quinta-feira, 5 de abril de 2012

Não ao triste fado dos tristes

Antes dos votos de Boa Páscoa para os meus 8 leitores, quero manifestar o meu orgulho como montemorense porque dois arqueólogos da minha terra tiveram visibilidade nacional graças ao seu trabalho, ao seu empenho e ao seu dizer não à maldita crise. O Carlos Carpetudo e a Sira Camacho, meus amigos, meus ex-alunos e cantores no CSD, criaram uma empresa a que chamaram Cromeleque para aproximar a cidade das pessoas ou… vice-versa. Este é, pelo menos, um dos objectivos dos Roteiros recentemente estreados. Aqui fica a justificação: Cruzamo-nos todos os dias nas Ruas da Cidade sem tempo para parar e escutar aquilo que as Ruas têm para nos contar. Os Roteiros na Cidade da Cromeleque são um convite para explorar Montemor-o-Novo e (re) descobrir os seus encantos.”
E um desses encantos está, precisamente, a meio da velhinha Rua de Avis, numa pastelaria chamada Capri e que, graças ao talento e trabalho do seu proprietário, também mereceu honras a nível nacional, e igualmente por bons motivos: a arte de trabalhar o chocolate e, sobretudo, a reinvenção dos bombons com sabores… inimagináveis. O António João Melgão e a sua equipa, tal como a Sira e o Carlos, disseram não ao triste fado que persegue os menos corajosos.
E pronto: uma Páscoa pacífica para todos e com saúde. Passeiem muito pela cidade, comam muitos bombons exóticos e aproveitem para passar cada momento com as pessoas que amam. O resto… logo se vê.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

quinta-feira, 22 de março de 2012

A Luta Final



     Faleceu hoje de madrugada João do Machado, um dos últimos antifascistas montemorenses que lutou durante anos, na clandestinidade, contra o regime ditatorial de Oliveira Salazar.
     Em tempos, escrevi um conto em homenagem a esse comunista de gema, baseado num dos muitos episódios da sua vida de luta abnegada, solidária e humanista. Depois de premiada e lida em cerimónia pública com a presença de João do Machado, o que muito me honrou, a narrativa foi incluída, com sua autorização (e gosto, devo acrescentar), no meu último livro – Outros Contos de Vila Nova (Ed. Tágide, Lisboa, 2010), com o nome “O Sinal”.
Quanto a este meu velho amigo havia mil volumes para escrever sobre a sua luta, o seu sofrimento e a alegria que sentiu naquela manhã de Abril de 1974. Quem quiser conhecer um pouco desse resistente pode ler a história que vem a seguir, onde o encontrará com o nome de Tomé e perceberá como, quase sempre, se torna fascinante (e por vezes doloroso) misturar a ficção com a realidade.
 
(A publicação deste apontamento imediatamente após o que leram antes é de uma coincidência jamais prevista pelo autor.) 


