Andamos preocupados com o tempo. Com as secas e as
inundações. Com o calor extremo e o frio exagerado. Com os incêndios e os
vulcões furiosos. Com a subida do nível das águas e com a extinção de milhares
de espécies animais e vegetais. Muitos de nós admiram e aplaudem as acções de
sensibilização da jovem Greta Thunberg, outros criticam-na e acusam-na de estar
ao serviço de lobbies poderosos e de outros interesses obscuros. Mas que
ela veio agitar as consciências, disso ninguém tem dúvidas. Espantamo-nos com o
desprezo e a ignorância com que Bolsonaro (Urgh!!!) e Donald John Trump (duplo
urgh!!!) mostram ao (des)preocupar-se com as questões do ambiente. Estes e
outros poderosos, que por inerência poderiam ajudar a resolver parte do
problema, recusam-se pornograficamente a fazê-lo. E talvez tenham razão. Porque
talvez não valha a pena. O planeta em agonia remete-me para a metáfora do
cofre, outrora cheio de dinheiro e que, agora, está vazio, depois de despesas
desnecessárias e exageradas efectuadas por todos nós. De momento, a recuperação
do capital, mal gasto durante décadas, de forma inconsciente e leviana, é
indiscutivelmente impossível. Porque é impossível interromper, nem que fosse
por seis meses (obrigado, Manuela Ferreira Leite), o sistema capitalista que
abraçou o planeta em forma de estufa asfixiante e de longa duração.
Sinto, pois, que nos encontramos em absoluta falência ambiental. E para
este tipo de crise, acreditem os meus oito leitores, não há FMI que nos valha.
João Luís Nabo
In "O Montemorense", Janeiro 2020