Se
uns podem…
Quereis saber como se podiam ter impedido aquelas
manifestações de euforia desportiva misturada com a alegria de se ser livre por
uma noite? Pois, não sei. Pela imposição da lei, à força de bastonadas? Isso
seria absurdo e acabava por dar origem a uma guerra civil. Alertar os foliões
para os perigos que representavam os ajuntamentos? Isso eles já sabiam.
Disponibilizar de imediato meios de testagem rápida para determinar o
isolamento de muitos deles? Talvez fosse esta uma das formas…
O que se tornou óbvio foi a reacção dos que não foram
a essas manifestações e continuavam, então, a cumprir as regras do confinamento
e do recolhimento domiciliário. E essa atitude, perante a diferença de tratamento,
só podia ser esta: “Se uns podem, eu também posso. Compadre Costa, que raio
de democracia é esta?”
Um facto inegável é o número de infectados que está a
subir todos os dias. Estão admirados? Claro que não. Eu também não. E o
Presidente da República também não. E o primeiro-ministro? Bom, desse
governante é difícil saber a opinião, quando a lei portuguesa e as autoridades
decidem tratar de forma diferente os filhos da mesma nação, e assobiar para o
lado, quando centenas de aliados britânicos, meio vestidos, meio despidos, se
lançam em massa na propagação do Covid e de outros vírus associados, como se
não houvesse amanhã.
Uma coisa é certa: se queremos momentos de alegre (mas
pouco são) convívio com familiares e amigos, já em número acima do normal,
marquemos uma manifestação a favor de um clube qualquer. Ninguém terá
autoridade moral para nos repreender, multar ou mesmo identificar na esquadra
mais próxima. Eu, para evitar problemas, ando sempre com o cachecol do meu
favorito no bolso.
Entretanto, nas nossas escolas, professores, alunos e funcionários continuam, contrariados, claro, a usar máscara. Dentro dos blocos de aulas, nas salas de trabalho e… no exterior da escola. Haverá excepções, como em tudo. Há sempre umas gaivotas que, assim que saem da escola, tiram a máscara, rumam em direcção às esplanadas e… siga a marinha. Mas, pensando bem, depois de tudo a que já assistiram, quem é que os pode condenar? Eu não.
Fim de ano (des)lectivo
Estamos a terminar as aulas. Depois de quase dois anos lectivos profundamente atípicos, vamos dar algum descanso aos alunos e vão os professores também passar uns dias longe das questões em que estiveram envolvidos no decorrer deste tempo de pandemia. Todos nós aprendemos qualquer coisa com tudo isto. A adaptação dos alunos e dos professores às potencialidades de um ecrã de computador não foi fácil e demorou algum tempo até todos nós, comunidade educativa, acreditarmos que poderíamos ultrapassar este problema. Fizemo-lo, de vez, com algum estudo da nossa parte, por vezes perdidos nos mil e um pormenores tecnológicos, mas angariando uma boa ajuda por parte de colegas e amigos e, claro, seria inevitável, após algumas experiências mal sucedidas.
Terminado o processo por mais este ano, poderemos
dizer que houve um balanço positivo? As matérias foram leccionadas na íntegra
e, na perspectiva dos professores (e dos alunos), foram bem leccionadas? Teriam
todos os alunos as mesmas condições de acesso às tecnologias? Teriam todos eles
familiares e amigos que os encaminhassem e auxiliassem neste novo universo do
ensino à distância? Não me parece que assim fosse. Então, deveríamos passar uma
esponja que apagasse estes dois anos lectivos e começar tudo de novo? Claro
que, para além de absurdo, seria impossível e não levava a lado nenhum. Aceitar
o que existe é, para já, a nossa única possibilidade. Reforçar conhecimentos e
matérias no decorrer do próximo no lectivo parece-me ser uma das soluções
possíveis. Aprender a utilizar de forma mais eficaz as ferramentas tecnológicas
que temos à disposição para o ensino à distância também acho que será a única
aposta viável e útil em termos de futuro. Entretanto, esperar que a situação
pandémica não se agrave para que possamos regressar à nossa vida normal é
aquilo que fazemos todos os dias. Vamos acreditar que tal seja possível.
Uma questão, independentemente dos aspectos positivos
e negativos do ensino à distância, ou do teletrabalho de uma forma geral, é
que, se antes da pandemia nada estava garantido na nossa vidinha, este célebre
vírus veio transformar essa certeza numa verdade sem discussão.
João Luís Nabo
In "O Montemorense", Junho de 2021
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