segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

Incidentes dignos de nota

 

                                                         


          (Foto: Paulo Moreira)

                                                                                                                                                              

O Martini das Onze e Meia

 

Começo por apresentar, desde já, a minha declaração de interesses e informo os meus oito leitores de que, lá para o mês de Junho, o mês em que o céu estará mais azul e o tempo menos frio, irei convidar toda a gente, os meus oito leitores e todos os restantes amigos, a dar um breve salto à Biblioteca Municipal Almeida Faria para ficarem a saber da próxima publicação deste rapaz que, ansioso por estar sem nada para fazer, não consegue estar sem fazer coisas que o encantem. E a escrita é uma delas. As crónicas publicadas no jornal “O Montemorense”, de 2019 a 2024, foram relidas e devidamente seleccionadas para saírem num belo livrinho abençoado pelas Edições Colibri e com a colaboração da equipa da casa. Vai chamar-se O Martini das Onze e Meia, terá à volta de 250 páginas e é uma viagem pela política e sociedade local, nacional e mundial, num estilo de quem parece ter a solução para mudar o mundo mas que, afinal, sente que muito mais é necessário do que simples palavras, ainda que cruas e, por vezes, acintosas. Os agradecimentos aos que estão no projecto serão respeitosa e devidamente feitos no momento certo.

E parecia mal se ficasse por aqui sem sublinhar a terapia que o acto da escrita representa para quem anda sempre com pensamentos esquisitos e que sempre que lhe apetece fazer asneira… escreve metodicamente para expulsar os demónios e deixar entrar os anjos e outros fantasmas do bem.

Stephen King (sim, eu também cito grandes autores) referiu no seu longo ensaio On Writing que quando escrevia contos ou romances, escrevia sobre ele próprio e que a escrita evitava que pegasse numa caçadeira e desse azo ao seu desejo de eliminar os indesejáveis (1) (tradução livre).

 

Máti a  insubmissa

 

Máti é o nome da heroína do livro mais recente de Carlos Rafael Picamilho, montemorense, designer, autor e ilustrador, que insistiu no prolongamento dos seus sonhos de infância e adolescência e criou vários personagens de banda desenhada onde deu asas à sua imaginação e aos seus desejos mais aventureiros. Máti parece ser a menina dos seus olhos, dada oficialmente a conhecer no dia 15 de Fevereiro, na Biblioteca Municipal Almeida Faria.

Para falar de uma personagem como Máti, basta falar connosco próprios quando tínhamos a sua idade, ir ao encontro dos nossos medos da altura (alguns que se estenderam até hoje) e, claro, recuperar a vontade permanente de saber o que se passa à nossa volta e, mensagem absolutamente fundamental e incontornável presente ao longo da obra, procurar a solução para os problemas mais complexos e ajudar, ajudar sempre, os que precisam de nós. Curiosidade, solidariedade, amizade, imaginação, sonho, uma pequena dose de loucura e o desejo de nunca crescer completamente são sentimentos e sensações que se passeiam no decorrer da narrativa, com desenhos dinâmicos que parecem mexer-se em cada quadradinho, que voam de vinheta em vinheta em defesa do Bem e a perseguir o Mal. Se, como disse Stephen King, o escritor escreve sobre ele próprio, mesmo que não o assuma, a Máti tem tudo o que tem o seu autor: audácia, inteligência, criatividade e amor pelos outros.

Obrigado, Carlos Rafael, pelo teu talento.  

 

 

A Loucura das presidenciais

 

Parece que não há mais nada neste país para tratar que não sejam as eleições presidenciais, que vão acontecer, imaginem, lá para Janeiro de 2026. Este país é um torrão de açúcar amarelo, sublime, angélico, pacífico, delicodoce, com ministros que mais parecem os reis magos, com ar perdido, atrás de uma estrela que não existe, cheios de prendas que não servem para nada. Entretanto, outras figurinhas andam já à bulha, os pequeninos, os grandes, os médios, a tentar convencer o povo de quem é o melhor para substituir o nosso fofo Zé das Selfies.

A forma como as televisões estão a tratar o tema é absolutamente estranha e interessante. Já sabemos que canal promove quem e até é fácil saber quem vai ser o dono das próximas selfies. Eu sei, mas não digo.

 

 

O Rio, ainda o Rio

 

Há pessoal amigo a publicar fotos do Rio Almansor nas redes sociais, depois de umas boas chuvadas, para vermos como ele corre, barulhento e feliz. São fotos enganadoras, claro, porque sabemos que, terminada a chuva, o curso de água volta a empobrecer, a perder-se nas atabuas de mil metros de altura e a ficar outra vez a cumprir os serviços mínimos que, como sabemos, não dão para nada. A fauna desapareceu e torna-se necessário proceder a um repovoamento das suas águas, de forma a que os ecossistemas voltem a encontrar o seu equilíbrio. Mas para lá pôr os peixes é preciso água e para haver água é preciso resolver a questão a montante. Não entendo de regadio, nem de nascentes, nem de rios, mas creio haver uma forma que manter o Almansor vivo, a correr e, sobretudo, sem os despejos de esgotos, denunciados e a merecerem recentemente uma reportagem na RTP1.

O Presidente da Câmara falou recentemente, já não sei em que circunstância, na possível construção de passadiços ao longo do Almansor. Farão sentido (embora seja discutível o contraste que vão exercer na paisagem) se houver Rio para ver. Por isso, há que mexer – mexer, mesmo – no leito do Rio, construir açudes, presas, espelhos de água, enfim, o que for necessário para que ele tenha água de forma permanente, já que é a água o elemento essencial para que haja Rio.

E para que haja vida.  

 

O Pan-americanismo de um puto lunático e endinheirado


Na entrega dos Prémios Goya de cinema, em Granada, há uns dias, o actor norte-americano Richard Gere afirmou: “Começa a dominar-nos um tipo de tribalismo idiota onde somos levados a pensar que estamos separados uns dos outros… Infelizmente,  elegemos líderes que não nos inspiram como queremos. Venho de um lugar muito sombrio na América, onde temos um fanfarrão e um bandido que é presidente dos Estados Unidos.” E está rodeado de “palhaços perigosos. São tempos sombrios para o meu país.”

Pensei escrever uma ou duas linhas sobre o indivíduo a que Gere se refere. Considerei desnecessário. Stephen King descreveu estes tempos em muitos dos seus romances, ainda antes de o Poder ser dominado por tais agentes do Mal.

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(1) Stephen King, On Writing, p. 70

João Luís Nabo

In "O Montemorense", Fevereiro de 2025

Distraídos crónicos...


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