I
O soneto e a sua estúpida emenda
Nós, que ainda temos
alguns pudores como arma contra as banalidades deste país, nem sabemos como
começar a aflorar este tema, que de frágil já nada tem. Os ecos repetem-se em
todo o território e, já se sabe, na Europa e no Mundo, que isto do orgulhosamente
sós foi chão que já deu uvas.
Corrupção, compadrios,
combinações, esquemas, compras, vendas, cedências, terrenos, construções, a troco
de um bom punhado de dólares, já de tudo se fala à descarada, de boca aberta e
a gritar em todos os meios de comunicação social. O Primeiro-ministro António
Costa está diariamente debaixo de fogo, deitadinho numa cama que ele próprio
fez. Não foi inteligente no recrutamento
do seu pessoal de elite para o Governo e agora está a pagar esta “pequena
falta de atenção” com um palmo de língua de fora. Foram treze os ministros e
secretários de Estado que se demitiram ou que foram demitidos por não haver
condições para continuarem a governar, sobretudo para continuarem a governar-se
à nossa custa.
E o que decide
fazer o inefável Costa como pai de uma família de malucos, no seio da qual já
ninguém se entende? Decidiu dar um murro na mesa… elaborando um questionário.
Exactamente. Um questionário, assim tipo quiz das revistas cor-de-rosa, que
nos obriga a responder a perguntas para sabermos se somos simpáticos, amigos do
ambiente, solidários, sexys, enfim, para descobrirmos sobre nós as
coisas mais importantes deste mundo e sem as quais seríamos uns seres
absolutamente incompletos. Pois este questionário é para o Primeiro-ministro
saber se os convidados para o Governo são ou não honestos. Claro que a esta
fantochada de perguntas só se pode responder com uma fantochada de respostas.
Ninguém irá considerar-se ladrão, desonesto ou em fuga aos impostos. Ninguém
admitirá receber indemnizações de milhares e só um tolo assumirá com um sim ter
fugido ao fisco em tempos idos. Portanto, pior que os políticos gatunos que
Costa convidou para o seu belo Governo, será este questionário para validar,
com base numas cruzes manhosas, o carácter de quem vai estar no poder. Pelo
célebre questionário já podemos nós validar o completo desnorte de quem o
inventou.
Já agora, a tal
moça que esteve na TAP, empresa alimentada por todos nós, já devolveu o nosso meio
milhãozinho à procedência? Haja vergonha. E tribunais, também.
II
Os professores e o estúpido do sistema
Os professores
nunca estiveram tão unidos como agora. Greves, manifestações, gritos de revolta
têm preenchido os ecrãs das televisões, apesar dos que, em pleno horário nobre,
insistem em classificar as greves como ilegais, em minimizar o papel dos sindicatos
e em gozar, não tenho outro termo, com a cara dos que, empunhando cartazes e
lançando palavras de ordem, dão provas do cansaço a que todos os professores chegaram,
sem terem mais forças nem paciência para a desconsideração, o desrespeito, o
desprezo que o Estado, o Ministério da Educação e alguns sectores da sociedade
têm demonstrado nos últimos anos em relação à sua classe. Se, um dia, todos os
professores deste país decidissem não trabalhar mais, enquanto não fossem ouvidas
e aceites as suas reivindicações, a vida parava e Portugal entrava num beco sem
saída. A sorte (ou não) de todos é que os professores não ganham o suficiente para
poderem estar vários dias sem trabalhar. E o Ministério sabe disto. E Costa
também. Porque se isso fosse possível, outro galo cantaria.
Sou professor há
39 anos. Estou no topo da carreira. Mas estou absolutamente ao lado dos que,
muito provavelmente, pelo sistema de progressão em que estamos enleados, já não
poderão concretizar esse direito. Não queria terminar de forma pessimista,
acreditando nos novos tempos que aí vêm, graças a todas estas movimentações a
favor dos nossos alunos e da escola pública, mas pelo que tenho testemunhado e
vivido, e se o ministro João Costa não der ouvidos a quem se queixa, acredito que
a Educação neste país poderá estar por um fio. Os professores vieram até aqui. Já não há um voltar atrás.
Caro leitor: se
conseguiu ler este texto até aqui, foi porque teve um professor na sua vida. Um
ou vários. Vamos ver se os nossos netos poderão dizer o mesmo.
III
36 anos de Coral de São Domingos
O Coral de São
Domingos completou 36 anos de existência e de trabalho ininterrupto, no passado
dia 7 de Janeiro. Foi nesse dia, a meio da tarde, que fez o primeiro ensaio nos
claustros do Convento de São Domingos, sede do Grupo dos Amigos de Montemor,
associação que o acolheu durante os primeiros dois anos. Depois, legalizado como
associação sem fins lucrativos e, mais tarde, declarado pelo então primeiro-ministro
António Guterres como Entidade de Utilidade Pública, o grupo percorreu dezenas
de lugares, em Portugal e um pouco por toda a Europa, cantando e “espalhando
por toda a parte”, o nome de Montemor-o-Novo.
Hoje, são trinta
os cantores que continuam a dar voz ao grupo e que, depois de dois anos de
pandemia, regressaram ainda com mais energia e talento. Foram, como calculam,
dezenas de amigos que passaram pelo Coral, ao longo destas quase quatro
décadas, deixando nele a sua marca, definida pela sua paixão e pelo seu empenho
sem limites.
Participaram em
programas de televisão e de rádio, têm quatro trabalhos discográficos editados,
interpretaram centenas de obras de compositores dos quatro cantos do mundo,
fizeram perto de 600 concertos, estão ligados a grande parte das instituições
da cidade, recebem apoio de várias entidades da cidade e do concelho e acreditam
que vão durar até aos 1000 anos.
Estou com eles desde
o dia 7 de Janeiro de 1987. Vou estar sempre com eles, até ao meu último dia.