terça-feira, 22 de setembro de 2015

E agora...?

         

           Há temas incontornáveis. Os dos refugiados de guerra domina a actualidade e o pensamento dos cidadãos de toda a Europa. Os portugueses não serão excepção e encontram-se divididos em dois grupos distintos que, dificilmente, encontrarão consenso. De um lado, os que defendem o apoio humanitário aos que fogem da guerra, da fome, da tortura e que procuram na Europa uma vida estável e digna. Do outro, os que gostariam, antes de mais, de ver apoiados os portugueses que ficaram sem emprego, os que têm fome, os doentes, os maltratados pelo nosso sistema político e financeiro, os que perderam a casa, a família e que dormem nas ruas, sem saberem como vai ser o dia de amanhã.
Julgo que ambas as perspectivas têm razão de ser. A ajuda aos protagonistas da maior crise humanitária desde a Segunda Guerra, na lista de prioridades do governo português, tem em conta a necessidade urgente de protecção e de integração dos que procuram asilo. E essa integração não terá, naturalmente, só a ver com um abraço amigo de conforto. Há que criar alojamentos, postos de trabalho, espaço nas escolas para as crianças, espaço nas comunidades para as famílias. Portugal foi sempre um país hospitaleiro, talvez por ser uma nação de onde partiram, e continuam a partir, emigrantes sem alternativa a não ser procurar melhores dias noutros países. E é este o ponto de colisão entre as duas posições. Se há gente a partir por não haver empregos, como poderão os refugiados ser integrados no mercado de trabalho? Se vão ser dados alojamento a diversas famílias prestes a chegar a Portugal (casa, água, luz, gás...) por que não fazer o mesmo às centenas de famílias que, sem emprego, vivem no limiar da pobreza, num desespero permanente e sem perspectivas de futuro? Se vai haver dinheiro para ajudar as crianças e os jovens em idade escolar, por que não se dá um maior apoio às famílias carenciadas que não têm dinheiro para comprar um lápis ou uma caneta? Por que não alargar o âmbito de apoio nas escolas e outras instituições a todas as crianças portadoras de deficiência?
          O ideal seria dar cobertura a todas as situações: às nossas e às dos outros. E sei que, se a vontade política fosse outra, era isso que acontecia. Mas a questão está longe de ficar arrumada. Vamos, em breve, ser postos à prova sobre alguns dos nossos sentimentos mais escondidos. E vamos ficar a conhecer melhor de que ser humano é que somos feitos.



In "O Montemorense", Setembro de 2015

Distraídos crónicos...


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