As alterações à lei que rege o sistema educativo
nacional têm sido tantas, que os professores até ficam zonzos com a catadupa de
informação que recebem dia sim, dia sim, com orientações superiores em formato
de Decretos-Leis, Portarias e má-na-sê-quê, para que cada vez menos alunos
fiquem retidos, ainda que não mostrem conhecimentos suficientes para transitar.
Segundo já se sopra na Assembleia da República, e com comentários de gente de,
alegadamente, reconhecido mérito, levar as crianças, deste o 1.º até ao 9.º
ano, sem reprovações, vai ser uma obrigatoriedade de todos os docentes, não
tendo tal questão importância de maior.
É aqui que começamos a perguntar se a lei, a ser
aplicada, não virá apenas legitimar aquilo que já vem acontecendo há meia-dúzia
de anos. Os professores que trabalham com alunos do ensino básico, do 1.º ao
9.º, procuram sempre rodear-se de profissionais, de acordo com a lei, que os
ajudem a ajudar os jovens que mostrem mais dificuldades na aquisição dos
conhecimentos e, sobretudo, na aquisição de… valores. Tentam, esses
professores, por todos os meios, conduzir os alunos ao sucesso e à permanente
integração no seu grupo-turma: trabalhos extra, apoios, tutorias, adaptações
curriculares, testes adaptados, apoio personalizado na sala de aula, entre
outras estratégias. A lei, que poderá estar a chegar, não vem mostrar nem
obrigar a nada de novo. Por isso, não entendo o bruaá que a “novidade” está a
causar.
Contudo, as consequências disto podem ser (já
estão a ser) menos positivas e, a longo prazo, o país irá sofrer as devidas
consequências. Para já, os alunos começam a chegar ao ensino secundário com
algumas lacunas, por vezes difíceis de colmatar, tanto em termos de
conhecimentos, como em termos de valores sociais. Por aquilo que vejo e sei,
por este andar, o mais certo é daqui a três anos sair uma lei que nos obrigue a
transitar toda a gente até ao décimo segundo ano, que passará, decerto, a ser
um ano sem exames ou, então, com exames de nível tão básico, que todos irão
para a universidade, sem problemas de maior e se houver capacidade financeira
dos pais para tal.
Mas esta última parte do desabafo é já assunto
para outro Cloreto. Isto, porque Portugal continua a ser um país a duas
velocidades, sobretudo quando pensamos em alguns alunos que por nós passaram e
que não seguiram estudos… porque não havia meios financeiros para tal. O que
foi pena.
João Luís Nabo
In "O Montemorense", Novembro de 2019
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