O sinal


            O que Zulmira não adivinhava, não podia adivinhar, era que nesse mesmo dia, já perto do lusco-fusco, iria entregar à polícia política o seu Tomé, o homem com quem tinha casado havia mais de um ano, a quem, diante do padre e de Deus, havia jurado nunca trair, fossem quais fossem as circunstâncias da vida. O seu Tomé, pai da Margarida, aquele pedaço de céu prestes a ficar sem os seus carinhos. Se Zulmira soubesse o que estava para acontecer, teria preferido que aquele dia nunca tivesse amanhecido.
            Tomé, o do Monte da Luzia, levantou-se de um salto assim que o primeiro raio de sol, morno, tímido, lhe desenhou uma estrada de luz na face há dias por barbear. Não quis acordar a mulher que dormia ao seu lado, nem a filha, deitada num caixote a fazer de berço, aos pés da cama. Abriu a janela do quarto, pôs a cabeça de fora e respirou fundo. No Verão, a manhã é sempre uma festa de luz, à conquista de espaço, por cima daqueles montes nos arredores de Vila Nova. Recolheu-se, atravessou o quarto pé ante pé, abraçado à roupa e com as botas cardadas presas uma à outra pelos atacadores. Ia vestir-se lá fora. Não as queria acordar. Não dissera à mulher para onde ia. Nem tinha precisado. “Amanhã vou sair cedo. Há uma reunião.” Zulmira não lhe respondera. Para quê? Havia uns cinco ou seis domingos que era sempre aquilo. Não se contava um, em que ele não tivesse saído mais cedo do Monte em direcção à Vila, ou à casa do João Baptista, ou à do Zé Adelino, ou à de outro companheiro qualquer que não tivesse receio de disponibilizar uma mesa e três cadeiras. Uma vez, mostrara-se queixosa, uma lagrimita a assomar-se, envergonhada, que ela não gostava de chorar, fosse em frente de quem fosse. Foi logo a seguir ao nascimento da Margarida. Já nesse tempo Tomé andava metido na política.
      “Nunca passas os domingos em casa. Andas sempre em reuniões, e eu sempre preocupada sem saber se voltas. Pensa em mim. Na tua filha, tão pequenina, a precisar de ti.” “Por causa dela é que eu ando nisto.” Era sempre assim o remate dele. Mas depois continuava: “Zulmira. Isto tem de dar o berro! Isto tem de acabar um dia...” “E pensas que tudo muda, só porque meia-dúzia de loucos como vocês quer mais justiça?” “Não são meia-dúzia, Zulmira. Isto já é o país inteiro. Ninguém está contente com a situação... As prisões estão cada vez mais cheias... As perseguições aumentam todos os dias. Anteontem foram buscar a Ti Maria da Venda lá ao monte dela. Revistaram a casa e deram com dois ou três jornais dos que a gente sabe e… pronto... Os filhos a chorarem... O marido a dizer que ele é que os tinha trazido. Depois, há amigos meus a serem torturados todos os dias...” “É esse o meu maior medo, Tomé... Que tu, um dia, não regresses a casa... E que sofras por uma causa perdida… Eu casei contigo para ser feliz. Para estar contigo e com a nossa filha. Quero dar-lhe uma vida melhor do que a que os meus pais, que Deus tem, me deram... Coitados... Eu não me importo de trabalhar no campo... De tratar dos porcos... De ir fazer as ceifas noutras herdades onde paguem melhor... Não me fazem impressão os ‘ratinhos’ que vêm de tão longe ganhar o pão. Eu quero é ter paz. E queria que tu nunca fosses preso... A nossa vida ia ficar despedaçada…”
            Foi aí que a lágrima se soltara, leve, e se lançara lenta pela face, numa cascata de dor, em direcção ao lábio bem desenhado, fino, não de cruel mas de finura mesmo, que Zulmira até podia ter nascido do outro lado: a tez era clara, os cabelos negros. Negros e longos, caídos até ao meio das costas. Vinte e cinco anos. O corpo magro, esguio, como se cuidasse dele de propósito para agradar a Tomé. Mas não. Ela era assim mesmo: bonita, mulher feita aos quinze, cobiçada pelos rapazes que se juntavam depois do trabalho na venda do Ti Zé da Bica, à saída da Vila, mas que só conheceu homem depois de ter casado com o Tomé da Luzia, Monte afamado pelo morador e pelo pai, o Chico da Luzia, homem chamado a contas ainda Tomé era gaiato pequeno.
