As coisas ficaram agora mais sérias. Muito mais sérias. Porque quando o Chefe do Governo, alegando boas intenções, sai de uma reunião do Conselho de Ministros com propostas de interromper a democracia em Portugal, então isto não está mesmo nada para brincadeiras. Quando Costa afirmou, com um sorriso maroto, que “não gostaria de ser autoritário”, fez-me lembrar Manuela Ferreira Leite, então triste líder do PSD, quando, em Novembro de 2008, afirmou que, para se fazerem reformas em Portugal, o melhor seria suspender primeiro a democracia, fazer as reformas e, depois, reactivá-la. Os socialistas de então gritaram “Aqui d’el Rei!” e iam crucificando a pobre senhora que só estava a querer ajudar o país, já a entrar, nessa altura, numa das suas maiores crises económicas e sociais de sempre depois do 25/4 (ninguém sabia que ainda viria o Covid).
Como é que vou reagir? Vou recusar-me claro. E, depois, fazem-me o quê? Prendem-me? Levam-me ao juiz? Passam-me uma multa? E eu? Pago a multa? E a minha tia Justina que tem 96 anos e tem um velho Nokia de 1989? Compra um telefone modernaço com que dinheiro? Com o dinheiro da reforma que lhe paga o Costa? Não, senhor Primeiro Ministro. O senhor, quando falou nestas coisas todas, não estava bem a pensar nas palavras que lhe traíram o pensamento. Ora passe lá as imagens para trás e diga-me o que vê: um Primeiro Ministro em pânico, que aliviou as medidas de restrição quando não devia, e que, prestes a perder o controlo de toda a situação (viu a triste entrevista de Marta Temido no dia seguinte?) ameaça suspender a democracia para que todos sejam obrigados a cumprir o que o Governo bem entende. Sei que é para travar a pandemia. Sei que é para não pôr Portugal em confinamento e assim arruinarmos o pouco que já temos. Sei disso tudo, porque as suas preocupações também são as minhas.
Contudo, se a apreensão é assim tanta, por que não impediu atempadamente os encontros de carácter político e religioso? Pensou que o cancelamento de concertos (milhares) e de eventos desportivos e sociais (outros milhares) teria sido suficiente para travar a pandemia? Por que abriu as praias? Por que mantém as escolas abertas, independentemente do número de infectados? Por que decidiu agora ser ditador e ainda por cima um mau ditador? Se fosse apenas a questão da aplicação Stayaway Covid, eu ainda tinha uma margem para o poder desculpar: é o stress, a angústia, a preocupação que não lhe permitiram que as ideias corressem de forma fluente.
Sem futuro? Isso julgava eu há poucos dias. Sem futuro? Pois, olhe, parece que não! E já agora, para a coisa ficar completa, o Ministério do Interior, perdão, da Administração Interna, deveria, em conjunto com o Ministério das Finanças, instituir um subsídio (dantes chama-se gratificação, porque era por baixo da mesa) para pagar a todos os denunciantes (dantes chamavam-se bufos) que apontem o dedo ao próximo, para os lambe botas, para os bajuladores, para os nojentos que queiram ganhar alguns trocos e uma ou outra regalia junto do Poder, a denunciar o vizinho ou o amigo que não tem aplicação ou que testou positivo mas não avisou a Dra. Gracinha.
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