Chover no molhado
Escrever sobre as
cheias que têm mantido o país em polvorosa é mesmo chover no molhado, peço
desculpa pela metáfora (e redundância) tão mal escolhida, tendo em conta as
circunstâncias. No entanto, só de ver os tipos do Governo Costa, tapadinhos por
um guarda-chuva, a correrem de um lado para o outro quem nem uns totós, deu-me
pena, vontade de rir, ao mesmo tempo, e obrigou-me a escrever estas poucas
linhas, porque de umas linhas mal alinhavadas é que eles não se livram.
Portugal continua
igual a si próprio. Até me parece mentira que nós, em tempos (muito) idos,
tenhamos dado mundos ao Mundo, com vícios e virtudes, usando a espada e a
bíblia da melhor forma de que éramos capazes. Como foi possível criar um
império daquelas dimensões, contrariando ventos e marés, quando hoje, em pleno início
deste novo e grandioso milénio (que só nos tem trazido problemas), não conseguimos
resolver o grave problema das inundações em Lisboa, no nosso queridíssimo Alentejo
e noutros pontos do nosso belo e turístico país?
Passámos meses,
longos meses, anos, longos anos, sem praticamente cair uma gota de água do céu,
valha-nos Cristo e Nossa Senhora, para, quando a temos a cair em força nas
nossas cabeças, não sabermos o que fazer com ela. É por estas e por outras que
ficamos conscientes de que o país está podre e incapaz de enfrentar desafios
sérios como o das alterações climáticas, associado à má gestão urbanística, à
falta de limpeza das sarjetas e escoadouros, uma coisa tão simples e, ao mesmo
tempo, tão difícil de concretizar. Depois, e é isso que me deixa estupefacto, é
vê-los mandar desentupir os esgotos, como se não houvesse amanhã. E é ver centenas
de bombeiros, sem dormir, exaustos, a procurar por todos os meios acudir aos
aflitos.
As crises deste
género têm a ver com essas questões tão em voga e tão verdadeiras das
alterações das condições do clima. Já todos reparámos que, em vez das quatro
estações do ano, ficámos só com duas e que, qualquer dia, quando tudo for de
pantanas, ficamos sem nenhuma, que era o que nós merecíamos, por sermos
descuidados e imprudentes. Estas crises também são provocadas pela incúria dos
homens, e sobretudo dos homens e mulheres que se sentam, e bem sentadinhos, nos
lugares de poder. Quando vejo o Costa, o Moedas, a Vieira da Silva, o Marcelo e
outros fofinhos que tais a darem abracinhos nos que viram toda a sua vida ser
levada por uma enxurrada de água e lama, dá-me vontade de fazer uma coisa que
não vou aqui escrever, até porque é contra as normas da decência e da moral.
Os donos dos
cafés, dos supermercados, das lojas, das casas, das garagens, dos armazéns, dos
campos, não querem um ombro amigo para chorarem as suas mágoas bem reais e que
passam pela sua própria sobrevivência. Os que perderam carros, mobílias,
animais, hortas, pessoas de família não querem palavras amiguinhas vindas do
coração (até porque os políticos não têm coração), nem selfies, nem televisões
a quererem filmar a dor, a raiva e a revolta. O que todos eles querem, e nós
também, é que os políticos se deixem de caridade bacoca, de consolos que não
sabem a coisa nenhuma, e reajam, finalmente, como políticos verdadeiramente
sérios, que querem, de facto, resolver as questões que, ao longo dos tempos têm,
repetidamente, prejudicado, e de que maneira, cidadãos de trabalho, pagadores
de impostos e eleitores livres. Quando colocamos conscientemente o nosso voto
na urna, não será para alargarmos o nosso círculo de amizades e irmos, mais dia
menos dia, beber um copo com os nossos candidatos preferidos. O voto é para que
eles cuidem de nós, nos protejam e não dediquem o seu tempo a assobiar para o
lado em processos gravíssimos de roubo, peculato, abuso de poder, transferências
financeiras indevidas que, no nosso país já dariam para uma série da Netflix
com mais de 30 temporadas.
Portugal está a
ser mal tratado por quem o governa? Ainda têm dúvidas? Portugal, que foi rei e
senhor de metade do planeta, sendo (muito) discutível a forma como o conseguiu,
não devia estar a afundar-se, só porque os políticos estão mais preocupados em
salvar alguns bancos e alguns banqueiros, apresentando uma mão cheia de nada e
outra de coisa nenhuma a quem, de facto, merece apoio e solidariedade nos momentos mais complicados das suas vidas.
Quem não percebesse
bem o que se estava a passar depois dessa entrevista, pensaria que a
comunicação social portuguesa e mundial queria mesmo era que o Cristiano se
tramasse e tramasse a selecção. O Campeão manteve-se sereno, calmo, ignorando
as ogivas que lhe mandavam, até que foi o próprio seleccionador que lhe deu o
tiro de misericórdia: Cristiano para o banco, porque tu, o que mereces, é estar
no banco.
No íntimo do
melhor do mundo, esta decisão acabou por ser arrasadora, levando a autoestima
de Cristiano a descer ao nível dos infernos. Coloquei-me no lugar dele e descobri
que não conseguiria ter a classe que ele teve: se o Santos insistisse em manter-me
no banco, eu teria ido até ao centro do relvado, despido a camisola das quinas e
regressado a casa, nesse mesmo dia, para os braços da minha Georgina.
Esse tal
seleccionador não merece continuar.
Quanto ao Cristiano,
um dia que ele passe pela nossa santa terrinha, não me importava nada de tomar
um café com ele, antes de termos uma conversa séria sobre lealdade e confiança.
Mas isto sou eu a dizer. Eu… que nada percebo de futebol.
Sem comentários:
Enviar um comentário