            “Não gosto de te ver chorar. Diz o que quiseres, mas a chorar é que não.” “Eu sei que as minhas lágrimas não te aquecem nem arrefecem, mas ando sempre com o credo na boca. Sabes que já andam dois deles a rondar o nosso Monte. Todos os domingos, chegam, estão, e partem antes do fim da tarde… São sempre os mesmos. No dia em que tu faltaste ao trabalho, a uma segunda-feira, para ires ao médico, eles ali estavam, desconfiados… É um suplício. Nesse dia, se não fosse o sinal, tinham-te levado… A minha angústia nasce todos os dias, porque eu sei o que vai na tua cabeça de herói que quer mudar o mundo sem pensar nas consequências para si e para os seus... E tu, sozinho, não consegues nada...” “Não posso sozinho, mas posso contigo. Com a tua ajuda… Queres uma vida melhor para a nossa filha? Então, confia em mim. Protege-a quando eu não estiver. Protege-a. Com a tua própria vida. Com a minha própria vida. Ela é o nosso tesouro mais precioso… Está atenta. À mínima desconfiança, já sabes: descontraidamente sais de casa e fazes o sinal.” Zulmira lançou-lhe um olhar nervoso que disfarçou com um sorriso triste mas que o deixou mais sossegado.
                                   …………………………………….
Saiu do Monte já o sol tinha aberto os olhos, dando ao olival um aspecto esguio, de sombras alongadas a baterem-lhe nas botas. Havia uma ligeira aragem mas já se sentia que o dia ia ser quente. Como todos os dias de Verão no Alentejo. Domingo é campo parado. As searas ali à volta estavam quase prontas para o corte. Mais um mês de espera... Para trás, a casa, o poço, a pocilga, feita por ele, o alpendre, o tanque onde Zulmira lavava à estorrina e um terreiro grande, largo, limpo de ervas e de pedras, onde a roupa era estendida, de frente para a Vila, virada ao vento, que lhe desalinhava os cabelos de azeviche, sempre que ali ficava à espera de Tomé. 
 “Quanto menos a família souber da nossa vida, melhor”, dissera-lhe uma tarde João Baptista, com ar grave, quase ameaçador. “Não podemos pôr em risco as nossas mulheres porque, se não regressarmos a casa, são elas que ficarão a tomar conta dos nossos filhos...” “Mas a minha mulher apoia a nossa causa. Não a posso deixar de fora… Ela sabe o que eu ando a fazer. Só desconhece é os sítios onde nos juntamos. Uma semana em casa de um... Outra em casa de outro. Eu sei que somos vigiados. Na vila, há gente que manda um telegrama para Lisboa todas as segundas-feiras a contar quem estava na reunião... Mas a mim nunca me apanham. Eu tenho um sinal com a minha Zulmira.” “Um sinal?”. “Temos um sinal. Um sinal, é só isso. Um dia conto-te, João. Um dia!”
Dali a Vila Nova era um saltinho. Pouco mais de meia légua. A reunião começava às oito em ponto. E hoje iam tomar-se decisões importantes.
Se Tomé da Luzia adivinhasse quem estava à espreita atrás da oliveira velha, a uns duzentos metros do monte, não teria mantido a sua postura decidida, nem se teria dirigido para a Vila, onde era esperado na casa do Zé Adelino. Se tivesse o poder de ver através das coisas, teria vislumbrado, de forma clara, não um homem mas dois. Daqueles que basta olhar para eles para se ficar a saber, lidos à primeira vista, quem são, o que querem e quem os mandou. Quando Zulmira os viu, já Tomé ia longe… Para não correr riscos, era melhor pôr o sinal de alerta a funcionar…
            Passou o tempo, mas não passou o medo. Zulmira andou quase sempre com a filha ao colo, nervosa, com vontade de ir ter com Tomé, ou de mandar um recado por alguém… mas por quem? Sabia, contudo, o que lhe dava um certo alívio, que o marido não se aproximava do Monte enquanto lá estivesse o sinal… Mal almoçou, tal era a agonia.
            Entraram em casa como uma sombra, os dois homens. Margarida dormia descansada e ausente, no caixote, no quarto, aos pés da cama. Pouco passava das seis da tarde e Zulmira, que estava na cozinha, não os viu. Subitamente, um choro assustado encheu-lhe a alma e quando se dirigiu, a correr, para o quarto, já um deles vinha a sair com Margarida ao colo. Zulmira soltou um grito e atirou-se ao desconhecido… Este, bastante mais alto que ela, ergueu o bebé acima da cabeça, enquanto a mãe era brutalmente agarrada pelo braço esquerdo do segundo homem enquanto que, com o direito, fechava as portadas da janela da cozinha.
