Eu tive um sonho. Sonhei que, depois
de décadas de miséria, exploração, obscurantismo, prisões e guerras em África,
jamais voltaria a haver crianças com fome, bairros de lata, trabalhadores
explorados, desempregados, presos injustamente, serviços secretos e guerras
noutras áfricas. Sonhei que todas as crianças tivessem uma família que as
amasse e respeitasse e que todas as famílias dessas crianças tivessem dinheiro
para comprarem os livros escolares aos seus filhos e netos e que o Estado não
fizesse letra morta do que está instituído – um ensino livre e gratuito para
todos.
Eu tive um sonho. Sonhei que, no meu
país, todos os homens e mulheres seriam tratados de igual forma perante a lei e
que todos teriam de responder pelos seus actos, independentemente das suas
posses e influências.
Eu tive um sonho. Sonhei que o meu
país seria sempre conduzido por políticos responsáveis, sérios e dignos da
confiança de todos nós e que a Justiça fosse uma segurança e não uma ameaça.
Eu tive um sonho. Sonhei que, um
dia, os campos à volta de Vila Nova, outrora cenários de sofrimento e
exploração, se transformariam em espaços fecundos onde proprietários e
trabalhadores unidos trabalhavam a terra e a tornavam próspera, livre e prenhe
de vida. Sonhei que os comerciantes desta terra tivessem capacidade para viver
com dignidade dos seus negócios, apesar da implantação das grandes superfícies
comerciais e da fuga de clientes para o litoral.
Eu tive um sonho. Sonhei que, um
dia, todos os que procurassem emprego seriam aceites de forma justa e isenta, independentemente da
sua cor política, da origem familiar, da sua raça ou religião, ou mesmo do seu
passado, e que o seu carácter e capacidade fossem bens inalienáveis e os
primeiros requisitos a ter em linha de conta para o cumprimento das suas
funções.
Eu tive um sonho. Sonhei que um dia,
os anos de eleições autárquicas não seriam apenas tempo para inaugurações
apressadas, visitas às instituições de Vila Nova pelos vários partidos
políticos, com promessas que nem sempre são cumpridas, e operações de charme
com muitas fotos, sorrisos e abraços.
Sonhei que, um dia, os que governam
Vila Nova e o concelho acabariam, aos poucos, por largar as cores dos seus
partidos, de forma a servirem, completamente livres e em equipa, o povo que os
elegeu, de modo a salvaguardarem o bem-estar e a felicidade de todos
vilanovenses. Sem sentirem as pressões
dos compromissos partidários, das disciplinas de voto, dos segredos, das
vaidades pessoais, dos preconceitos e dos golpes palacianos.
Eu tive um sonho. Sonhei que os meus filhos e todos
os filhos da minha terra teriam a oportunidade de ter um futuro em Vila Nova, a
terra que os viu nascer e crescer, com empregos estáveis e duradouros, para
poderem fixar aqui a sua vida e a vida dos nossos netos. Sonhei, também, que
seria possível atrair empresas, indústrias, investidores para esta terra de
gente boa e estrategicamente localizada.
Eu tive um sonho. Sonhei que um dia
todos seríamos livres de expressar as nossas opiniões, independentemente da
hora e do momento, sem pressões nem medos, nem constrangimentos de qualquer
espécie. Sonhei, por fim, que as críticas construtivas seriam aceites de peito
aberto e utilizadas para melhorar, dia após dia, a dedicação de todos nós ao
bem público e a Vila Nova.
O sonho de Martin Luther King
continua por cumprir e ele pagou com a vida a sua ousadia. O meu continua vivo
e cheio de esperança.
Eu tive um sonho.
Eu tenho um sonho.
In "O Montemorense", Setembro de 2016
3 comentários:
Esse sonho será uma realidade quando o conceito do trabalho/capital estiverem unidos para a felicidade total de toda a humanidade independentemente de raças e credos. Até lá, só começando do ZERO pois a ganância é o apetite maior e tudo atropela.
Eles não sabem que o sonho...
Amigo João Luís,
o seu sonho é lindo, comovente e não pode nunca morrer; com humildade, deixe-me partilhá-lo, não só para mim como para os meus 4 netos; é uma felicidade eles puderem ler e reflectir e abraçar um texto cheio de humanidade.
Um abraço.
José de Matos Júnior
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