Depois de uns dias de confusão, de informação e de contra-informação
já não se fala muito dos quadros do pintor surrealista catalão Juan Miró. Calou-se
a leiloeira Christie’s, calou-se o Governo Português e pronto, o povo aceita
que está tudo bem. Vício que nos vêm do tempo da ditadura, quando os
portugueses eram obrigados a aceitar a coisa ou, então… iam fazer uma visita,
por vezes que durava anos, a Caxias ou a Peniche.
Já quase se esqueceu o grave alegado acidente na Praia do
Meco que ceifou a vida a seis jovens universitários. Mas já era de esperar. Tal
como foram relegados para o total esquecimento as pressões ao Tribunal
Constitucional, bem como todos os roubos, as falcatruas, os amiguismos e outros
ismos a que tivemos acesso nos últimos três anos. Freeport… por onde andas? Caso
BPN… qual é o ponto da situação? Caso(s) Duarte Lima… como é que é? E quem
matou Francisco Sá Carneiro e seus acompanhantes, na tenebrosa noite de 4 de
Dezembro de 1980? E quem foi responsabilizado pela morte de António Casquinha e
José Caravela, aqui bem perto, na Herdade de Vale de Nobre, no longínquo ano de
1979?
Ninguém.
Portugal tornou-se no paraíso onde os criminosos saem
impunes. Onde se pode, em nome da lei e do elevado interesse nacional,
destruir famílias, matar idosos, escavacar um país a precisar de outros planos
que não estes que o têm afundado. E se alguns vão dentro é por um grande,
enorme azar, ou porque os respectivos advogados de defesa não conseguiram
esmiuçar a lei de forma a torná-la favorável para os seus clientes.
Quando era mais novo, jamais me passou pela ideia de, um dia,
sentir vergonha dos governantes do meu país e de começar a acreditar, qual
Fernando Pessoa, num Quinto Império que, no plano do sonho e do impossível,
governado por um Encoberto ansiado, seja sinónimo de esperança e de resgate
definitivo. Que a manhã de nevoeiro surja em breve… porque ainda “falta cumprir
Portugal.”