            “Acalma-te, mulher”, disse o primeiro. “Fica sossegada que tudo se resolve… Não grites, não estrebuches que ainda assustas a criança…” “Quero a minha filha”, gritou ela, não acreditando no que lhe estava a acontecer… “E vais tê-la. Mas, para isso, tens de nos fazer um pequeno favor…” E o primeiro, o que segurava Margarida, fez um gesto ao segundo para que afrouxasse o abraço e a deixasse mais folgada. “O que querem, então?”, perguntou num misto de medo e de fúria. “Vais começar por nos dizer onde está o teu marido”, replicou o primeiro que, pelos ares, parecia o chefe do outro. “O meu marido foi ver a mãe ao monte. Anda adoentada e a idade já é muita e…” Não acabou a frase. A mão do segundo homem voou, furiosa, em direcção à face direita de Zulmira que não soltou um grito mas que sentiu a raiva a descer com as lágrimas. “Não sejas mentirosa. O teu marido está em Vila Baixa, numa reunião. Nós sabemos de tudo. Não tentes mentir. Não vale a pena. E podes piorar as coisas.” Sorriu para o chefe que batia suavemente com a mão direita nas costas de Margarida… “Podes piorar muito as coisas.” E prolongou o “muito”, com um esgar animalesco. “Se sabem tudo, por que perguntam? Vão buscá-lo! …”, gritou. Ela sabia que não iam. E se fossem não o encontrariam, porque era regra sagrada acabar as reuniões sempre antes das seis da tarde, mesmo que as discussões estivessem a meio… “Não é preciso ir buscá-lo. Vamos esperar aqui por ele”, respondeu o que segurava em Margarida que, apesar das vozes e dos gestos, tinha parado de chorar. “Dê-me a minha filha. Ela está assustada… Não tem o direito de fazer isso…” “Eu dou, eu dou… Mas a seu tempo. Ainda não nos fizeste o tal favor…” “Mas que favor?” “Quero que vás apanhar a roupa que está lá fora no estendal…”
            Zulmira sentiu um estremeção no baixo-ventre e ficou com a cabeça às voltas. Encostou-se ao guarda-louça para não cair.
            “Faz o que te mando e nada acontecerá à tua filha. Ficará contigo depois de tudo terminado”, insistiu.
            Muda de medo, em luta profunda consigo, numa agonia interminável, Zulmira olhou para aquele homem e os lábios finos quase desapareceram, tal a força e a raiva que se queriam soltar. Este, percebendo que as ordens corriam o risco de não serem executadas, acrescentou num tom de voz mais duro:
            “Não resistas, mulher! Vai apanhar a roupa e sem pressas…”
            Secretamente, Zulmira ainda julgava dominar toda a situação. Se eles queriam que ela apanhasse a roupa, muito bem, ela não tinha qualquer problema em fazê-lo.
            Pegou num alguidar vazio e encaminhou-se para a porta. Lá fora, meia-dúzia de peças tinha secado ao sol e ao vento. Zulmira esticou-se e, tirando as molas uma por uma, foi desnudando o arame, deixando lá à ponta, ainda a esvoaçar, uma camisa de cor vermelha. Entrou em casa e viu o segundo homem a espreitar o terreiro pela janela da cozinha. Olhou para o chefe e fez um gesto de desagrado. O primeiro, sem nunca largar Margarida, revolveu o alguidar e zuniu-lhe com uma voz lenta mas furiosa:
            “Voltas lá fora a apanhas também a camisa!”
            Tomé tinha chegado antes das seis. Como viu o sinal, ficou-se por ali, à distância, a espreitar, atento a qualquer ruído ou movimento. Já estava a ficar impaciente quando, ao longe, viu a mulher, em bico de pés, a apanhar aquela bendita camisa vermelha. “Já não há perigo. Posso ir…”, pensou. Na cabeça dela ecoava uma voz que lhe fazia correr a água cara abaixo: “Protege-a quando eu não estiver. Protege-a. Com a tua própria vida. Com a minha própria vida. Ela é o nosso tesouro mais precioso…”
            Num andar calmo, Tomé dirigiu-se para casa onde, julgava ele, o esperavam, como habitualmente, Margarida, Zulmira, a ceia e umas boas horas de sono.
                                                                                              João Luís Nabo
(in Outros Contos de Vila Nova, Ed. Tágide, Lisboa, 2010)

