Pedro e
António. Personagens
históricas? Ainda não. Muito tempo há-de passar até que a
História se debruce de forma objectiva sobre eles e faça uma
releitura dos seus actos e das suas omissões. Se Pedro e António
afirmam categórica e indesmentivelmente que sabem governar Portugal,
sabemos que isso não passa de uma cantiga já com barbas, que todos
os políticos mais ambiciosos cantam até lhes doer a voz. Não sei
se Pedro foi um governante exemplar. Sei aquilo que vejo e ouço,
aquilo que não vejo e não ouço. Com a política de aumento de
impostos e a diminuição de rendimentos para o Estado tapar os
roubos que os de colarinho branco fizeram, parte da população do
nosso país entrou no limiar da pobreza. E veio tudo em catarata: o
encerramento de fábricas e restaurantes, a falência do pequeno
comércio, o desemprego, a emigração de mentes e braços de
qualidade mas desprezados.
A Ditadura do
outro António era visível e impressionante. A de hoje remete-nos
para um silêncio envergonhado porque só quem tem dinheiro pode ser
livre de falar. Por isso, não sei se Pedro, se António, se outro
qualquer tem capacidade, talento e generosidade para nos devolver a
confiança perdida, para nos mostrar que Portugal ainda é possível,
tanto para nós como para os nossos filhos e netos a quem deixámos,
involuntariamente, uma herança armadilhada, um abismo que os vai
começar a sugar logo que decidam “fazer pela vida”.
O erro que se
vai repetir em breve é o mesmo de sempre: é o de permitir esta
eterna alternância, entre o laranja e o rosa (com uns laivos de
azul), este agora-tu-agora-eu-depois-tu-depois-eu que tem,
comprovadamente, levado os portugueses a uma existência pouco digna.
In "O Montemorense", 20 de Maio, 2015
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