Sócrates está acusado de 31 crimes. E atrás dele vem uma respeitosa fila de celebridades, que comeram ou deram a comer uns aos outros milhões de euros sem fim, enquanto o Zé Povinho continuava na sua labuta pela sobrevivência. Nomes sonantes da política e da finança, ex-governantes e ex-banqueiros, ex-directores gerais de várias empresas e organismos conseguiram, durante longos meses de passividade por parte dos órgãos que gerem a justiça neste país, levar o país à bancarrota, usando os cargos que ocupavam para corromper, subornar, untar, comprar e vender honras e promessas, influências e modos de vida. E, naturalmente, pois claro, para se encherem do belo guito.
Segundo notícias recentes, este processo, pela sua complexidade e pelos intervenientes, irá fazer história na sociedade portuguesa. Um pequeno mundo, acrescento eu, de pequenos mafiosos incompetentes. O verdadeiro criminoso, competente e profissional, jamais deixa pontas soltas. E nunca é apanhado. Sócrates dominou a situação enquanto manteve na mão os pontos-chave do poder e da finança. Quando essas pontas soltas começaram a abanar ao sabor da brisa jornalística, tudo começou a desmoronar-se.
Quatro anos depois, com as entranhas expostas e em sangue vivo, e com o que falta ainda desenterrar, a serem provadas as acusações que o vão levar a tribunal, Sócrates foi, afinal de contas, um amador que continua a fazer-se de vítima, como aquela virgem que se mostrou ofendida após ter passado umas férias de arromba em Ibiza. Para a próxima tem de ser menos vaidoso, mais discreto e confiar menos nos amiguinhos.
Don Corleone tê-lo-ia despachado em três tempos. Sem apelo nem agravo.
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