sábado, 17 de março de 2012



Por tudo o que se diz e escreve neste e noutros órgãos de imprensa, Portugal está a atravessar um período ideal para o surgimento de um salvador que, aproveitando-se do desespero do povo, ansioso por soluções rápidas e eficazes, levará ao poder o primeiro indivíduo, cujo perfil garanta uma saída rápida do sufoco em que a maioria começou a viver.
O desemprego crescente, a crise nas empresas, as confusões no ensino, o descontentamento dos profissionais de saúde, os cortes nos ordenados e nos subsídios, entre outras garantias inalienáveis dos direitos de quem trabalha, a impossibilidade de trabalhar a terra, a incapacidade cada vez maior de Portugal se auto-sustentar, o aumento da criminalidade, a diminuição do poder de compra dos portugueses que vai acabar por estagnar toda a nossa produtividade fazem parte de um cenário onde se notam algumas semelhanças com outros cenários da História recente da Europa, de povos em crise, de braços abertos ao primeiro salvador da pátria que possa ou queira aparecer.
E isto é uma situação muito perigosa. Repito: muito perigosa.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Paradoxos (ou o outro lado do espelho)

 
Sabemos como o país está em absoluta falência. Milhares de trabalhadores são postos na rua, sem direitos nem garantias de coisa nenhuma. Fecham as fábricas e acaba-se o salário que dava para pagar as contas (mal) e para pôr o pão em cima da mesa. A Segurança Social está em bancarrota. Os trabalhadores de hoje nem sequer sabem se poderão ter reforma quando for tempo dela.
Por outro lado, sei também que outras empresas começam a renascer das cinzas e que precisam de gente para trabalhar, mas não vão querer, decerto, pessoal licenciado, porque lhe terão de pagar um ordenado mais ou menos a condizer… Preferem trabalhadores com um mínimo de escolaridade para que isso seja um bom motivo para uma menor despesa e, claro, uma mais descarada exploração.
Se assim é, se os cidadãos com menos escolaridade arranjam emprego mais depressa, porque serão sempre pagos abaixo de um cidadão com curso médio ou superior, o que é que eu e os outros professores andamos a fazer nas nossas escolas? Sinto-me uma verdadeira fraude, quando insisto com os meus alunos sobre a importância do conhecimento, como arma fundamental para o futuro. Sinto-me um mentiroso, quando lhes digo que o estudo feito com afinco e seriedade poderá fazer deles uns cidadãos do mundo e que terão ferramentas para lutar pela vida. Eles acreditam (ou fingem acreditar). Mas eu sei que, mais do que cidadãos do mundo, serão ex-alunos sem emprego, sem possibilidade de seguir a carreira dos seus sonhos, sem hipótese de comprar uma casa, de arranjar uma família, de serem felizes.
E fico mal comigo próprio depois de cada dia de trabalho. Depois de muitas horas a fingir que está tudo bem e que vivemos num paraíso.


terça-feira, 13 de março de 2012

A minha escola


Fiz a estreia na "nova escola" hoje, com o 10.º AGD. Gostei. Gostei, não... Gostámos.
O "espírito" da Escola "Velha" paira em todos os cantos, o que é psicologicamente favorável, e o ambiente para ensinar e aprender sente-se como irrecusável. Vamos em frente. Aguardamos que as instalações fiquem, o mais depressa possível, completas, para continuarmos a ser uma GRANDE ESCOLA. (Obrigado, São, pela foto).

