Chamam ao Verão a silly season – a estação idiota. A minha fofa não percebia porquê. Expliquei-lhe: “É o período em que se pode encontrar nas discotecas e bares do Algarve mais de quatro idiotas por metro quadrado.” Não ficando satisfeita perguntou, venenosa: “Mas, então, essa silly season não se prolonga por doze meses, todos os anos?” Esta frase inspiradora fez-me apetecer dizer o muito que me vai na alma, embora, como já tenho referido, comece a ter algum receio de ser honesto, porque cada vez mais os honestos são perseguidos pela lei. Os meus seis leitores (oito, com a minha mãe e a minha fofa) pensam que, por eu ter lido umas coisas na infância, tenho opinião sobre tudo o que vai acontecendo na terra e no país. Mas não tenho. Acreditem que não. Aliás, o país é coisa que já não me interessa. Ora, façam-me lá perguntas:
Qual é a tua opinião sobre as dietas contra a obesidade?
– Estou-me a borrifar.
E sobre o aumento dos juros dos empréstimos?
-Quero lá saber!
E sobre o aumento dos combustíveis?
-É-me indiferente.
E sobre o casamento entre homossexuais?
– Nem contra nem a favor.
E sobre a subida do custo de vida?
- Estou-me nas tintas.
E sobre a independência da madeira?
– Isso é com o bicho.
Passemos a assuntos sérios: o senhor Presidente do Conselho pensa que resolve os problemas do ensino atafulhando as escolas da Nação com computadores e Internet de Banda Larga.
- Se pensa, deixá-lo pensar, coitado, não se lhe roube estes momentos de felicidade.
O Ministro da Saúde pensa que, se forem os farmacêuticos a aplicarem as vacinas contra a gripe, vai contribuir para a alegria e alívio dos enfermeiros.
- Não tenho nada a ver com isso. Não sou enfermeiro… nem farmacêutico.
Os alunos que entram agora para a Universidade não sabem ler nem escrever.
- É verdade. Mas para quê? Algum quer ser escritor? E quem é que escreve cartas hoje em dia?
Os Cursos das Novas Oportunidades são o maior embuste educativo e pedagógico de que há memória na História da Educação em Portugal, antes e depois das reformas do Marquês de Pombal.
- Se vocês o dizem… Mas não é a única farsa com a qual pactuamos com ar de crentes. Há outras e igualmente muito graves.
E a avaliação dos professores?
-Para mim, é igual ao litro. Só reconheço competência de avaliador na minha fofa, que tem estudos para isso, e que, após vários momentos de testes e observação das minhas práticas, me tem atribuído as mais elevadas classificações.
Meus amigos: para quê andarmos preocupados com estes problemas todos, se não fomos nós que os criámos? E o que ganhamos com tanta preocupação? Ficamos tensos, nervosos, deprimidos, ansiosos, insones, arranjamos inimigos no Governo e ficamos cheios de mau humor. Os verdadeiros responsáveis é que deviam andar assim e… não andam. Nem tutano têm para sentir um estremeção pela espinha acima. Nem os do PS nem os do PSD, que não passam de uns verdadeiros nhós (adjectivo que utilizo quando não encontro nenhum realmente adequado aos classificados). E porquê? Porque nem uns nem outros souberam dar sequência aos sonhos de Abril. Foram (e são) todos a mesma tropa que, comendo alternadamente da mesma gamela, trouxeram a este país a desilusão, a infertilidade de ideias e de projectos e fizeram desta terra a anedota da Europa. Muito aqui para nós, que ninguém lê estas baboseiras, se os militares que fizeram o 25 de Abril tivessem previsto uma situação destas, tinham passado essa noite a jogar à bisca.
E por cá, nesta terrinha chamada Montemor, que tem fama de ser pátria de santos e de heróis? Os socialistas, os social-democratas e os centristas já começaram a magicar as estratégias para derrubar a câmara CDU nas próximas autárquicas, ou vão pensar nisso na véspera das eleições? E os comunistas já andam a magicar as estratégias para poderem ficar por mais quatro anos? Ou acham que não vale a pena tanto esforço de cabeça?
