sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Duas coisinhas, apenas

 

 Rui Horta – de Montemor para o Mundo

Depois de ter trabalhado nos mais prestigiados palcos do mundo, Rui Horta chega à cidade de Montemor-o-Novo e instala num esquecido convento dominicano, quase em ruínas, o hoje incontornável Espaço do Tempo. Vinte e dois anos depois, o edifício está, finalmente, prestes a entrar em profundas obras de restauro e Rui Horta despede-se publicamente do cargo de director artístico, no Cine-teatro Curvo Semedo, com a sua derradeira criação.

A escolha do Convento da Saudação para berço da sua instituição levou a que aquele elemento dominante do nosso património arquitectónico se transformasse num ícone de criação e liberdade, objectivos exactamente opostos aos promovidos quando da sua construção, no início do século XVI, para albergar um grupo de conformadas freiras dominicanas.  Deliciosas ironias da História.

Do alto do monte maior para o Mundo, Rui Horta e o Espaço do Tempo acabaram por confundir-se um com o outro ao longo destes vinte e dois anos de existência. No velho convento, casa aberta para criadores e artistas de todo o globo, nasceram obras absolutamente únicas que acabariam por percorrer os grandes palcos do planeta.  Passou, pois, a haver, a partir de determinado momento, dois tempos diferentes: Antes do EdT e Depois do EdT. Durante esta segunda era, que se prolonga até hoje, as instituições da cidade e do concelho foram amigável e carinhosamente confrontadas com os seus limites, através de novos desafios estéticos, técnicos e performativos, que as obrigaram a sair das suas zonas de conforto e a acreditar que, em palco, sob a luz da ribalta, todas podiam ser mais, muito mais, do que a soma dos seus elementos. Assim, também os artistas amadores desta cidade e do concelho – grupos corais e de dança, bandas filarmónicas, escolas, grupos de teatro e associações da mais diversa índole – tiveram lugar nos planos do coreógrafo ao longo destas duas décadas. Lúmen, a sua grande festa de despedida, foi, sem dúvida, disso a melhor prova ao envolver perto de meia centena de actores, bailarinos, cantores, técnicos e produtores que demonstraram, em três sessões praticamente esgotadas. no monumental cine-teatro da cidade, que não há limites para a criatividade.

A partir de agora, novos tempos se aproximam. Rui Horta deixará a direcção artística do Espaço do Tempo, mas a herança do Homem, do Coreógrafo, do Bailarino, do Artista e do Humanista, irá perdurar e, sob a nova direcção artística de Pedro Barreiro, a instituição continuará, temos a certeza, a abrir portas ao Mundo, à cidade e ao concelho, às suas forças vivas e aos seus habitantes.

 



Marcelito, já te tenho dito…

Se em Montemor o cenário do nosso quotidiano é, aparentemente calmo, com uma ou outra excepção divulgada nas redes sociais, mas que aqui não terá tempo de antena, já no país as coisas estão  ao rubro e logo com o nosso querido Marcelo no centro das atenções. E isto, porquê? Porque o senhor não se cala nunca. E quem temos visto e ouvido nos últimos tempos não é o Prof. Marcelo, Presidente da República, mas o Prof. Marcelo, comentador da TVI. Amante de multidões, venerador de jornalistas, esqueceu-se há algum tempo, e de forma completa, de que mudou de funções há pouco mais de seis anos.

Depois, há outra coisa que começa a irritar os portugueses. Como se  costuma dizer que quem foi professor nunca o deixou de ser, Marcelo, cada vez que vê uns microfones apontados ao nariz, assume que é seu dever dar aulas de moral aos portugueses, ao primeiro-ministro, aos ministros, ao clero… E, depois, para ele as coisas estão quase sempre bem. Portugal é o maior, os portugueses são espectaculares, mostram-se solidários uns com os outros, hospitaleiros para quem escolhe o nosso país para viver, quando a verdade nem se aproxima desse país de sonho, habitado por fadas e gnomos: estamos novamente a caminho de qualquer coisa próxima da bancarrota, os preços não param de aumentar com a subida dos preços dos combustíveis, há um ditador por aí, algures, a matar ucranianos e a mandar em nós todos, alguns compatriotas nossos assassinam as mulheres e violam os filhos, muitos dos imigrantes, que chegam às dezenas diariamente a Portugal, são despejados em barracas perto das zonas de trabalho e ali sobrevivem na maior das misérias, longe da família, vítimas de exploração e de chantagem, os escândalos com membros do Governo e com elementos da Igreja não param de crescer… E fico-me por aqui.

            Por isso, caro Professor Marcelo, Portugal, nos tempos que correm, até nem está nada de especial, por muito que o senhor não queira ver. E há assuntos em que não se devia meter. Lembra-se de um senhor chamado Cavaco Silva? Recorda-se de ele ter pedido desculpas aos portugueses por alguma barbaridade que tenha dito? Pois… Cautelas e caldos de galinha nunca foram demais. Fez os seus dois mandatos caladinho que nem um rato e hoje, assim que fala ou escreve um livrinho, toda a gente abre os ouvidos, num misto de curiosidade e receio do que ele vá dizer… Eu, pessoalmente, gosto mais de si, Professor Marcelo, e é por isso que começo a sentir, se me permite, alguma vergonha alheia quando o ouço nas televisões.