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Estou...


Se os cidadãos com menos escolaridade arranjam emprego mais depressa, porque serão sempre pagos abaixo de um cidadão com curso médio ou superior, o que é que eu e os outros professores andamos a fazer nas nossas escolas? 

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Ninguém manda em nós?

O primeiro-ministro de Portugal não autorizou o tradicional feriado de Terça-feira de Carnaval. Teve receio que os elementos da Troika, hoje por cá, em plena vigilância, lhe dessem tau-tau?
Ele não autorizou mas... ganhou o mesmo.Anda toda a gente nos desfiles carnavalescos. Isto não será desobediência civil? Ninguém é detido? Ninguém leva processos disciplinares? Fiquei confuso.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Um grande profeta


Li há muito tempo um livro de um senhor inglês chamado George Orwell, Animal Farm (1945), O Triunfo dos Porcos, na primeira, e pessimamente traduzida, versão portuguesa. A pequena relíquia é metaforicamente uma clara crítica aos governos totalitários comunistas e não comunistas do pós Segunda Guerra Mundial e conta a história de uns animais que, sendo maltratados pelo dono, decidiram revoltar-se e criar eles próprios um governo, com leis e tudo, e até com um hino em honra do dia da revolução, ficando os Porcos assumir o comando e a governação da Quinta.
“Quatro pernas, bom, duas pernas, mau” era o lema que os animais entoavam nas suas manifestações e reuniões, querendo ver longe da quinta o homem que tanto os tinha explorado e dando a entender que nunca mais queriam voltar a um passado de dominação e desrespeito pelos seus direitos mais básicos e pelas suas garantias mais sagradas e fundamentais.
Esta sátira política termina assim, depois de o lema ter sido alterado ao longo da história, consoante as necessidades dos governantes: “Os animais que se encontravam lá fora olhavam do porco para o homem, do homem para o porco e novamente do porco para o homem, mas era já impossível distinguir uns dos outros.”

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Um quase sem-abrigo


O senhor presidente da nossa ainda dita República anda aflito com as finanças e contou aos portugueses que não sabe se o seu salário e pensões dão para cobrir as despesas lá de casa. Fiquei três dias a rir. Primeiro, porque pensei que ele estivesse a contar uma anedota; mas, depois, vi que não, e ri-me, mas de comiseração por tão patético desabafo da mais alta figura do nosso Estado-cada-vez-menos-democrático. O senhor quando não está a comer bolo-rei, dá-lhe para estas baboseiras. Dêem-lhe bolo rei! Dêem-lhe bolo-rei!

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Um verdadeiro paizinho

“Não sejam piegas”, disse o senhor primeiro-ministro aos portugueses, quando estes manifestaram o seu desagrado pelas dificuldades que começavam a passar depois destes acordos com a tal Troika. “Não sejas piegas”, nem nós dizemos ao nosso filho, quando ele tem medo do escuro ou mesmo de algum colega mais velho que lhe quer chegar a roupa ao pêlo. “Não sejam piegas” é paternalista, é anti-Estado e é uma ofensa a gente crescida e responsável. Os portugueses que já têm dificuldade em pôr na mesa o pão para os que vivem lá em casa não estão a ser piegas. Estão a ser Homens e Mulheres, que jamais esperavam ouvir uma destas do senhor que nos tenta governar. Tenta, porque, tal como um certo Sócrates de má memória, continua a vender ao desbarato o país àquele ser estranho, híbrido, meio homem, meio mulher, meio Adolfo, tipo novo Big Brother dos tempos modernos, chamado Merkozi.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

70 minutos de desconforto

Assisti à representação da peça Baqué, um texto de Carlos Marques e de Rui Pina Coelho, com base numa narrativa de Jayme Filinto sobre o incêndio que, nos finais do século XIX, destruiu um teatro do Porto, apinhado de gente. Ser espectador, num teatro, de uma peça sobre um teatro que ardeu e com lume sempre visível em cena no decorrer da representação, é provocador, é aflitivo, é perigoso para os mais sensíveis e é, sobretudo, uma noite de teatro sufocante e fora do comum. Não, caro leitor, não fui ver o Baqué à Comuna, ao Teatro Aberto ou ao Teatro da Cornucópia. Fui aqui a Montemor, à blackbox do Curvo Semedo, ver actores montemorenses e a encenação do, também montemorense, Carlos Marques.

