quarta-feira, 17 de maio de 2017

Portugal português





O actual sistema de ensino tem tentado levar alunos de 16 e 17 anos a ler alguns autores-chave da literatura portuguesa: Camões, Vieira, Garrett, Camilo, Pessoa, Eça, Saramago, Sttau Monteiro. O actual sistema de ensino quer que os alunos explorem as obras e os autores, de modo a ficarem preparados para os exames finais, onde os examinandos deverão espremer, em duas horas de intenso stress, o que conseguiram aprender desses escritores e das narrativas que os tornaram célebres.
O actual sistema de ensino não pode querer uma coisa impossível de querer. Para atingir esse desiderato da tutela, os alunos deveriam ser possuidores de profundos conhecimentos sobre a História, a Cultura (erudita e popular) a Política e a Religião do seu próprio país, porque foi este país que deu aos escritores em estudo o repositório de onde estes retiraram a matéria dos seus sonhos, para, depois, atirarem para o papel as suas melhores “invenções”.
E os alunos, pelo menos a grande maioria, reconhecem que lhes falta uma base cultural consistente para poderem dominar parte dos conceitos, das temáticas e de um sem-número de referências históricas explícitas, e não menos vezes implícitas, nos romances, nas peças de teatro e na poética desses porta-vozes da nossa vida e do nosso pensamento colectivo. Os estudantes do ensino secundário não devem olhar para um Eça, para um Pessoa ou para um Saramago como indivíduos distantes, estrangeiros e que só estão ali para lhes causar dores de cabeça. A eles e aos professores. Não. Esses e outros autores são tão portugueses como qualquer de nós e viveram no mesmo país que hoje procura, a todo o custo, conquistar uma nova perspectiva do Homem e do Mundo.
Assim, possuindo eles essas “ferramentas” estruturais, fortes e benfazejas, iriam tirar muito mais proveito das leituras que fazem, ou que fingem que fazem, e o próprio gesto de ler tornava-se, ele próprio, agora numa perspectiva de verdadeiros leitores com conhecimentos e pensamento crítico, num prazer maior, de verdadeiro diálogo transtemporal entre o aluno e o escritor.
E depois, não é só o Papa Francisco, o Salvador e o Éder que fazem vibrar multidões. Todos os autores dos programas de Português do Ensino Secundário foram uma pedra no sapato de alguém, uma pedrada no charco lamacento do sistema, seres humanos muito à frente do seu tempo.

João Luís Nabo, in "O Montemorense", Maio de 2017


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