Ora, como dizia um célebre Professor na RTP, aos Domingos à
tarde, nos anos 60, se bem me lembro… há
muito, muito tempo que Portugal não tinha tanta lama e tanta gente estranha a
marinhar neste lago de gansos moribundos que nada acrescentam a um país a
necessitar urgentemente de ver uma luz ao fundo do túnel. Se Vitorino Nemésio
vivesse hoje, nenhum dos políticos ou dos pseudo-políticos que por aí andam a
dar-nos música se safaria de uma observação sagaz, pertinente, certeira,
corrosiva e inteligente. Como nenhum de nós, nem eu nem os meus 8 leitores, é o
velho e saudoso Professor açoriano, contentamo-nos em, seguindo o seu provável
raciocínio em relação a estas matérias, declarar morta e enterrada a confiança
que devíamos depositar no sistema de justiça, a honestidade e transparência da
maioria dos políticos, a esperança de sermos felizes neste país de ratazanas
que querem é palco, mentir uns aos outros e aos portugueses que os elegeram e
apresentar para governar este quintal ministros que não passam de figurinhas de
presépio, e de líderes que, perante qualquer contrariedade, ameaçam de forma,
quer velada, quer directa, com a sua demissão.
E Marcelo? Ah!!!! E Marcelo que tem sempre tanto para dizer,
que fala quando lhe fazem perguntas e, quando não lhas fazem, fá-las ele para,
a seguir, responder com um sorriso perdido mas feliz.
Não. Portugal não merece os filhos que tem. Nem a Pátria é
ditosa. Nem ditosos são os filhos que ela pariu.
Viva o Euro (ou lá o que é)!
Tanta fé, tanta fé, tanta vela na Senhora da Visitação, tantas
promessas à Senhora da Carvalha, tantas orações a Zeus Cristiano e, afinal,
nada deu certo. Mas vivam os que fizeram desta participação de Portugal uma
grande festa antes do desastre final e da morte da Esperança, a tal tia que foi
a última a morrer… Mas já se sabia qual a grande consequência de tudo isto: atacaram
o Ronaldo por causa da idade e má-na-sê-quê, anunciando as grandes e doutoradas
vozes do meio que ele e o Pepe já deram o que tinham a dar.
Não sei se é assim. O futebol não é a minha praia. Mas se
Portugal se aguentou até aos quartos de final, foi porque teve valor e teve
jogadores à altura. Achei muito curioso destruírem o Diogo Costa no jogo contra
a França, depois de o terem transformado em semi-deus e herói lusitano, digno
da epopeia camoniana, no desafio contra a Eslovénia. Na verdade, a criatura humana
é de atitudes absolutamente interesseiras, contraditórias e… estúpidas.
Para terminar este pedaço de “análise futebolística” (se
não pusesse a expressão entre aspas, já estava a receber telefonemas de amigos
menos tolerantes e que acham que metem muita graça com as suas críticas à minha
falta de conhecimentos nesta área), gostava de perguntar por que se aplaudem
equipas que não conseguiram cumprir o seu objectivo, que era, naturalmente,
saírem vencedoras na Final? São aplausos de consolação. Aceito.
O que não aceito é milhões e milhões de portugueses
mostrarem a sua solidariedade e o seu amor incondicional a jogadores que nunca
os conheceram ou conhecerão e que assobiam para o lado quando as crises do país
se esbatem sobre as suas cabeças, sem que os Governos sucessivos do Pê Esse e
do Pê Esse Dê lhes resolvam os graves problemas de salários, habitação,
emprego, educação, saúde e outras cenas que todos conhecem e que só agora,
passada a euforia do Euro, lhes recomeçam a bater forte. Porque não podemos
esquecer que há outro Euro muito mais importante que o do futebol: o Euro que
nos põe o pão na mesa e a que nem todos os portugueses têm devido acesso.
Faleceu a Dra. Joana Marques Vidal, a primeira procuradora-geral
a mandar prender um ex-primeiro-ministro. Que a Dra. Lucília Gago se mantenha
firme para que possa mandar prender quem deve. O problema é que este pessoal de
colarinho branco é todo desviado para Évora, e a prisão da nossa capital de
distrito, tal como o Euro com que nos governamos, não estica.
Viva o Curvo Semedo! Viva!
Fui ao espectáculo da Escola de Ballet do Município. Foi
uma bela festa, com as pequeninas a darem o seu melhor e com as crescidas a
criarem grandes momentos estéticos de dança e expressão corporal. Admirável,
direi mesmo. Indissociável desta bela obra com 45 anos de vida está a
Professora Amélia Mendonza, a quem ofereço, de pé, o meu prolongado aplauso.
Mas nem só de palco vivem os grandes teatros, como é o
Cineteatro Curvo Semedo. A ausência de obras atempadas faz com que, por
exemplo, em noites de concerto, as poltronas da plateia deixem os espectadores escorregar
até ao colo dos primeiros violinos, permite que as casas de banhos dos Senhores
e das Senhoras estejam completamente degradadas e sem quaisquer condições de
higiene para serem utilizadas devidamente, admite nos corredores do teatro
sofás que já viram dias (muito) melhores e os quais ninguém quer usar para
descanso.
Sei que está prevista uma obra de remodelação para todo o
edifício. Sei também que há, desde o Governo de Durão Barroso (2002), um
projecto para as alterações ansiadas. Sei que continuou depois a haver mais
umas promessas e tal, mas também sei que nada aconteceu. Se a situação está
prestes a ser resolvida, isso devolve-me uma certa esperança de começar a ver
uma luz ao fundo do túnel.
Só espero que não seja o comboio.
João Luís Nabo
In "O Montemorense", Julho de 2024