A técnica de contar num palco de teatro uma história, cuja personagem principal é um teatro, destruído por um dramático incêndio, é uma técnica inteligente, a que os especialistas gostam muito de chamar metadrama, e que funciona em pleno. O espectador põe em prática a chamada suspensão da descrença do velho Coleridge (vão à enciclopédia mais próxima, porque eu não posso explicar tudo aqui neste pequeno espaço) e começa a pensar (tal como Alfred Hitchcok também nos fazia pensar) que, apesar de tudo ser apenas um filme, ou, neste caso, uma peça de teatro, aquilo pode acontecer mesmo e, mais assustador ainda, naquele preciso momento.

O desassossego interno é, como imaginam, intenso e permanente. Afinal, o que Carlos Marques e a sua trupe de actores mais músico residente (Catarina Caetano, apaixonei-me pela tua capacidade camaleónica de transmitir ao público tantos sentimentos contraditórios. Diz-me como consegues fazê-lo!) nos quiseram dizer é que aquilo é, afinal, e apenas, uma peça de teatro… ou não. Igualmente brilhante foi a ligação aos tempos de hoje e aos de amanhã, a crítica aos políticos que nada conseguem para levantar o país, uma ligação que eu agora faço ao livro de Orwell sobre os Porcos que começaram a governar a quinta do ditador senhor Jones, no lugar do ditador senhor Jones.

Mas a representação foi também, igualmente a alusão à história de um teatro com mais de 50 anos de idade chamado Curvo Semedo e que está, como se sabe, a precisar de tratamento sério. A Metáfora é perigosa mas a Narrativa é fidedigna.

Estivemos em Montemor, em 2012? No Porto, em 1888?
Ainda aqui estamos?

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Tesourinhos, não. Saudades.


Por insistência do meu primo Zé Manel Brejo, "obriguei" a minha mãe a encontrar esta foto histórica, localizada pacientemente numa caixa, misturada com outras "relíquias" de época. Uma foto do tempo em que as horas passavam mais devagar e quando as calças à boca de sino eram o apogeu da moda teenager. Estávamos, parece-me, em 1978. O cenário escolhido foi um portão que existia, e ainda existe, na Rua Sacadura Cabral (nas traseiras do BES), onde viveram a nossa avó Maria e o nosso avô João durante décadas.
Aqui fica: sem retoques de photoshop, sem maquilhagem, com a roupa que os nossos pais nos podiam comprar naquele tempo. Naquele bom tempo.

Modelos (da esquerda para a direita): José Manuel Brejo, o autor deste bloguezinho, Hélder Brejo e João Paulo Brejo


sábado, 4 de fevereiro de 2012

Lapsus Linguae


Um simples engano numa vogal fez com que a minha fofa começasse a frequentar o ginásio, com algum entusiasmo. Em vez de Belinha... chamei-lhe Bolinha. Resultou.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Vocalidades 2012


O Coral de São Domingos, de Montemor-o-Novo, continua as comemorações do seu 25.º aniversário. Venha ter connosco!

sábado, 21 de janeiro de 2012

Umbiguismo


O Coral de São Domingos chegou aos 25 anos de existência. Em 1987 seria impensável projectar uma tal longevidade. Claro que tem tido apoios, e bastantes, de várias instituições públicas e privadas, e está profundamente grato por isso. Mas os apoios não bastariam, se não fosse uma qualidade muito especial que uma enorme quantidade de gente me tem oferecido durante todo este tempo, para dar corpo e voz ao Coral de São Domingos: GENEROSIDADE - muito mais importante do que uma voz do outro mundo ou um currículo de 50 páginas na área da música.