Entretanto, e falando de coisas mais agradáveis, o teatro invadiu a cidade com peças e actores fantásticos, uma iniciativa do Theatron, a celebrar 10 anos de vida. O Festival abriu com Bernardino Samina à frente de um grande elenco, na reposição da peça A Farsa de São Bonifácio, numa representação séria e divertida, solta, leve e deliciosamente madura. Outros grandes momentos se lhe seguiram. Estive lá, mas faltou muita gente à chamada. Muitos que respondem como as tias de Cascais, quando lhes perguntamos se gostam de teatro: “Teatro? Adoro! Adoro! Adoro!”
‘Tá bem, abelha! E eu sou o Pai Natal disfarçado de Mantorras.
Qual é a tua opinião sobre as dietas contra a obesidade?
– Estou-me a borrifar.
E sobre o aumento dos juros dos empréstimos?
-Quero lá saber!
E sobre o aumento dos combustíveis?
-É-me indiferente.
E sobre o casamento entre homossexuais?
– Nem contra nem a favor.
E sobre a subida do custo de vida?
- Estou-me nas tintas.
E sobre a independência da madeira?
– Isso é com o bicho.
Passemos a assuntos sérios: o senhor Presidente do Conselho pensa que resolve os problemas do ensino atafulhando as escolas da Nação com computadores e Internet de Banda Larga.
- Se pensa, deixá-lo pensar, coitado, não se lhe roube estes momentos de felicidade.
O Ministro da Saúde pensa que, se forem os farmacêuticos a aplicarem as vacinas contra a gripe, vai contribuir para a alegria e alívio dos enfermeiros.
- Não tenho nada a ver com isso. Não sou enfermeiro… nem farmacêutico.
Os alunos que entram agora para a Universidade não sabem ler nem escrever.
- É verdade. Mas para quê? Algum quer ser escritor? E quem é que escreve cartas hoje em dia?
Os Cursos das Novas Oportunidades são o maior embuste educativo e pedagógico de que há memória na História da Educação em Portugal, antes e depois das reformas do Marquês de Pombal.
- Se vocês o dizem… Mas não é a única farsa com a qual pactuamos com ar de crentes. Há outras e igualmente muito graves.
E a avaliação dos professores?
-Para mim, é igual ao litro. Só reconheço competência de avaliador na minha fofa, que tem estudos para isso, e que, após vários momentos de testes e observação das minhas práticas, me tem atribuído as mais elevadas classificações.
Meus amigos: para quê andarmos preocupados com estes problemas todos, se não fomos nós que os criámos? E o que ganhamos com tanta preocupação? Ficamos tensos, nervosos, deprimidos, ansiosos, insones, arranjamos inimigos no Governo e ficamos cheios de mau humor. Os verdadeiros responsáveis é que deviam andar assim e… não andam. Nem tutano têm para sentir um estremeção pela espinha acima. Nem os do PS nem os do PSD, que não passam de uns verdadeiros nhós (adjectivo que utilizo quando não encontro nenhum realmente adequado aos classificados). E porquê? Porque nem uns nem outros souberam dar sequência aos sonhos de Abril. Foram (e são) todos a mesma tropa que, comendo alternadamente da mesma gamela, trouxeram a este país a desilusão, a infertilidade de ideias e de projectos e fizeram desta terra a anedota da Europa. Muito aqui para nós, que ninguém lê estas baboseiras, se os militares que fizeram o 25 de Abril tivessem previsto uma situação destas, tinham passado essa noite a jogar à bisca.
E por cá, nesta terrinha chamada Montemor, que tem fama de ser pátria de santos e de heróis? Os socialistas, os social-democratas e os centristas já começaram a magicar as estratégias para derrubar a câmara CDU nas próximas autárquicas, ou vão pensar nisso na véspera das eleições? E os comunistas já andam a magicar as estratégias para poderem ficar por mais quatro anos? Ou acham que não vale a pena tanto esforço de cabeça?
Entretanto, e falando de coisas mais agradáveis, o teatro invadiu a cidade com peças e actores fantásticos, uma iniciativa do Theatron, a celebrar 10 anos de vida. O Festival abriu com Bernardino Samina à frente de um grande elenco, na reposição da peça A Farsa de São Bonifácio, numa representação séria e divertida, solta, leve e deliciosamente madura. Outros grandes momentos se lhe seguiram. Estive lá, mas faltou muita gente à chamada. Muitos que respondem como as tias de Cascais, quando lhes perguntamos se gostam de teatro: “Teatro? Adoro! Adoro! Adoro!”
‘Tá bem, abelha! E eu sou o Pai Natal disfarçado de Mantorras.