quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Deprimido, sim!







Andamos preocupados com o tempo. Com as secas e as inundações. Com o calor extremo e o frio exagerado. Com os incêndios e os vulcões furiosos. Com a subida do nível das águas e com a extinção de milhares de espécies animais e vegetais. Muitos de nós admiram e aplaudem as acções de sensibilização da jovem Greta Thunberg, outros criticam-na e acusam-na de estar ao serviço de lobbies poderosos e de outros interesses obscuros. Mas que ela veio agitar as consciências, disso ninguém tem dúvidas. Espantamo-nos com o desprezo e a ignorância com que Bolsonaro (Urgh!!!) e Donald John Trump (duplo urgh!!!) mostram ao (des)preocupar-se com as questões do ambiente. Estes e outros poderosos, que por inerência poderiam ajudar a resolver parte do problema, recusam-se pornograficamente a fazê-lo. E talvez tenham razão. Porque talvez não valha a pena. O planeta em agonia remete-me para a metáfora do cofre, outrora cheio de dinheiro e que, agora, está vazio, depois de despesas desnecessárias e exageradas efectuadas por todos nós. De momento, a recuperação do capital, mal gasto durante décadas, de forma inconsciente e leviana, é indiscutivelmente impossível. Porque é impossível interromper, nem que fosse por seis meses (obrigado, Manuela Ferreira Leite), o sistema capitalista que abraçou o planeta em forma de estufa asfixiante e de longa duração.
Sinto, pois, que nos encontramos em absoluta falência ambiental. E para este tipo de crise, acreditem os meus oito leitores, não há FMI que nos valha.

João Luís Nabo
In "O Montemorense", Janeiro 2020

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Shame on you, Mr. Trump!




É incontornável, logo no início do ano, aquela parvoíce do senhor Trump que, aparentemente, ia pondo metade do globo em guerra. Não sei o que se passa naquela cabecinha oca, tão cheia de oxímoros estúpidos e sem sentido, só porque sim, só porque não. A Fofa não percebe por que ainda não o destituíram, e eu gostava de saber, mesmo de verdade, se o cargo que ocupa não foi consequência de uma fraude eleitoral, que ainda vai deixar um amargo de boca (se for só isso!) a esta civilização do século XXI. “Se foi fraude, tem de ser despedido…”, sublinha a Fofa sempre preocupada com a política internacional.
Cá para mim, que nada percebo de política, e muito menos de política internacional, o que há aqui é um interesse aceso dos senhores da guerra, que querem manter em alta as fábricas de armamento e todo o lucro que isso lhes dá. Independentemente das vítimas, da destruição e da dor.
Não sei qual será a solução para tais actos praticados por alguém verdadeiramente louco. (Parece que a História, a mais recente e a mais distante, é rica em personagens com esta falha cognitiva grave). No entanto, e esta ideia já não é nova, aqui vai a sugestão: reúnam o Trump com os outros trumpezinhos como ele, numa sala fechada, e resolvam, de vez, os diferendos sem que inocentes sejam envolvidos. Eu sei que, depois de uma longa sessão de batatada, alguém teria de recolher as sobras e limpar a sala. Mas isso seria uma questão de peso relativo.   

João Luís Nabo
In "O Montemorense", Janeiro de 2020



terça-feira, 14 de janeiro de 2020

O último resistente?



Não podemos avançar na escrita desta crónica sem sublinhar a importância de António Gervásio para a consolidação da consciência de classe dos trabalhadores montemorenses, em particular, e da democracia portuguesa, de forma mais abrangente. Faleceu a 10 de Janeiro, após, ao longo de grande parte da sua vida de lutador antifascista, ter sentido na pele as agruras de um regime ditatorial que lhe tentou calar a voz e a vontade sem, contudo, jamais o ter conseguido. António Gervásio acreditava profundamente nos ideais comunistas e foi por eles que se entregou, em toda a sua plenitude, com todas as suas forças, à luta por um Portugal melhor, livre e sem medo, quando a omnipresença de Salazar queria, à viva força (literalmente), silenciar os que acreditavam num futuro diferente.
Fui com a minha mulher dizer-lhe, em silêncio, o muito que o admiramos, e que ele, bem como outros companheiros – o João do Machado, por exemplo – iriam ficar para sempre na nossa memória. E na memória dos nossos filhos, porque é uma questão da qual não abdicamos. Foi por causa deles (e de muitos outros, do mesmo ou de outros quadrantes políticos) que, hoje, a minha mulher, eu e a prole que de nós nasceu respiramos todos os dias, de manhã à noite, o ar puro da liberdade.
Contudo, e porque nunca tenho a certeza de nada, dei comigo a perguntar a mim próprio: “E hoje? Os comunistas de hoje? Seriam capazes, nos tempos actuais (num contexto visivelmente diferente, é certo), de sacrificar a própria vida por uma causa tão nobre como a que levou os seus antecessores à prisão, à tortura e à morte nos calabouços da hedionda PIDE?”  
Gostava de acreditar que sim. Que os ideais continuam vivos, em espírito e em letra, e que, de punho erguido, ofereceriam, sem hesitar, a própria vida, para que outros pudessem, anos depois, beneficiar de uma verdadeira democracia e viver num país onde a justiça social e a política, transparente e séria, não passassem de palavras bem esgalhadas, fantásticas e extraordinariamente oportunas, para terminar este parágrafo.  



João Luís Nabo
In "O Montemorense", Janeiro de 2020

Distraídos crónicos...


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