Como calculam, este coro, natural de Montemor-o-Novo, não foi, nem é, o resultado do trabalho de uma só pessoa. Longe disso. Tem sido, sempre, o resultado de um esforço conjunto de uma equipa, que se tem naturalmente alterado ao longo dos anos, mas que nunca mudou de rumo ou de objectivos. Este género de grupos (várias pessoas que fazem espectáculos dirigidas por uma pessoa) não teria pernas para andar se não fosse o empenho de todos, mas sobretudo a generosidade que, neste caso concreto, cada um põe no, aparentemente, simples facto de pertencer ao Coral de São Domingos.

Porquê? Porque os seus membros ensaiam desalmadamente durante a semana, às ordens de um tipo desrespeitador da opinião de cada um e que só descansa quando as peças estão como ele as imaginou. Porque, por vezes, e depois de a peça concluída, ela nem sequer sai a público, porque o tal tipo entende que não. Porque ouvem e aceitam as interpretações dessa pessoa, mesmo que lhes apeteça interpretar a peça de outra maneira. Porque não se importam de perder a sua individualidade artística em prol de um grupo, constantemente dependente desse tipo, que parece ter-se esquecido de que vivemos num país democrático, onde cada um devia cantar como entendesse. Porque não discutem as opções de reportório, não discutem as horas dos ensaios, não discutem as marcações dos concertos e das digressões. Porque é esse tipo que dá as entrevistas à comunicação social, que se passeia orgulhosamente pelos jornais, pela rádio e por outros meios de divulgação, tendo sempre o seu nome em destaque nos cartazes e nos programas. Porque, no início de cada concerto, esse tipo recebe aplausos só para ele. Porque no final de cada concerto, é esse tipo que recebe as flores, as palmas e os parabéns, primeiro do que toda a gente.

No entanto, depois de cada ensaio, depois de cada concerto, essas pessoas, ignorando tudo isso, continuam aptas para continuar a trabalhar com o mesmo vigor, como se fosse sempre a primeira vez, deixando frequentemente a família, os amigos e muitos compromissos pessoais para segundo plano, porque cantar num coral é um trabalho que não tem fim. (E quando não querem ficar longe da família, alguns trazem-na para o grupo, tornando-o ainda mais família.)

É a isto que eu chamo GENEROSIDADE. É isto que faz do Coral de São Domingos um grupo especial que, por vezes, em vez de receber cachet pelos espectáculos que dá, pelo prazer estético que proporciona aos outros, ainda paga para poder cantar. “Não é possível!”, dirão os meus 8 leitores. Pois acreditem que é, respondo eu. Mas isso é o menos.

E pronto. Hoje não me apetece escrever sobre mais coisa nenhuma. Pensem o que quiserem, mas hoje o Coral de São Domingos é o único tema que me motiva o gesto da escrita. Desculpem o umbiguismo. Prometo que só voltarei a escrever sobre o grupo quando fizermos 50 anos de vida…

domingo, 8 de janeiro de 2012

Já começaram as VOCALIDADES 2012

 

 A Abertura das comemoração dos 25 anos do Coral de São Domingos aconteceu no dia 7 de Janeiro, na Biblioteca do Convento de São Domingos. Convidados, cantores e amigos juntaram-se para felicitar o grupo e para ficar a saber um pouco da sua história. A oradora da sessão foi a musicóloga Beatriz Serrão. As Vocalidades 2012, apoiadas por várias entidades e instituições, vão continuar... até Dezembro!
O próximo evento é já no dia 14 de Janeiro ,na Igreja do Convento de São Domingos, pelas 18 horas - um Concerto com o Coral Sinfónico Lisboa Cantat. A entrada é livre.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Distraídos crónicos...


Contador de visitas

Contador de visitas
Hospedagem gratis Hospedagem gratis

Arquivo do blogue

Acerca de mim

A minha foto
Montemor-o-Novo, Alto Alentejo, Portugal
Powered By Blogger