quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Chover no molhado e outra questão de igual importância

 


                                                             
   (foto: Agência Lusa)


                                                         Chover no molhado
                                                                                              

Escrever sobre as cheias que têm mantido o país em polvorosa é mesmo chover no molhado, peço desculpa pela metáfora (e redundância) tão mal escolhida, tendo em conta as circunstâncias. No entanto, só de ver os tipos do Governo Costa, tapadinhos por um guarda-chuva, a correrem de um lado para o outro quem nem uns totós, deu-me pena, vontade de rir, ao mesmo tempo, e obrigou-me a escrever estas poucas linhas, porque de umas linhas mal alinhavadas é que eles não se livram.

Portugal continua igual a si próprio. Até me parece mentira que nós, em tempos (muito) idos, tenhamos dado mundos ao Mundo, com vícios e virtudes, usando a espada e a bíblia da melhor forma de que éramos capazes. Como foi possível criar um império daquelas dimensões, contrariando ventos e marés, quando hoje, em pleno início deste novo e grandioso milénio (que só nos tem trazido problemas), não conseguimos resolver o grave problema das inundações em Lisboa, no nosso queridíssimo Alentejo e noutros pontos do nosso belo e turístico país?

Passámos meses, longos meses, anos, longos anos, sem praticamente cair uma gota de água do céu, valha-nos Cristo e Nossa Senhora, para, quando a temos a cair em força nas nossas cabeças, não sabermos o que fazer com ela. É por estas e por outras que ficamos conscientes de que o país está podre e incapaz de enfrentar desafios sérios como o das alterações climáticas, associado à má gestão urbanística, à falta de limpeza das sarjetas e escoadouros, uma coisa tão simples e, ao mesmo tempo, tão difícil de concretizar. Depois, e é isso que me deixa estupefacto, é vê-los mandar desentupir os esgotos, como se não houvesse amanhã. E é ver centenas de bombeiros, sem dormir, exaustos, a procurar por todos os meios acudir aos aflitos.

As crises deste género têm a ver com essas questões tão em voga e tão verdadeiras das alterações das condições do clima. Já todos reparámos que, em vez das quatro estações do ano, ficámos só com duas e que, qualquer dia, quando tudo for de pantanas, ficamos sem nenhuma, que era o que nós merecíamos, por sermos descuidados e imprudentes. Estas crises também são provocadas pela incúria dos homens, e sobretudo dos homens e mulheres que se sentam, e bem sentadinhos, nos lugares de poder. Quando vejo o Costa, o Moedas, a Vieira da Silva, o Marcelo e outros fofinhos que tais a darem abracinhos nos que viram toda a sua vida ser levada por uma enxurrada de água e lama, dá-me vontade de fazer uma coisa que não vou aqui escrever, até porque é contra as normas da decência e da moral.

Os donos dos cafés, dos supermercados, das lojas, das casas, das garagens, dos armazéns, dos campos, não querem um ombro amigo para chorarem as suas mágoas bem reais e que passam pela sua própria sobrevivência. Os que perderam carros, mobílias, animais, hortas, pessoas de família não querem palavras amiguinhas vindas do coração (até porque os políticos não têm coração), nem selfies, nem televisões a quererem filmar a dor, a raiva e a revolta. O que todos eles querem, e nós também, é que os políticos se deixem de caridade bacoca, de consolos que não sabem a coisa nenhuma, e reajam, finalmente, como políticos verdadeiramente sérios, que querem, de facto, resolver as questões que, ao longo dos tempos têm, repetidamente, prejudicado, e de que maneira, cidadãos de trabalho, pagadores de impostos e eleitores livres. Quando colocamos conscientemente o nosso voto na urna, não será para alargarmos o nosso círculo de amizades e irmos, mais dia menos dia, beber um copo com os nossos candidatos preferidos. O voto é para que eles cuidem de nós, nos protejam e não dediquem o seu tempo a assobiar para o lado em processos gravíssimos de roubo, peculato, abuso de poder, transferências financeiras indevidas que, no nosso país já dariam para uma série da Netflix com mais de 30 temporadas.

Portugal está a ser mal tratado por quem o governa? Ainda têm dúvidas? Portugal, que foi rei e senhor de metade do planeta, sendo (muito) discutível a forma como o conseguiu, não devia estar a afundar-se, só porque os políticos estão mais preocupados em salvar alguns bancos e alguns banqueiros, apresentando uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma a quem, de facto, merece apoio e solidariedade nos momentos mais complicados das suas vidas.

 

 Sim, Cristiano, gostava de tomar um café contigo

 O outro assunto que, para mim, está esgotado, é o do Cristiano. A comunicação social faz e desfaz pessoas, cria e destrói, glorifica e demoniza quem está sob a luz ofuscante dos seus holofotes. Achei absolutamente inacreditável que, enquanto decorria o Mundial do Qatar, os jornais e as televisões tentassem, por todos os meios, expor o Cristiano, como se não soubessem que tudo o que se dissesse ou pensasse sobre ele acabaria por condicionar a equipa da qual ele era capitão. A nossa equipa. A equipa das quinas. A equipa dos “heróis do mar”. Provavelmente, também ele deveria ter escolhido outra oportunidade para a malfadada entrevista a uma cadeia de televisão britânica. Aceito.

Quem não percebesse bem o que se estava a passar depois dessa entrevista, pensaria que a comunicação social portuguesa e mundial queria mesmo era que o Cristiano se tramasse e tramasse a selecção. O Campeão manteve-se sereno, calmo, ignorando as ogivas que lhe mandavam, até que foi o próprio seleccionador que lhe deu o tiro de misericórdia: Cristiano para o banco, porque tu, o que mereces, é estar no banco.

No íntimo do melhor do mundo, esta decisão acabou por ser arrasadora, levando a autoestima de Cristiano a descer ao nível dos infernos. Coloquei-me no lugar dele e descobri que não conseguiria ter a classe que ele teve: se o Santos insistisse em manter-me no banco, eu teria ido até ao centro do relvado, despido a camisola das quinas e regressado a casa, nesse mesmo dia, para os braços da minha Georgina.

Esse tal seleccionador não merece continuar.

 

Quanto ao Cristiano, um dia que ele passe pela nossa santa terrinha, não me importava nada de tomar um café com ele, antes de termos uma conversa séria sobre lealdade e confiança. Mas isto sou eu a dizer. Eu… que nada percebo de futebol.

 

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Distraídos crónicos...


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