família eram para ser cumpridas, às horas marcadas, com prazer e alegria. Claro que, hoje, já adultos, acabam por fazer a sua vida, mas a família continua a ser, acredito eu, o pilar, o pretexto para estarmos juntos, a discutir o que vier para cima da mesa, qualquer que seja o tema. Nada fica no prato a arrefecer, porque por aqui não há tabus: o que está enleado desenleia-se e nada fica por dizer.

Acho que os pais de hoje, jovens, alimentados pelas teorias das escolas do Dr. Google e preocupados com o futuro e segurança dos filhos (o que é natural e de aplaudir), se angustiam em demasia e esquecem que, um dia, os filhos, irão cair de borco num mundo-cão que não lhes perdoa caprichos ou birras de ocasião. Nem faltas de pontualidade.

 

Segunda

 

Falei há pouco com um amigo que me disse que tinha deixado a escola cedo demais, porque não era feliz na sala de aula. A conversa era leve e apareceu no meio de outras que costumamos ter. Mas aquela frase deixou-me a pensar: e hoje, os alunos sentem-se felizes numa sala de aula? Não terão possibilidade de aprender tudo o que necessitam por outros meios? Acreditem, caros leitores, que não sei responder a estas perguntas.

O conhecimento, essencial para o nosso desenvolvimento como seres sociais e úteis à comunidade onde vivemos, pode ser adquirido de muitas formas, e hoje, com a Internet, tudo se pode estudar, analisar e aprender. Há, contudo, um problema que inviabiliza a legitimidade dessa aprendizagem. A aquisição de conhecimentos deve ser feita de forma organizada, lógica, de acordo com a faixa etária do aluno e, talvez o mais importante, ser legitimada por alguém que se preparou durante anos para isso: o professor.

Por isso, porque, muitas vezes, o que o professor explica já não é novidade para muitos deles, a infelicidade de alguns alunos numa sala de aula não deve jamais ser desvalorizada. Urge adaptar as práticas pedagógicas, as matérias e os programas às novas gerações de estudantes  que, mais do que demasiada teoria, necessitam (e o mundo fora da escola também) saber qual a aplicação prática do que aprendem dentro do recinto escolar. Está na hora de se repensar os currículos de todas as disciplinas e, sobretudo, de direccionar os alunos para as áreas de conhecimento onde se sentem realizados nas respectivas aprendizagens e nas descobertas que elas lhes proporcionam.

As gerações de velhos professores, que falavam de cima da cátedra para quem quisesse ou fosse capaz de aprender, já quase terminou, felizmente. A sala de aula é hoje um espaço de debate e de inclusão, onde todos podem e devem participar. Para isso, é fundamental a motivação, o interesse, a curiosidade, a vontade de aprender e a consciência da utilidade dessas mesmas aprendizagens.

A questão é continuarmos a viver o velho problema de não se oferecer aos alunos as áreas adequadas ao seu perfil, aos seus gostos e às suas capacidades. Se isso fosse possível (bastava haver vontade política), revolucionava-se a escola e o país. E talvez se acabasse com essa infelicidade de muitos deles. E talvez esse meu amigo tivesse acabado a sua escolaridade.    

 

 

Terceira

 

Fico incomodado quando percebo que vivemos, todos nós, a maior parte da nossa vida com medo. E que tem sido esse medo que os políticos, todos, antes e depois de Abril de 74, têm usado para controlar os nossos dias.  

Antes da Revolução, os nossos pais e avós, tios e tias sentiam uma enorme angústia, permanente e desgastante, porque o sistema político vigente, e que se aguentou 48 anos, não lhes permitia ser felizes. Havia o medo de falar, o medo de escrever, o medo de pensar, o medo de agir. Tempos de terror inimaginável para os muitos portugueses, e montemorenses, que foram levados pelos esbirros de Salazar e trancados no Aljube, em Caxias, em Peniche ou degredados para o Tarrafal. Torturas, sevícias de todo o género, humilhações, sofrimento, morte – tudo passaram estas mulheres e estes homens, em nome da liberdade e em luta pelos direitos de todos os portugueses.

Hoje, quase meio-século após a revolução, continuamos a viver com medo. Medo de um retorno ao passado, com os partidos de direita a conquistarem espaço no espectro político-partidário, medo de não termos rendimentos suficientes para pagar as mensalidades da casa ao banco, medo de que comece a faltar alguma comida em cima da mesa, medo de uma doença que nos leve ou que afaste de nós, para sempre, familiares e amigos, medo de não vivermos o suficiente para criarmos os nossos filhos e ajudarmos a criar os nossos netos. Medo de termos uma avaria no carro, no esquentador ou na máquina de lavar roupa. Medo de faltar dinheiro para pagar os seguros, o IMI e o IUC ou as propinas dos filhos, a estudarem na universidade.  

Enfim, pelas evidências que nos chegam todos os dias a casa através da televisão, temos a certeza de que esta permanente sensação de insegurança e angústia se vai prolongar pelos meses que aí vêm.

E o Governo de Costa, com cada vez mais “casos e casinhos”, a rir-se de nós todos.  Como se fôssemos todos parvos.   

 

João Luís Nabo

In "O Montemorense", Abril de 2023


Distraídos crónicos...


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