A sua presença na minha (nossa) vida é tal, que já cá disse em casa que, qualquer dia, quando regressarmos do trabalho ou dos ensaios do coro, ainda o vamos encontrar a brincar com  Balú e a Ginja, à nossa espera para o jantar. Provavelmente, até já pôs a mesa e aqueceu o resto da sopa e o bacalhau à Brás que sobrou do almoço, que isto, como a coisa está a ficar, não se pode desperdiçar nem um raminho de salsa.  

João Luís Nabo

In "O Montemorense", Outubro de 2022

terça-feira, 11 de outubro de 2022

Horta, Rui: montemorense honorário

 



Há 22 anos, um cavaleiro chegou a esta cidade, vindo de terras longínquas por ele conquistadas. Cidades distantes e enormes: Frankfurt, Zurique, Londres, Montréal, Copenhaga, Tóquio, Berlim, Gent, Nova lorque, Toronto, Moscovo, Lyon, Paris, Munique, Düsseldorf, Genève, Malmö, Gotenburgo, Avignon, Lisboa…

Depois destas e de outras que não cabe aqui enumerar, o cavaleiro ordenou que se tomasse uma pequena cidade ao Sul do Tejo, chamada Montemor-o-Novo. “Montemor-o-Novo, mestre?”, perguntou-lhe um dos cavaleiros. “Montemor-o-Novo será”, respondeu o mestre.

Não trazia cavalo, nem espada, nem armadura, nem se lhe ouviram quaisquer gritos de guerra. O Rui trazia na bagagem a vontade e a paixão e uma colecção infindável de prémios atribuídos pelas mais altas instâncias culturais de muitos países da Europa. Então, quando chegou, subiu discretamente ao monte mais alto, olhou a povoação em volta e disse: “É aqui.” Tomou o castelo sem hesitar e aquartelou-se com as suas tropas fiéis no velho Convento de Nossa Senhora da Saudação e ali, naquele espaço quase esquecido, mas sempre místico, preparou-se para, quero acreditar, a maior conquista da sua vida.

Assim, depois de uns dias de merecido repouso, enviou ao arrabalde o seu pequeno exército que, sob o seu comando, deu início à invasão mais pacífica da História da Humanidade. As instituições, as associações, os grupos, as escolas, as colectividades, as pessoas foram os seus únicos alvos. Posso testemunhar, e vocês também, que todos os edifícios ficaram intactos. E, ao contrário de outros conquistados, que se recusam, por direito, a sê-lo, aqui, nesta terra tranquila, de gente de trabalho, de músicos e poetas, todos se deixaram voluntariamente dominar.

Não resisto em inspirar as próximas linhas num pequeno texto que escrevi, há pouco tempo, para o Rui, sobre o Rui. Consumada a tomada da cidade, mergulhando no ser e no saber deste povo tão extraordinário que é o nosso, Rui Horta e o Espaço do Tempo começaram a confundir-se um com o outro ao longo dos seus 22 anos de existência. Passou a haver, a partir de determinado momento, dois tempos diferentes: Antes do EdT e Depois do EdT. Nesta segunda era, que se prolonga até hoje, as instituições da cidade e do concelho foram amigável e carinhosamente confrontadas com os seus limites através de novos desafios estéticos, técnicos e performativos, que as obrigaram a sair das suas zonas de conforto e a acreditar que, em palco, sob a luz da ribalta, todas podiam ser mais, muito mais, do que a soma dos seus elementos.

A escolha do Convento da Saudação, na nossa cidade, para berço desta instituição, levou a que aquele elemento dominante do nosso património arquitectónico se transformasse num ícone de criação e de liberdade, objectivos exactamente opostos aos promovidos quando da sua construção, no início do século XVI, para albergar um grupo de religiosas dominicanas.  Deliciosas ironias da História.

A partir de agora, novos tempos se aproximam. O Rui deixará a direcção artística do Espaço do Tempo, mas acreditamos que a herança do Homem, do Coreógrafo, do Bailarino, do Artista e do Humanista, irá perdurar e que, sob a nova direcção artística do Pedro, a instituição continuará a abrir portas ao Mundo, à cidade e ao concelho, às suas forças vivas e aos seus habitantes.

            A montra de galardões que o Rui conquistou durante a sua vida ainda não está completa. Falta-lhe aquele prémio que vai receber de todos nós, esta noite. Assumo perante todo este público que não fui instruído ou mandatado por quem quer que seja, mas tenho a certeza absoluta de que posso, sem qualquer receio, e em nome de todos, condecorar o Rui Horta com o mais precioso galardão que nós, montemorenses, lhe podemos atribuir. Assim, em nome de todos e da amizade e do carinho que sentimos por ti, e em recompensa pelas “obras valorosas” que nos ensinaste a amar, e pela revolução cultural que operaste na nossa cidade, e porque Montemor também é a terra da Pia e dos teus filhos, por tudo isto, concedemos-te orgulhosamente o mais alto grau que o nosso coração permite: O GRAU DE MONTEMORENSE HONORÁRIO PARA TODO O SEMPRE!

            Obrigado, Rui!                                                                      

   LÚMEN - Cine-teatro Curvo Semedo, 23 de Setembro de 2022

                                                                                     João Luís Nabo

Distraídos crónicos...


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